15.2.08

O ERRO

A Gradiva enviou-me um convite para um "debate" em torno do tema - que é também título de um livro de uma especialista em saúde mental - "porque nos apaixonamos pelas pessoas erradas". Podia ter como subtítulo "as relações unilaterais". Há pessoas que passam a vida em relações unilaterais e nunca aprendem. Só se apercebem de uma quando passam à seguinte, depois de repararem na parede que esteve sempre ali à frente delas. Não há, pois, "pessoas erradas". Uma relação unilateral é estar apaixonado por uma parede. E esse é que é o erro.

6 comentários:

Anónimo disse...

Ou ainda pode ser ...
Não é erro, nem existem relações unilaterais.
Há paredes no meio do percurso que não estão em road map algum.
E estampamo-nos à saída de uma curva em aceleração máxima.
Ou seja é um acidente.
Mas não é erro.

joshua disse...

Realmente ninguém é errado para ninguém. Devocionam-se e objectualizam-se erradamente pessoas. Há que aprender.

PALAVROSSAVRVS REX

Anónimo disse...

Aqueles por quem nós nos apaixonamos são certíssimos do ponto de vista mental, dos nossos processos, do modo como vemos o outro. Parecem-nos erradas porque sofremos, só isso.
De resto, a unilateralidade é intrínseca à paixão, antítese do amor fraterno. A paixão, a verdadeira, é, antes que tudo, violência, não uma amizade voluptuosa e muito menos uma troca de ideias. Mas só muito depois nos apercebemos que andámos o tempo todo a falar sozinhos, em monólogos de uma dolorosa futilidade. Nas pessoas normais, a paixão é o que mais próximo há da loucura. Autismo, delírio, labilidade, narcisismo...

Aladdin Sane disse...

Cito Carson McCullers, em "A balada do café triste":

"Em primeiro lugar, [o amor] é uma experiência a dois, mas isso não quer dizer que seja a mesma coisa para cada um. Há o que ama e o que é amado, e estes dois eram diferentes como o dia da noite. Muitas vezes o amado é apenas um estímulo para todo o amor acumulado, durante muito tempo e até àquele momento, pelo amante. De algum modo, cada amante sabe que é assim. Sente no seu íntimo que o seu amor é solitário. Depois, conhece uma nova e estranha solidão, que o faz sofrer ainda mais. De maneira que só lhe resta fazer uma coisa. Deve abrigar dentro de si, o melhor que puder, esse amor; deve criar um mundo só seu, intenso e único.

(e, alguns parágrafos adiante)

Portanto, o valor e qualidade do amor é decidido apenas pelo próprio amante. É por esta razão que muitos preferem amar a ser amados. Quase toda a gente quer ser o amante. E a verdade nua e crua é esta: no íntimo, o facto de ser amado é intolerável para muita gente. O amado teme e odeia o amante, e pela melhor das razões. O amante quer sempre mais intensamente ao seu amado, ainda que isso lhe cause somente dor."

Anónimo disse...

Excelentes,os textos das 11.33 e das 12.00. Para aliteratar um pouco mais,já repararam que todo o enorme Proust trata dos amores e das paixões impossiveis pelas pessoas erradas (erradas precisamente para aquelas pessoas,claro)?

T disse...

E ao menos as paredes não falam...
A mim preocupa-me, porque é que cada vez mais me apetece menos apaixonar-me.