8.8.07

PODÍAMOS SER NÓS

Onde Gore Vidal diz USA, ponha-se "Portugal" e não se nota grandes diferenças.

3 comentários:

Anónimo disse...

Difícil de "captar" o anglo-americano. Paciência ...

Semenfias disse...

E nem tudo o que ostenta, faz alarido, parece, é.
Às vezes o ruído, o "bater de pratos", a indignação, correspondem ao desejo de esconder, de abafar - com muito, muito barulho - algo de absolutamente inaceitável.

Anónimo disse...

ora aqui está um artigo que é a radiografia do que este governo está a fazer ao país, ... , e quem o ouve uma vez por mês na Assembleia da R., parece que nós é que não estamos gratos!... Já chega de nos atirarem areia para os olhos!
E onde está o Min. das Obras Públicas para responder pelo que está a acontecer com o Terminal 2?
Não sabiam há muito, que isto iria acontecer?...:

DIÁRIO de NOTÍCIAS
09.08.2007
O TERMINAL 2
Maria José Nogueira Pinto
"Férias significa sempre partir. De carro, de comboio, de avião, como seja, malas aviadas. Dantes, para destinos óbvios, como a "terra" e a praia de família; hoje, para destinos tão exóticos como acessíveis, numa sábia combinação entre o aguçar do nosso imaginário, palmeiras e águas azuis, e a bolsa de cada um, créditos e pagamentos suaves.

Por isso posso dizer que o meu início de férias, leia-se fazer a mala e partir, nesta modalidade tão cansativa quanto irracional de férias repartidas, ocorreu na passada sexta-feira no Terminal 2 do Aeroporto Internacional de Lisboa, com destino ao Funchal, uma pequena viagem marcada quando a meteorologia do Continente ameaçava pregar partidas sucessivas.

O Terminal 2, julgo que uma recente obra do nosso aeroporto, é um enorme barracão, feio, mal ventilado, sem os cómodos mínimos a que este tipo de infra-estrutura obriga, e onde se amontoavam magotes de viajantes e pilhas de malas e sacos, fazendo filas frente aos balcões do check-in, tão longas que davam voltas sobre si mesmas, de tal modo que o passageiro da fila dois ficava enrodilhado na fila três e assim sucessivamente. Neste espaço caótico e hostil, para além de se proceder à gestão dos atrasos das partidas, delayed é um leitmotiv, procedia-se também à gestão do famoso overbooking. Tudo designações catitas para realidades incompreensíveis.

Porque o delayed configura, apenas, uma situação de desleixo acumulado e o overbooking é pura e simplesmente uma fraude, já que se trata de vender duas vezes o mesmo bilhete. Só que, como é hábito, os responsáveis estão invisíveis, inatingíveis, são chamados por walky-talkies, os seus nomes apenas sussurrados pelos infelizes funcionários dos front-desks, os quais, à beira de um ataque de nervos, se superam (como o eficiente funcionário que me atendeu) ou se desnorteiam em função da respectiva idiossincrasia, já que, naquele estado de caos oficial, nenhuma formação específica lhes é dada. Como é hábito em Portugal, recomenda-se paciência, atitudes conformadas, como se fôssemos pedintes e não clientes, como se a TAP, a ANA e a Ground Force não existissem por e para nos prestar serviços, a nós que pagamos bilhetes, taxas de aeroporto para além de pesados impostos.

Na T-shirt de um homem novo com um bebé ao colo lia-se "existo logo exausto". Nada tão verdadeiro! Uma jovem mãe francesa, olhando com fúria o seu malcomportado rebento de quatro ou cinco anos, vociferava: "Tu est minable, tu sais! Minaaable!" Mas verdadeiramente minable era tudo aquilo.

Com muito atraso, muita fome e desconforto, lá chegámos à Madeira. Registo aqui três importantes motivos de regozijo, para além, claro, da beleza natural que é mérito mais de Deus que do homem: a limpeza do espaço público, a total ausência de graffiti, a amabilidade genuína de todos os que trabalham na hotelaria, na restauração, no comércio, nos museus, para os quais o cliente não é um inimigo e uma grande afluência de clientes não é uma desgraça. Em todo o lado - do Hotel Miramar ao Choupana Hill - é pedido ao cliente que se manifeste sobre a qualidade do serviço, através de inquéritos que, apercebemo- -nos, são mesmo para levar a sério.

No regresso, repetiram-se os atrasos e o aspecto do aeroporto da Portela (internacional, convém não esquecer) era aflitivo: o chão sujo de líquidos suspeitos, papéis, beatas, casas de banho nojentas. Carrinhos, nem vê-los, e a bagagem demorou mais de meia hora a chegar à passadeira.

Escrevo, porque transporto uma angústia e uma dúvida partilhada por muitos portugueses: a angústia de darmos, na nossa primeira sala de visitas, uma imagem tão degradante e injusta de Portugal; a dúvida de, sendo o turismo tão relevante, vivendo estas empresas à custa dos seus clientes, sabendo-se que o Verão é uma época alta, como justificar que este tão desejado e previsível aumento da procura gere um caos consentido e assumido pelos responsáveis?

Não sei se é necessário um aeroporto novo. Mas sei que seria desejável uma TAP nova, uma ANA nova e uma Ground Force nova. Mais barato e mais urgente."