13.2.07

O MAIS PEQUENO GRÃO


Na abertura de um seminário sobre "direito natural", Joseph Ratzinger explicou, uma vez mais, que nenhuma lei terrena pode contrariar a do Criador. Não excomungou ninguém, nem chorou sobre o leite derramado. O Papa não ignora que, dia após dia - e desde há séculos - a lei e vontade "terrenas" não têm feito outra coisa senão "contrariar" a lei e a mensagem do Criador. Aliás, haverá porventura maior contrariedade do que a própria Cruz? Milhões de católicos por esse mundo fora não deixam de sentir profundamente o mistério, a fé e o sacrifício do Filho do Homem e, no entanto, "pecam", naquele incontornável sentido que a Igreja, a Bíblia e os seus Doutores sempre ensinaram. Não é por causa do "progresso" ou da regulação da vida privada ou pública que a Igreja, nos seus fundamentos e como lugar de referência, se diminui. Pelo contrário. O Papa Bento XVI - homem moderno que os filisteus ignorantes se recusam a ver como tal - sabe perfeitamente em que mundo vive. Como Jesus, o seu Reino não é exactamente o "deste" mundo, mas o Papa está nele, conhece-o melhor do que ninguém e não abdica de defender, como lhe compete, o mais pequeno "grão". E não abdicar, nos dias que correm, é um sinal permanente de esperança contra o fracasso.

8 comentários:

Anónimo disse...

caro João Gonçalves

Sendo um recente leitor deste espaço não queria deixar de o felicitar pelo seu blog – e também por este post – que foge à vulgaridade usual e denota uma saudável independência face ao cunho propagandista deste regime.

Bekx (JGG) disse...

"One must think like a hero to behave like a merely decent human being." May Sarton

Parece-me adequado...

Anónimo disse...

O que nos faz então consentir no afundamento pela legitimação da cidade ?

JP disse...

para o anonymus: o que???

Anónimo disse...

para jp :

Talvez assim, pedindo emprestado, me explique e faça perceber melhor :

«(...)Pedir ao voto que se pronuncie sobre a existência ou inexistência de Deus, sobre o interesse ou desinteresse da preservação da independência nacional, sobre a verdade, o bem, o belo ou a justiça - ou seja, pedir ao voto qualificação em questões metafísicas, teológicas, filosóficas e estéticas - surge-nos tão absurdo como pretender pedir a um teólogo, a um filósofo ou a um criador consulta sobre pesos e medidas, taxas de juro, câmbio e regulamentos rodoviários. Esta confusão de planos encontra eco na sociedade de consumo, sem passado nem futuro, em que as ideias deixaram de ser entendidas como radicais e absolutas na sua universalidade partilhada, mas como matéria de discussão no mercado da opinião(...)».

Anónimo disse...

Anonymous,

Gostava de ler o texto completo. Pode colocar o link ou informar de onde o retirou?
Obrigada

Anónimo disse...

Só agora, e hoje, reparei no seu pedido :
O texto completo é da autoria de Miguel Castelo Branco que o escreveu no seu "Blog" «Combustões» :
http://combustoes.blogspot.com/

O texto completo é este :

«Chegou ao fim a luta em que tantos se envolveram ao longo de meses. A derrota do Não decorre de determinantes estruturais claramente identificáveis, de circunstâncias epocais facilmente elencáveis, bem como de responsabilidades bem evidentes no plano táctico.

Abstendo-me de quaisquer comentários a respeito do primeiro e segundo níveis, não posso deixar de me espantar pela gritante incompatibilidade entre uma certa ideia de civilização fundada nos direitos humanos e a ausência de princípios pelas quais essa dignidade e esses direitos supostamente intrínsecos se podem preservar na ordem política. Na esfera da cidadania não cabe, decididamente, outra positivização que a da política entendida como espaço de liberdade, opinião e confronto entre programas de diversa índole, mas expressão do mesmo substracto a que se chama civilização.

Perdendo-se a unidade invisível, perdendo-se os fundamentos sobre os quais repousa a unidade civilizacional, transfere-se para as circunstâncias, os estados de alma e os caprichos a essência de uma civilização. Não cabe à pólis decidir, votar, banir ou assimilar aquilo que está antes e acima da sociologia. A pólis não pode, pois, exprimir-se em matérias cuja relação com os homens e com a comunidade são condição para que os seres humanos sejam homens e para que a comunidade seja uma sociedade, uma nação, um Estado.

Pedir ao voto que se pronuncie sobre a existência ou inexistência de Deus, sobre o interesse ou desinteresse da preservação da independência nacional, sobre a verdade, o bem, o belo ou a justiça - ou seja, pedir ao voto qualificação em questões metafísicas, teológicas, filosóficas e estéticas - surge-nos tão absurdo como pretender pedir a um teólogo, a um filósofo ou um criador consulta sobre pesos e medidas, taxas de juro, câmbio e regulamentos rodoviários. Esta confusão de planos encontra eco na sociedade de consumo, sem passado nem futuro, em que as ideias deixaram de ser entendidas como radicais e absolutas na sua universalidade partilhada, mas como matéria de discussão no mercado da opinião.

Contentando-me inverter a hierarquia das coisas, localizo nos comportamentos atitudes denunciantes de quantos, sabendo tudo isso, se remeteram ao silêncio colaborante, à transigência e à neutralidade. Refiro-me, evidentemente, à postura da Igreja portuguesa, tão pujante e opinativa noutras questões, aqui tão caladinha, quase envergonhada. Refiro-me, também, ao PSD e ao seu líder, cuja inqualificável cobardia será decerto aplaudida como carta de alforria para outras questões filosóficas que venham a ser colocadas ao povo-rei.

Posto falarmos de biologia e bio-ética - um assunto em que o homem da rua é, como se sabe, perito encartado - não seria desinteressante submeter ao povo-rei outras questões do foro académico».

Anónimo disse...

Obrigada, Anonymous.