20.7.05

O PUSILÂNIME

Salvo erro, por ocasião das eleições legislativas de 1991, Freitas do Amaral deu uma preciosa entrevista ao Expresso. Era, de novo, líder do CDS e prometia "equidistância" face ao PS e ao PSD. Sabe-se o que aconteceu. Cavaco repetiu a maioria absoluta e Freitas viu o seu partido reduzido a uns reles quatro por cento. Anos volvidos, depois do deserto e de outras humilhações, Freitas, ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, dá nova entrevista. Trata-se - não sei se ele se apercebeu disso - de uma nova humilhação. Mais patética - por causa da idade e da "experiência" - mas na mesma linha pusilânime que é a sua maior característica. Por ser quem é, trata-se de uma caso (grave) de pusilanimidade de Estado. Freitas sonha em ser o candidato presidencial das esquerdas, já que não pode ser o das direitas. Isso impele-o a dizer as baboseiras mais extravagantes em nome dessa sublime ambição. Por outro lado, como nunca sabe bem qual é o seu lugar em lado nenhum, "adoça" a boca de Sócrates e do PS com uma convesa sonsa e paternalista sobre "comunicação" e "impostos", manifestando-se muito "solidário" com tudo e todos. Imagino a alegria que deve reinar no Rato com estes "conselhos". Freitas foi MNE noutra encarnação, quando não havia União Europeia, e é quase como um bimbo poliglota que manifesta as suas posições em matéria externa. A parte tragico-cómica da entrevista é, porém, a que concerne às presidenciais. Como o melhor representante da "ala soarista" do governo, Freitas pronuncia-se como se fosse Mário Soares a falar. O novo "frentismo/freitismo", contra o chamado "salvador" da "direita", tem nesta entrevista miserável o seu acmê ideológico. Não é por acaso que, ontem, a pretexto dos trinta anos da manifestação da Alameda, Soares meteu esse "passado" na gaveta, e lembrou - jamais inocentemente - que agora o que é preciso é lutar contra o "perigo" de "sentido contrário". Não sei se os "ideológos" do PS já deram por isso, mas este género de contributos só serve para baralhar ainda mais as contradições do partido em torno das presidenciais. E não ajuda nada ao desempenho, desde já bastante atribulado, do governo. Freitas do Amaral não me surpreende. Da mesma forma que aqui o defendi quando apoiou o PS em Fevereiro - contra os ataques idiotas da "direita" a que ele cerebralmente nunca deixou de pertencer -, logo ali avisei acerca da sua irresistível atracção pela pusilanimidade política. Ele chama-lhe "centrismo", coitado, e há quem , por caridade ou oportunismo, finja que acredita. É o caso do dr. Soares que jamais brinca em serviço. Depois deste episódio grotesco, só posso aconselhar o Prof. Cavaco Silva a permanecer em silêncio até ao momento extremo em que já não haja mais circo deste para oferecer aos distraídos. E, depois, sim, que apareça. E nos "salve" definitivamente "disto".

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