26.7.05

VOLTAR AO ESSENCIAL

Ainda nada de verdadeiramente palpável se passou, e já José Sócrates está refém do seu mais remoto antecessor no cargo de secretário-geral do PS. Eu explico. O primeiro-ministro, depois da maçada com Campos e Cunha e do episódio Freitas do Amaral, "apareceu" com uma imagem diferente daquela com que ganhou o partido, primeiro, e, depois, o país. Pressentiu-se ali - algo que, aliás, vinha de trás e era indiciado por sinais inconsistentes da governação - algum amadorismo, disfarçado pelo estatuto arrogante da "esquerda moderna", qualquer coisa de improvável e de imaterial que nem o seu autor consegue definir muito bem. Não convinha consequentemente deixar alastrar por muito mais tempo esta "impressão" negativa. Sem intervir directamente, Soares interveio realmente. O nevoeiro "presidencial" que caiu subitamente sobre a accão governativa - como se a famosa "agenda" socrática de há apenas uns dias tivesse desaparecido de cima da mesa por magia -, veio mesmo a calhar. Só que o nevoeiro esconde o mais hábil coveiro da "esquerda moderna", o "vingador" das humilhações a que estiveram sujeitos o jacobinismo partidário e a "esquerda" - a que não é "moderna"- nos últimos tempos. Quando Sócrates deu por isso, já Soares estava confortavelmente sentado sobre a sua "modernidade" puramente retórica. Daqui para a frente sabe-se quem manda. Sucede que as condições alarmantes do funcionamento geral da pátria, "aligeiradas" nestes últimos dias à conta do "folclore" presidencial, não mudaram. Suspeito mesmo que se agravaram. A emergência de Soares não resolve nenhum problema ao governo e, por tabela, ao país. Pelo contrário, "alivia" politicamente o governo na resolução dos problemas imediatos. Basta-lhe fingir que está a "resolver". Convém, por isso, regressarmos ao ponto exacto em que o anterior ministro das Finanças abandonou o governo e estarmos atentos ao essencial. E o essencial não é o nevoeiro nem quem, por vaidade ou tentação, vem lá dentro.

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