28.7.05

EMBARCAÇÕES PRESIDENCIAIS - 2

Eu e José Medeiros Ferreira, voltamos, afinal, a estar de acordo. Apreciamos a "passagem" de Heródoto pelas páginas de "O Doente Inglês", esse estranho e belo livro que aproxima as principais personagens da magnífica história de abandono, deserto e morte de Michael Ondaatje. Continuamos ambos "reformadores" e mantemos os dois - indemne - o "espiríto livre". Precisamente por causa destas duas últimas coincidências é que nos separamos nas "presidenciais". Não me preocupa minimamente o "destino" da "esquerda em geral" que, naturalmente, extravasa as fronteiras minimalistas dos partidos que a compôem. O meu Amigo, aliás, é um bom exemplo de alguém que, respeitando o papel da organização partidária na vida pública democrática, bem sabe que não é ali que esta se esgota. Da mesma maneira que não me maço com as venturas da "direita em geral". O próximo presidente da República deve estar acima desta "topografia política" demasiado primária. A questão está em saber qual é o "lado" que, nas presentes circunstâncias, mais "equilibra" e qual é o "lado" que mais "desequilibra". A maioria absoluta do Partido Socialista, numa altura em que simultaneamente as outras "esquerdas" cresceram, não foi conquistada pelo "lado esquerdo". Um presidente que "some" as "esquerdas em geral", desequilibra. Um presidente que "junte" o contributo para a solução maioritária de Executivo, encontrada em Fevereiro, com as expectativas legítimas de representatividade institucional do "centro-esquerda" e das "direitas", equilibra. De um lado, um potencial "desestabilizador". Do outro, um verdadeiro "moderador". E é precisamente por eu ser um espiríto livre, meu caro Amigo, que não cedo à chantagem reverencial que se prepara para acolher Mário Soares como o tal "salvador da pátria" de que tanto se falou e que, afinal, era outro.

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