17.6.05

NOVENTA DIAS

Passaram três meses sobre a entrada em funções deste governo. Apesar de tudo, existe a noção de que perpassa pela mente do primeiro-ministro e de alguns governantes que é preciso – finalmente, diria eu – fazer o que tem de ser feito. Na Educação, por exemplo, onde os sindicatos tentam a todo o custo que se mantenha um sorvedouro inexplicável de dinheiros públicos. Na Saúde, onde é fácil dar lastro ao perfume de ambiguidade entre o público e o privado, sempre pago pelo primeiro. Na Agricultura, onde tudo indica que existe um esforço sério para dinamizar uma estrutura estranhamente pesada e, em muitos aspectos, anquilosada. Há, porém, casos em que surgem muitas interrogações. Nas Obras Públicas, sempre politicamente tentadoras, parece que há uma clara vertigem no sentido de “dar passos maiores do que a perna”. E na Economia, já percebemos que um bom técnico raramente faz a mínima ideia do que seja exercer um lugar político. Não é que não pairem por ali excelentes ideias sobre a "economia". No entanto, não estou seguro que essas ideias "entrem" nesta "economia" ou que esta "economia" esteja em condições de absorver essas ideias. Por cima de tudo isto, estão inevitavelmente as Finanças. O Plano apresentado pelo seu titular e as “medidas” que o desenvolvem vão inevitavelmente suscitar alguma acrimónia. O velório financeiro geral, solicitado uma vez mais à pátria, precisa de uma boa sustentação política para se “aguentar”. Ninguém está para se maçar ou ser maçado. Qualquer deriva imprevista, qualquer precipitado amadorismo ou qualquer opacidade “técnica” podem deitar tudo a perder. Pedro Silva Pereira, apesar do seu esforçado mimetismo “socrático”, não “comunica” bem. António Costa, o melhor “político” do governo, tem aparecido precocemente crispado por questões de “lana caprina”. Acontece que o governo não pode estar permanentemente a contar com Jorge Coelho, o seu “batedor” de serviço, para lhe sinalizar o caminho ou para barrar percursos menos avisados. O anúncio “torrencial” de medidas também não ajuda nada. Tem sido igualmente Coelho quem tem evitado o pior, mesmo que à conta de um voluntarismo excessivo. Em suma, e para que as nossas “contas” e as de José Sócrates não se baralhem, não basta fazer “o que deve ser feito”. É preciso também fazer bem feito. (continua)

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