10.7.04

SAMPAIO OU O TRIUNFO DA INSIGNIFICÂNCIA

Há políticos que se agigantam com as dificuldades e as crises. Os "grandes políticos" distinguem-se pela oportunidade solitária dos seus gestos, pela determinação com que ultrapassam os obstáculos e pela convicção que depositam no seu verbo e na sua acção. Em democracia, esses homens "crescem" normalmente dos partidos para o País. Foi assim com Mário Soares, entre nós, ou com Mitterrand ou Kohl, na França e na Alemanha. São homens, como dizia Mitterrand, que acreditavam nos grandes gestos simbólicos. A política, para além de representar a tentativa permanente e contraditória da solução dos problemas de pessoas concretas que vivem em sociedade, também é um acto humano carregado de significado, ou não. Esgueirando-se por entre a chuva, aproveitando as brechas deixadas ou criadas por outros, Jorge Sampaio afirmou-se na política nacional mais como um "cidadão vulgar" com sorte do que propriamente como um homem capaz de grandes rasgos e de rupturas indispensáveis. Ao contrário dos "grandes políticos", Sampaio prefere o anonimato, a linearidade e a insignificância. Só se sente verdadeiramente ele próprio quando se diminui e se apouca amavelmente perante as "circunstâncias ocorrentes". À visão larga das coisas, prefere sempre o temor reverencial da forma. Quando um dia se fizer a crónica do seu mandato presidencial, ontem terminado, não se saberá que história haverá para contar.

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