10.4.11

LITERATICE, GOSSIPS & DRINKS

António Guerreiro, um homem que perpetra no suplemento Actual do Expresso, tem uma página ou outra por sua conta no livro ali ao cimo, à direita. Não pelos melhores motivos, confesso. Mas Guerreiro, de uma penada, conseguiu "ler" uma das piores deflexões de Eduardo Pitta. Não a socrática, quase sempre ao altíssimo nível de um Lello, de uma Edite. ou de um César. Nem tão pouco a exibicionista-fracturante, invariavelmente decalcada dessa progressista com tendências trolhas que é F. Câncio (no masculino e em pseudo-direita, com equivalente em Marques Lopes). Não. O que Guerreiro agarra bem é o misto disto, deste recente deslumbramento por estes ditos "in" em petit comité, com uma queda infeliz para o literato foleiro, nas "guerreiras" palavras, de «grande clown da comédia litteraria - misto de Pierrot e Arlequim», de «rei da irrisão involuntária.» Porquê? Porque o homem (o pretexto, desta vez, foi o "Festival Literário da Madeira") demonstra como ninguém do "meio" (talvez mais do proto-meio) como «as proezas funambulescas do escritor se dissipam numa apoteose gastronómica.» Passo a citar. «Quando ele chega, uma glória fácil espalha a sua luz e converte tudo em luxo, degustação e volúpia. Ou, nas palavras do artista,"gossips & drinks". Não fosse ele poeta, não fosse a sua exuberância de clown admirada pelos seus pares como um equivalente alegórico do acto poético e aplaudida como um feito da mais genial bouffonerie (é ele que fala da "versão madeirense de "la Grande bouffe") e ninguém lhe perdoaria a licenciosidade com que transforma um festival literário num piquenicão para "happy few" (utilizando uma expressão que lhe é cara). A um festival, mesmo literário, não se pede ascetismo. Mas, para o seu prestígio, não convém a pantomima de um Arlequim que descreve como "grande bouffe" o que os seus anfitriões apresentam como pura substância espiritual.» Pitta, no fundo, apreciaria que Sócrates partilhasse consigo, e com meia dúzia de "happy few", uns carapauzinhos de escabeche em Matosinhos, seguidos de tripas e de dois arrotos patrióticos do Lello. Sempre era (outra expressão que lhe é cara) "oficial".

10 comentários:

Ana Cristina Leonardo disse...

essa coisa da madeira...
resumindo muito à pressa: não há medíocres inocentes

Carlos Dias Nunes disse...

Elsa Castafiore vestida de chita a imitar cetim.

Anónimo disse...

Outro que você deixou de fora do seu livro: o Pitta. Com o Viegas, já são duas lacunas que me fizeram adiar a compra dele. Pense nisso para a 2.ª edição, malhe nestas eminências (amigos seus ou não) e conquiste um leitor e comprador.

joshua disse...

«Compreendi-te», como dizia uma das personagens do Vasco.

joshua disse...

Mucívoro este Guerreiro, meu caro.

João Gonçalves disse...

anónimo 2º... veja o índice para perceber que o Pitta está lá dentro. Se conseguir ler. O conteúdo do livro é da minha responsabilidade, como calcula.

fado alexandrino. disse...

Parabéns.
A Glória, uma coisinha sobre o seu livro nesse mesmo Actual.
Não o li, problemas com o ECOFIN, e julgo que em tempos afirmou que não havia literatura feminina e/ou masculina.
Pois a realidade, penso eu de que desmente-o.

João Gonçalves disse...

qual "glória", fado? Costuma ser melhor do que isto.

fado alexandrino. disse...

Desculpe, expliquei-me mal.
A Glória de vir no Expresso, não é para todos.
E este apontamento e o outro também nao eram depreciativos.

João Gonçalves disse...

Mas mesmo assim não é glória nenhuma, muito menos com G grande. Abraço.