Um senhor do "diário da manhã", Céu e Silva, está na Sic-Notícias a "ler" os jornais. Imaginam, naturalmente, a leitura que ele está a fazer. Este mail de um leitor devidamente identificado faz outra leitura disto tudo. Porventura a correcta.
«Isto é tudo muito complicado. Acho que o PR não pode dizer tudo o que sabe sobre vigilância, só fala no fundo do que tinha vindo a público. Depois, ele está sob uma barreira de fogo das Constanças das televisões, porque ele é um elo fraco (paradoxalmente, sendo PR), pois não tem uma central de comunicação, não tem organizações políticas por trás, não tem assessores -- como o governo -- para pressionar e ralhar por dá cá aquela palha aos jornalistas que mijam fora do penico. Deste modo, admiro o PR por, em vez de encolher os ombros e deixar a caravana absolutista passar, fazer-lhe frente, mesmo que isso lhe custe, eventualmente, a reeleição.»
6 comentários:
Vou tentar fazer uma descrição abreviada dos factos que estão por detrás desta situação, abstendo-me de fazer os comentários e as questões que se me colocam.
1. Cavaco, após o caso dos Açores e da sua misteriosa comunicação ao país, perde a confiança no governo e deixa cair a ideia de cooperação estratégica.
MAT
2. Em Abril de 2008, o homem de confiança do Presidente, e segundo o e-mail a mando do Presidente, marca um encontro com um jornalista do jornal Público e “planta” uma notícia de suspeição de vigilância do governo à presidência, entregando um dossier sobre um assessor do 1ºministro e montando uma história de vigilância de forma consubstanciar as tais suspeitas.
3. A 23 de Abril de 2008, o jornalista do Público em contacta outro jornalista que está na Madeira, pede-lhe que investigue a situação e, segundo o e-mail, chega a conclusão que a história não tem fundamento.
4. Em princípios de Agosto de 2009, surgem notícias, na comunicação social, que assessores de Belém colaboram com a elaboração do programa do PSD e alguns deputados do Partido Socialista pedem esclarecimentos a Belém.
5. O Presidente fica incomodado com estas notícias e não percebe como vem a público essa participação dos assessores no programa do PSD e permite que através das suas fontes anónimas que se volte ao assunto das suspeitas de vigilância.
6. A 18 de Agosto de 2009, sai uma notícia no Jornal Público que a Presidência suspeita que está a ser vigiada pelo governo.
7. O Presidente não desmente a notícia e permite que o caso seja alimentado e aproveitado politicamente pelo PSD e pelo tema da asfixia democrática.
8. O Público, no dia a seguir, faz uma notícia com as suspeitas que tinham sido levantadas pelo homem de confiança do Presidente quanto ao tal assessor na viajem à Madeira e que o próprio Público já tinha confirmado serem infundadas.
9. Em plena campanha eleitoral, Francisco Louça acusa que Fernando Lima, o tala homem da confiança de Cavaco, está por detrás das notícias das suspeitas,
10. O Provedor do Público escreve que o jornal Público deu, no caso das suspeitas de vigilância, notícias infundadas e põe em causa as fontes que os jornalistas invocam.
11. Um e-mail interno do Público é publicado no Diário de Notícias onde é revelado os pormenores de como, há 17 meses atrás, Fernando Lima tentou “plantar” uma notícia de suspeitas de vigilância à Presidência.
12. O Director do Público acusa o SIS de interceptarem correspondência interna do seu jornal.
13. O Presidente recusa comentar o e-mail exposto no Diário de Notícias, mas dá a entender que há problemas de segurança.
14. Manuela Ferreira Leite usa as palavras do Director do Público e consubstancia a ideia de asfixia democrática com as suspeitas de escutas que o SIS faz aos jornais.
15. Na mesma noite, o director do Público, confrontado com os resultados públicos de uma auditoria interna aos sistemas informáticos, informa que o e-mail não foi interceptado por fontes externas e nega o envolvimento do SIS.
16. O provedor do Público escreve novamente e insinua que o jornal Público tem uma agenda oculta para prejudicar o governo e beneficiar o PSD.
17. Um deputado do PS, com base no desmentido do próprio director do Público, exige um pedido de desculpas de alguns dirigentes do PSD que insinuaram que o SIS estava a mando do governo a fazer escutas à comunicação social.
18. Cavaco Silva afasta Fernando Lima da assessoria para a comunicação social.
19. Cavaco fala ao país e diz que nunca teve suspeitas de escutas e que Fernando Lima não fala pelo seu nome e que tudo o que se passou não foi mais do que uma manipulação do Partido Socialista para colar o Presidente ao PSD.
20. Pela voz de Silva Pereira, o governo e o PS, desmentem ponto por ponto as acusações de manipulação do Presidente da República e sugere que o mal tem de ser resolvido pela raiz.
Tire as suas próprias conclusões… com honestidade intelectual.
Bela redacção. Cuidada. Em que "escola" é que a passam?
Cavaco Silva, bem ao contrário do que pensam os calculistas travestidos de estrategas da nossa política, mostrou ontem uma enorme coragem e, sobretudo, quis dizer a todos os que sabem ouvir bem para lá do ouvido médio, que quem se mete com o PS nada tem a recear, porque não leva, apesar de todos os rafeiros que, a seguir à sua comunicação, lhe morderam incessante e raivosamente as canelas. O espectáculo dos canídeos socialistas promete continuar, mas agora em forma de estertor. They live.
Que lindo... o PS já tem uma cronologia oficial e tudo!
Estou totalmente de acordo com o comentário, João. Queriam – exigiam! – que o PR falasse? Pois ele falou. E falou, não para se explicar com clareza, mas para dar um claríssimo puxão de orelhas aos que, nas fileiras do poder e na conivente comunicação social, tudo têm feito para «elevar» a nossa vida política (sobretudo desde a vitória do PSD nas europeias) a níveis de hipocrisia, tortuosidade e manipulação nunca antes vistos – porque os meios são agora mais sofisticados e o PM particularmente despótico e mau perdedor. Não votei neste PR, mas gostei que tenha denunciado desassombradamente algumas das muitas indignidades da campanha socialista. E adorei ver a reacção ofendida da generalidade dos «media».
Sinceramente, não me parece que o Prof. Cavaco Silva, que é um homem honrado, tenha qualquer interesse na reeleição como PR.
Se estivesse a pensar nisso, procederia no caso como teriam procedido as duas nódoas que o antecederam na Presidência da República.
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