23.9.09

GESTOS QUE NOS ENVERGONHAM


O governo que pretende fazer "avançar" Portugal" exigiu que o nosso embaixador na UNESCO votasse num primata egípcio para director-geral da dita organização. O nosso embaixador recusou o gesto e o governo mandou que avançasse o "número dois" para poder votar como a dupla Sócrates-Amado desejava. Acabou, felizmente, por ganhar uma pessoa civilizada. Os três portugueses envolvidos são todos do PS. Com uma diferença fundamental. Manuel Maria Carrilho demonstrou que ainda há formas de vida inteligente e livre dentro daquilo em que se transformou o PS (o país?) às mãos destes perigosos desalmados sem mundo. E é justamente de políticos como Carrilho que o PS precisará quando forem devolvidos à irrelevância da qual nunca deviam ter saído. Não é de Soares nem de Alegre, essas pobres relíquias agora transformadas em dois patéticos idiotas úteis como se não bastassem os de serviço. Gestos como os do MNE e de Sócrates também estão em escrutínio do próximo domingo. Gestos que, no mínimo, nos envergonham.
Adenda: Pedem-me para retirar o termo primata. Respondo com Bernard Henri-Lévy.

14 comentários:

Anónimo disse...

Se você diz "primata egípcio", deveremos nós chamar-lhe, a si, "cavalgadura portuguesa"?

Manuel Brás disse...

Bofetada (...) na hipocrisia socrática:

São políticas rosadas
por terras de fantasias,
de ideias arrevesadas
repletas de hipocrisias.

Tem sido mau demais
para poder ser verdade,
tantas políticas anormais
espessas de publicidade.

A leveza insustentável
de políticas ignorantes,
torna-se insuportável
pelos efeitos delirantes!

Nuno Nasoni disse...

Cá está um "caso" que não interessa nada à comunicação social!

Mani Pulite disse...

O apoio ao fundamentalista egípcio reflecte já também a nova aliança com o Bloco,cujas proveitosas ligações aos islamitas são conhecidas.Donde vem o financiamento real do Bloco?Quem paga a luxuosa campanha?Um verdadeiro Bloco de cimento,pesado e opaco, é aquilo com que iremos apanhar na cabeça no dia 27.9 se não nos precavermos a tempo.Uma versão actualizada : "quem se mete com o PS,leva com o Bloco na cabeça!"

zé sequeira disse...

Não tem a ver com o "post" mas o "post" também tem a ver com isto:

A TSF não se cala com as "escutas", com a parvoíce do Costa e com um gajo com a voz de cana rachada a perorar com coisas de 1928, do tempo do Ministério de Vicente de Freitas. Os homogeneizados da plateia riem e apupam as palavras do Doutor Salazar; Preferem talvez a política de "falsidade". Faça-lhes bom proveito. Quanto à TSF, somos obrigados a compreender, é necessário portarem-se bem: A vida custa a todos e os anunciozitos da EMEL fazem muita falta.

Anónimo disse...

Parece que o egípcio não é tão primata como isso,e até tem tomado posições anti-fundamentalistas,embora carregue com o peso da inconcebivel frase sobre a incineração dos livros hebraicos ne Biblioteca de Alexandria. Claro que a primeira estupidez é egipcia, em ter indicado o homem,apesar do conjunto do currículo,como candidato para estas funções.Mas tambem há quem pense que outros incineradores de livros,quadros e até pessoas cuja raça não lhes agradava,eram afinal gente muito culta e frequentável,mas isso são outras contas de outros rosários...ou talvez não. De qualquer modo,a razão para o nosso apoio ao egípcio não era nenhuma súbita fúria anti-cultural ou anti-humanistica,mas apenas uma comezinha mas usual troca de garantias de votos para assegurar o apoio árabe para a eleições do Conselho de Segurança,em que somos candidatos. Não será muito bonito nem virginal,mas todos em política externa fazem destes cozinhados nem sempre de sublime perfume...

AAA disse...

Não concordo. O Carrilho ocupa aquele cargo como diplomata e deve respeitar as orientações do MNE. SE não concorda com elas deve vir-se embora.
Tinha a sua piada que, a partir de agora, um embaixador passasse a representar-se a ele próprio e não ao país que o coloca lá.

Manuel Brás disse...

Adenda:

Foi ruidosa a bofetada
por razões evidentes,
para gente disparatada
de valores decadentes.

Um gesto de dignidade
justificado pela razão,
com tanta anormalidade
misturada com ilusão.

Anónimo disse...

Em complemento do que escrevi às 10.59 e em resposta ao AAA das 11.58, um esclarecimento tão breve quanto possivel para um assunto complicado. M.M. Carrilho não está no Conselho Executivo da UNESCO enquanto representante de Portugal,mas bàsicamente a título pessoal,como todos os membros do Conselho,eleitos pela Conferência Geral(e não Assembleia Geral) da Organização,de onde emana a sua legitimidade. Resumindo,é Embaixador junto da UNESCO,e aí efectivamente terá de seguir as instruções do seu governo,como todos os Embaixadores,mas não junto dum orgão específico com características particulares. Ãssim a sua posição é compreensivel e aceitável. Esta situação faz recordar o que sucedeu com Maria de Lurdes Pintasilgo após a tomada de posse do Governo de Sá Carneiro,que a impediu de reassumir as suas funções de Embaixadora na Unesco,para o que tinha toda a legitimidade,mas igualmente a impediu de voltar ao seu lugar do Conselho Executivo,para o que já não tinha qualquer razão. A questão acabou por ser dirimida,como agora,com a designação de um substituto. Isto talvez não interesse a muita gente,e está algo simplificado,mas é conveniente que se saiba.

Blogue de Júlio de Magalhães disse...

IMPÕEM-SE ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE ESTE POST:

Faruq Hosny não é propriamente um primata no sentido em que a palavra foi aqui utilizada.

Pelo contrário, é um homem muito civilizado, pintor de reconhecidos méritos, que exerce desde 1987 o cargo de ministro da Cultura do Egipto.

Deve-se-lhe o grande desenvolvimento da actividade da nova Ópera do Cairo, construída após o incêndio do anterior edifício, mandado erguer por Ismaïl Pacha, a reconstrução e reabertura da Ópera de Alexandria (o Teatro Sayyed Darwich), a criação da Companhia de Bailado (clássico e moderno) da Ópera do Cairo, a criação da Orquestra Nacional, a reabilitação do imenso património do Velho Cairo (desde os Fatimidas), a construção (em curso) do novo Museu Egípcio (para substituir o anterior muito degradado) junto às pirâmides de Gizeh, a criação do novo Museu da Civilização (construção em curso), o apoio às pesquisas sempre em curso relativamente ao Egipto Faraónico, o apoio precioso às actividades da Biblioteca de Alexandria, etc., etc.

Tem assumido posições muito heterodoxas na sociedade egípcia, nomeadamente quando criticou o uso do véu nas mulheres, que considerou coisa retrógrada, o que lhe valeu as críticas mais acerbas dos sectores islamistas.

Proferiu mais recentemente algumas declarações polémicas relativamente aos livros israelitas (não judeus) que desejaria ver queimados nas bibliotecas egípcias. Foram declarações infelizes (não conheço nem o texto nem o contexto em que foram proferidas), pois é condenável tudo o que aluda à queima de livros, sejam eles quais forem.

Acontece que Faruq Hosny é homossexual, condição que é do conhecimento público em todo o Egipto. Por isso, os sectores fundamentalistas não perdem ocasião de o criticar e de pedir a sua demissão. São inúmeras e sistemáticas as referências à sua orientação sexual na imprensa egípcia, umas veladas, outras claras e só a protecção do presidente Mubaraq (e de sua mulher Suzanne)o tem segurado no lugar.

Admito, assim, que por vezes possa emitir alguns juízos menos serenos na tentativa de dar satisfação aos seus mais ferozes inimigos. Consta-me, aliás, que se retratou das infelizes declarações que proferiu.

Confesso que também não percebo a posição de Carrilho. Em primeiro lugar as votações para estes lugares são decisão governamental e não compete ao embaixador ter estados de alma. Depois, sendo Carrilho um homem inteligente, ou quis fazer um número, ou então ignora quem é Faruq Hosny, o que não me causa admiração, já que a cultura de Carrilho se alicerça fundamentalmente na Herança Ocidental.

Gostaria que o autor do post corrigisse a designação que atribuiu a uma figura tão estimável e que tanto tem contribuído para a elevação do nível cultural dos egípcios e para a salvaguarda do património egípcio e mundial.

Anónimo disse...

1) Presumo que "Do Médio Oriente" não tenha lido o meu comentário das 2.47. Se ao embaixador" não compete ter estados de alma", o que até é discutível,mas deve debatê-los com o seu Ministério,e seguir finalmente as instruções,o membro do Conselho Executivo enquanto tal pode e deve ter "estados de alma" no sentido nobre da expressão. E se esses "estados" se afastarem crucialmente da orientação do Governo,tem sempre soluções como a que aqui foi usada,e não pela 1ª vez.
2) M.M. Carrilho,tanto quanto sei,está efectivamente integrado na "Herança Ocidental",aparentemente mencionada como se se tratasse de algo limitativo. Se há Herança aberta ao Mundo,a todas as correntes e variedades,é precisamente a Herança Ocidental. Ainda bem que Carrilho nela está integrado,e por lá se conserve.

ana laura disse...

A este leitor recomendo o livro de Samurl Kramer, A Históia começa na Suméria. Adiante. Carrilho está em Paris em bandeja de prata, dependente do MNE. Se não concorda com a sua política denuncie e feche a porta. O lugar de embaixador, que entretanto já perdeu estatuto em Portugal é hoje um prémio político e não, uma carreira. Mas a vaidade de Carrilho impede-o de agir verticalmente. Já vi e, penso que muita gente também, embaixadores a sério defenderem o indefensável, no entanto é esse o seu papel imbuido de retórica. E o governo mandou um substituto para a votação........

Carlos Botelho disse...

Realmente, 'primata' não é um termo adequado. Pelo menos, eu, como primata, sinto-me mal acompanhado.
'Símio'.

Blogue de Júlio de Magalhães disse...

Agradeço ao autor do blogue a adenda ao seu post. Mas ela não altera o meu pedido.

Bernard Henri-Lévy é um judeu francês, ao serviço da propaganda sionista do Estado de Israel, que se tornou notado, há décadas, por fazer parte do grupo chamado dos "nouveaux philosophes". As suas posições alinham-se hoje pelos grupos israelitas mais radicais, com abundantes provas, sendo a última a polémica que manteve na imprensa francesa sobre a questão israelo-palestiniana, atacando o director do "Nouvel Observateur", Jean Daniel, aliás como ele também judeu, mas independente nas suas convicções, tal como outro judeu defensor da causa palestiniana, Daniel Barenboim.

Além disso, Bernard-Henri Lévy mente quando afirma que Faruq Hosny censurou o filme "The Yacoubian Building". Eu vi o filme no Cairo (passou em vários cinemas, em alguns com legendas em inglês, e sempre com lotações esgotadas) e a versão era a mesma que a que existe editada em dvd. A proibição do filme foi de facto pedida no Parlamento egípcio, em sessão tumultuosa, pelos deputados independentes eleitos pela Irmandade Muçulmana, mas Hosny manteve a autorização de exibição.

Termino dizendo que não é fácil ser ministro da Cultura no Egipto, como obviamente se compreenderá, para mais nestes tempos de radicalismo islâmico. Não pretendo que Faruq Hosny seja perfeito mas creio que a sua presença há duas décadas no governo muito tem contribuído para impedir a instalação de um controlo cultural absoluto por parte dos fundamentalistas. Aliás, a exibição de "The Yacoubian Building", filme proibido na maior parte dos países árabes e que tem por cenário o próprio Cairo e os seus habitantes, é a melhor prova do que afirmo.