2.5.09

ARTISTAS DE CIRCO -2

1. «Mário Crespo andou um tempão a servir a agenda do governo no seu programa Jornal das 9. A cadeira dos convidados parecia a cadeira do poder, de tanto que nela se sentaram os ministros Silva Pereira e Santos Silva. No auge desta opção editorial, o jornalista afirmou em entrevista ao Semanário Económico (15.01.09) que nas próximas eleições “provavelmente” votará (ou votaria) Sócrates; e noutra entrevista, ao CM (12.01.09), disse que “provavelmente” irá (ou iria) em breve para Washington por grandes temporadas (por coincidência, foi anunciado esta semana pelo Diário da República que o próximo conselheiro de imprensa em Washington será Carneiro Jacinto, ligado ao PS). Entretanto, a linha editorial de Crespo mudou, e de que maneira, quer no seu programa, quer nos seus artigos de opinião no Jornal de Notícias. Passou a criticar abertamente o poder PS; os ministros políticos do governo já não aquecem a cadeira do Jornal das 9. Crespo não explicou a sua radical mudança editorial entre Janeiro e Março, explicação que seria não só normal como desejável. Mudar de opinião não é crime, nem para um lado nem para o outro, mas 180 graus é muita mudança.»
2.« Todos os conteúdos têm forma e, por isso, a encenação das notícias é um dos temas que merece atenção dos estudos televisivos: cenários, adereços, linguagem não verbal... A entrevista do primeiro-ministro à RTP1 repetiu um elemento adicional que os canais costumam acrescentar-lhe: notícias sobre ela antes e depois da entrevista — e entrevistas adicionais ao próprio entrevistado. Quanto a estas, o resultado é comédia bufa, com muitas entradas e saídas: para dar ênfase à encenação em torno do próprio evento, anuncia-se a entrevista, depois anuncia-se a chegada do entrevistado ao edifício, depois mostra-se a chegada, e depois um jornalista entrevista no presente (em directo) o entrevistado futuro, mas sem que essa primeira entrevista seja “a” entrevista; essa entrevista prévia é sobre a outra, a que se vai seguir; e, no final, entrevista-se uma terceira vez o entrevistado para saber o que pensou da própria entrevista que acabou de dar. No Telejornal que antecedeu a entrevista a Sócrates por Judite Sousa e J.A. Carvalho, houve três itens a propósito: dois directos e uma autopromoção, num total de cinco minutos e meio. No primeiro directo, a jornalista Luísa Bastos ia bláblázando no estúdio enquanto a imagem mostrava o aparato técnico (cabos, luzes, o “fora de cena” da entrevista autêntica) para acentuar o lado espectacular da encenação do programa; no segundo directo, Luísa Bastos, afinal a entrevistadora da primeira e da terceira entrevistas a Sócrates, em vez de fazer o papel habitual que se lhe atribui nesta peça de teatro, optou por não se limitar a perguntar-lhe se estava preparado, etc., mas fez-lhe perguntas que deveriam ser apenas da segunda entrevista, “a “autêntica”. Perguntou a Sócrates que comentários fazia a estatísticas económicas, ao que o primeiro-ministro respondeu: “Parece que já começou a entrevista”. De facto, era como se tivesse começado, mas a entrevistadora negou: “Não, não começou”. E a seguir, quando Sócrates estava a responder a essa mesma pergunta, interrompeu-o dizendo: “Terá oportunidade de apresentar esse argumento”. Isto é, perguntou o que competia à entrevista seguinte, mas não deixou responder até ao fim porque isso competia à entrevista seguinte. No final da segunda entrevista, a mesma Luísa Bastos entrevistou Sócrates, em directo para a RTPN, à saída do estúdio, perguntando-lhe como tinha corrido a entrevista (não a primeira, que ela própria tinha feito, mas a segunda). Tudo isto é absurdo e qualquer semelhança com jornalismo é duvidosa.»


Eduardo Cintra Torres, Público

Nota: Relativamente a Mário Crespo, só posso lamentar que o cargo de conselheiro de imprensa em Washington vá parar às mãos de uma criatura como Carneiro Jacinto. Mais do que se indignar, Crespo não se deve é admirar. Há muita gente "ligada ao PS" que podia perfeitamente discorrer sobre a extraordinária figura de Jacinto. De Jacinto, o jornalista, a Jacinto o assessor de imprensa de Mário Soares entre São Bento e Belém. Talvez um dia alguém "ligado ao PS" lhe apeteça contar a história da inopinada saída de Jacinto de Belém para outras prebendas porventura mais confortáveis e discretas. Jacinto sabe muito mas há quem saiba muito sobre Jacinto. E entre ele e Mário Crespo existem, malgré tout, diferenças abissais de carácter. Por isso talvez honre mais a Crespo ficar por cá. Boa noite e boa sorte.

4 comentários:

Anónimo disse...

E andámos nós a gastar tanto dinheiro em submarinos...

Anónimo disse...

Da última vez que dei por Jacinto parece-me que era porta-voz dos mne de Durão Barroso, ou não?

É o que se chama Bloco Central, independentemente do que Cintra Torres parece não saber.

Carlos Pinto disse...

Esse Jacinto andou a tentar ser o próximo candidato do PS à Câmara de Silves, mas a estrutura "chucha" algarvia, sabendo o que a casa gasta, deu-lhe com os pés.
Para o compensar, a central socretina lisboeta dos tachos deu-lhe agora esse em Washington, na sequência de outras "assessorias" em que o analfabeto tem vindo a especializar-se (a última foi com o Freitas do Amaral).
Há videirinhos "chuchas", como esse Carneiro, que guardam segredos prontos a usar na altura oportuna... Uma verdadeira Mafia que capturou o país.

Anónimo disse...

Será que foi revelado o segredo da "iluminação" repentina do Crespo? Bem me parecia que tinha ocorrido algo estranho. Mas como não me movo nesses meandros fico na completa ignorância. Pensei que o tipo se tinha finalmente enojado com revelações que não são do conhecimento público sobre "a fripór" ou a famigerada "licenciatura".

Afinal, parece que não, é simplesmente um caso de ciúmes... Que pena.

PC