4.12.05

DESTE LADO

"Reconheço que vim incomodar sua excelência [Cavaco Silva] no passeio triunfal para a Presidência da República". Com esta frase singular, alguém que ocupou, com prestígio e sentido de Estado- pelo menos durante o primeiro mandato - o cargo de PR, desfez quaisquer veleidades de que alimenta um projecto sério para o país. Nos intervalos em que não está a falar para si próprio, Mário Soares entusiasma-se e mostra ao que vem. É uma sombra infeliz do candidato galvanizador e moderado de 1986. No seu estonteante radicalismo, Soares entrou na fase de atirar qualquer barro à parede para ver se cola. Parece, "pela finura da artilharia", como se escreve no Minha Rica Casinha, o Santana Lopes desta campanha. Gritou para dentro dos apoios partidários de Cavaco para ver se alguém lhe prestava atenção e se, comovido ou indignado, se "revoltava" contra a independência da candidatura, coisa bem diferente de o candidato ser neutro, asséptico ou um "recurso" difícil de explicar. Acontece que, deste lado, parece que toda a gente sabe o que quer, sem dramas caseiros ou angústias protagonistas. Cavaco não precisa de andar todos os dias, numa roda viva, a tentar "unir" a "família" ou a ter de dizer mal de parte dela para que a "base" não lhe fuja. Deste lado, as questões psicanalíticas estão, graças a Deus, muito bem resolvidas. Todos querem ajudar Cavaco a ser o próximo presidente de todos os portugueses e não um mero cata-vento partidário.

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