31.8.05

A ENTRONIZAÇÃO

Se descontarmos a parte em que Soares delicadamente lembrou a Sócrates que, em matéria de consolidação orçamental e financeira, o melhor mesmo é ele estar quietinho, a "declaração solene" da recandidatura não passou de um enorme bocejo. Soares percorreu todas as trivialidades e lugares-comuns que qualquer pessoa de boa-fé subscreve quando pensa na parte "ornamental" do PR. Falou do que "aprendeu" nestes últimos dez anos, cortejou os "jovens" e auto-elogiou-se em matéria de idade. A sua "ideia de e para Portugal", como ele gosta de sublinhar, não aquece nem arrefece ninguém. Soares exibiu-se para um país que vive manifestamente uma realidade bem diferente da tranquilidade colorida exibida pelo candidato. Ou então - o que é mais sério para ele - Soares recusa-se a deixar que a realidade entre na sua simpática e divertida cabeça. Em suma, esta entronização doméstica não passou do tal "ponto de chegada" a que aludi ontem. De qualquer forma, e uma vez mais, bem-vindo, Dr. Soares!



Adenda: Valia a pena M. Soares ter escutado o que Miguel Sousa Tavares disse na TVI sobre a sua prestação. Eu, que há vinte anos estive, com gosto e empenho, na cerimónia equivalente no Altis, não reconheci o mesmo protagonista. Mudaram-se efectivamente os tempos e as vontades. Não existem repetições "felizes".

A VANGUARDA

Vital Moreira ainda acredita no papel das "vanguardas". O argumento verdadeiramente reaccionário da "inigualável capacidade de atracção [de Mário Soares] no campo da cultura, das artes, da literatura, da ciência, do trabalho", utilizado para tentar menorizar Cavaco Silva, apenas popular, aos seus olhos, no meio de "empresários e gestores", advém seguramente da leitura atenta que deve ter efectuado, anos a fio, do livrinho de Cunhal, "A superioridade moral dos comunistas". Há (maus) hábitos que nunca se perdem.

LER OS OUTROS

"Por isso vos disse, há anos, e agora repito: basta! Nem política partidária, nem exercício de cargos políticos. Basta!" Mário Soares no "discurso de agradecimento proferido no jantar que lhe ofereceram os seus Amigos [eu também lá estava], por ocasião dos 80 anos, em 7 de Dezembro de 2004", página 10. Bastava?

30.8.05

UMA ALEGRE CHATICE -2

Na sua ditirâmbica mensagem, Manuel Alegre conseguiu dizer três coisas importantes. Primeiro, que a recandidatura de Soares não é saudável para a República. Em segundo lugar, que não apoia uma recandidatura "monárquica". E em terceiro lugar, que não acredita no sucesso dessa recandidatura "anti-republicana". Foi um belo primeiro momento verdadeiramente político do último dos românticos da "política". As bochechas irritadas de Mário Soares descaíram seguramente um pouco. Só por isso valeu a pena.


Adenda: Alegre "confirmou" - como se fosse preciso - o "acordo" de Soares com o PC e o BE para a sua recandidatura "unitária". Jerónimo de Sousa e o "mono" do BE cumprirão metodicamente o "acordo" até ao último instante. Na hora certa, o "salvador" do "regime" - não necessariamente da Pátria - ficará sozinho em palco para esconjurar o diabo. É por estas e por outras que somos muito mais "tropicais" do que nos imaginamos na nossa subtileza "europeia" e "progressista".

LER...

... na Grande Loja, "nem é a primeira vez...".

UM PONTO DE CHEGADA

José Medeiros Ferreira, um dos mais qualificados apoiantes da recandidatura de Soares a um terceiro mandato presidencial, explica-se em relação ao que chama "o novo Mário Soares". Fala da história - a dele, com e contra Soares - e do "percurso" do corajoso fundador do regime democrático. "É um novo Mário Soares que temos pela frente", escreve, confiante, M. Ferreira. Sem querer, o autor pôs o dedo na ferida. Não tenho a certeza que o país aprove tão entusiasticamente e com tanto optimismo este "novo" Soares. Verdadeiramente não é uma "nova ideia para Portugal" - algo construído ao longo dos anos do exílio e das primícias da democracia, algo que mobilizou determinantemente o eleitorado "moderado" e "realista" em 1986 contra a "esquerda" folclórica e ressabiada e a direita "mal resolvida" - que move este "novo" Soares. Soares gosta tanto do social-democrata mal amanhado que é José Sócrates como eu gosto de beterraba. Não suporta a ideia de ver este homem, que ele suspeita ser mais ou menos feito de "plasticina política", a liderar a sua preciosa "esquerda". Não é esse o legado com que sonhou nos últimos anos. E a respeitabilidade que entretanto sedimentou à esquerda da sua própria "esquerda", pesa e muito. Finalmente, existe Cavaco, o inimigo de estimação. A mera admissibilidade de "tolerância" daquele por parte de Sócrates, é impensável para Soares. Manuel Alegre nunca contou nas lúbricas considerações do "fundador". Se há coisa em que Soares não se distingue particularmente é pela "delicadeza" política. A sua bonomia pára instantaneamente à porta dos seus interesses, esteja lá quem estiver. "Não se transformou porém num extremista, antes revelou-se, nestes últimos anos, como alguém capaz de antever o novo a nascer", conclui M. Ferreira. Eu também não aprovo o epíteto de "extremista" que por vezes é insinuado em relação a Soares. Porém, não sei a que "novo a nascer" se refere M. Ferreira. Ao "novo" Soares preferirei sempre o "velho". Porque, neste momento, a sua candidatura representa apenas o último avatar do "regime" e um gesto paternalista de apoio a um partido e a um governo embaraçados. Nada disto perfaz "uma ideia para Portugal", muito menos o ridículo "perigo" da direita. A recandidatura de Soares é apenas um ponto de chegada. Não é manifestamente um ponto de partida e, muito menos, um ponto de partida para "o novo a nascer".

29.8.05

IDEALISTA

"We honor heroes because at one point or another, we all dream of being rescued. Of course, if the right hero doesn’t come along, sometimes we just have to rescue ourselves."

LER...

... este excelente "Detector de Spin", do Paulo Gorjão, sobre o ministro das Finanças. Há dias, mesmo no meio da miséria reinante em matéria financeira, Teixeira dos Santos anunciou uma "equipa técnica" conjunta do seu ministério com o de Mário Lino para "avançar" com os maravilhosos projectos da OTA e do TGV. Ao menos T. dos Santos não esconde ao que vem e por que veio. E já agora, por outras razões, ler igualmente este "mistério" na Grande Loja. Eu não disse que ele anda " bater-se" ao lugar do Vasco Graça Moura do PS, descontados os dotes do tradutor exímio?

UMA ALEGRE CHATICE

Eu acho que ainda conheço menos mal os "bastidores" do "soarismo". Se bem que os meus amigos "soaristas" se tenham prudentemente afastado, eu pressinto-lhes perfeitamente as manhas. Ontem, no Diário de Notícias, Carlos Ventura Martins, actual director-geral das publicações de Jacques Rodrigues e ex-assessor de Soares em Belém, veio "bater" em Manuel Alegre e, de caminho, em Cavaco. É um bom sinal, vindo de quem vem, já que eu leio o seu texto como um produto "colectivo". A "presença" da proto-candidatura de Alegre até, pelo menos, às autárquicas, "chateia" o dr. Soares. Lembra todos os dias à opinião pública as pequenas traições "familiares" e os pequenos equívocos entre "amigos". Até Cavaco aparecer, Soares está vagamente prisioneiro desta doméstica e irritante "pedra no sapato" que ele gostaria de ver rapidamente removida, de preferência, já na quarta-feira de "consagração" universal. E, de facto, não vai ver. Toda a verborreia utilizada pelo meu amigo Ventura Martins é perfeitamente esclarecedora do "pensamento" de Soares sobre o assunto. No mesmo sentido anda Vital Moreira, que também já intuiu a Alegre "chatice". Quanto a Cavaco, já estamos habituados à retórica da soberba "democrática" e da "superioridade moral", política e "cultural" de Soares e dos seus epígonos sobre o "plebeu" Cavaco. Habituados, e, convenhamos, fartos.

28.8.05

COMÉDIA OU TRAGÉDIA?

Foi dado grande destaque ao "apoio" que três esquecíveis criaturas, aparentemente sem nenhuma "afinidade" entre si, deram, sob a forma escrita, à candidatura do dr. Mário Soares a Belém. Carlos Antunes, ex-"brigadista revolucionário" e o mais próximo que se consegue arranjar em português do "terrorista caviar", Fernando Condesso, uma emanação de província do PPD, em tempos um dos seus múltiplos dirigentes e Eurico de Figueiredo, um "heterodoxo" lírico do PS, juntaram umas linhas encomiásticas da aventura soarista e mandaram-nas para a Fundação do próprio. Já aqui escrevi que a última coisa de que Soares precisa, nesta fase da vida, é do patético. Creio que, só por manifesta maldade, é que os jornais enfatizaram este "apoio". Voltamos à velha história da "história" quando ela se repete. Será comédia ou será tragédia?

UM PAÍS DE MERDA....

... "retratado" no El Pais: " as ilusões devastadas de Portugal".

REALISTA

"It's like my grandmother always said. An erect penis doesn't have a conscience."

DESESPERADOS

"Each night before we fall asleep we lie to ourselves in a desperate, desperate hope that, come morning, it will all be true."

27.8.05

A FICÇÃO

É confrangedor, e digo isto para não ser indelicado, ver confirmadas pelo próprio as piores expectativas em relação à "autoridade nacional de combate aos incêndios florestais". De facto, o General Ferreira do Amaral, numa curtíssima entrevista ao Expresso, explica delicadamente a função ornamental da sua "autoridade". "Eu estou aqui para dar apoio moral", para "sensibilizar" e para "motivar", diz candidamente o General. Pelo meio, confessa que não tem nenhuma "estrutura" ou "meios" que ultrapassem um patamar meramente risível. Pelos vistos, o General só serve para "aparecer" e para dar umas pancadinhas nas costas aos comandantes de bombeiros e a estes, correndo, mesmo assim, o risco de se tornar num estorvo. O Estado, cujo crédito anda pelas ruas da amargura nesta matéria, permite e alimenta esta estranha ficção à qual nós apenas assistimos, impotentes e pagantes?

A MÃO ESQUERDA DE DEUS- 3

"Venho dar-lhe os parabéns pelo seu post "A Mão Esquerda de Deus - 2". Tenho seguido muito atentamente e com geral concordância aquilo que tem escrito sobre o momento político em Portugal, nomeadamente as presidenciais. (...) Sobretudo porque vem de alguém que, penso, partilhou a gloriosa aventura de apoiar o Dr. Soares em 1985 no tempo dos míseros 8%. Ainda que então muito jovem, lembro com orgulho o esforço então desenvolvido para"normalizar" o regime democrático, superando a tutela militar e derrotando as tendências estalinistas, revanchistas de direita e terceiro-mundistas (...). Trata-se agora, mais uma vez, de tentar voltar a "normalizar" o regime depois destes anos de despautério político (iniciados no consulado guterrista e continuados alegremente nos últimos anos). Primeiro provando que se pode eleger um Presidente não-socialista (o que já assume quase uma limitação dos direitos democráticos - certa gente fala como se esta hipótese fosse um crime lesa-democracia) Em segundo, eleger um Presidente que consiga assegurar parâmetros de acção e estabilidade governativas que incentivem as reformas de que o país precisa e que possa devolver a esperança aos portugueses. No actual cenário, esse Presidente só pode ser o Prof. Cavaco Silva."
(Nuno P.)

26.8.05

O REGRESSO...

LER...

...no Margens de Erro, "Presidenciais".

A MÃO ESQUERDA DE DEUS -2

Quando vi o título - "reunir todas as forças" - julguei que se tratava de mais um post da azougada Ana Gomes. Acontece que, de um homem aparentemente lúcido e academicamente creditado como Vital Moreira, eu francamente não esperava estes três míseros parágrafos. Vê-se que o professor não desperdiçou uma linha do que aprendeu na vulgata da Soeiro Pereira Gomes até aos anos oitenta bem adentro. Na minha santa ignorância, desconhecia que havia uma "revolta à esquerda" e que, por causa desse martírio, urgia evitar "um PR oriundo da direita partidária". E ignorava, como ignoro, que o Palácio de Belém está reservado a uma casta especialmente "democrática", justamente por infantilmente presumir que, em democracia, não existem castas. Mas a minha infindável ignorância ainda não tinha absorvido que "a esquerda alimenta uma visceral desconfiança sobre a capacidade da direita para respeitar as "regras do jogo" na Presidência da República", e que, pasme-se, "um presidente sem escrúpulos constitucionais pode subverter impunemente a ordem constitucional". Estas puerilidades podiam fazer algum sentido em 1980 e, mesmo, com um módico de benevolência, em 1985. Hoje, com o devido respeito, são praticamente simétricas dos dislates de Alberto João Jardim sobre o "sistema". Vital repudia ainda as "teorizações presidencialistas" de uns desconhecidos epígonos "conspícuos de Cavaco Silva" e afiança que é "a estabilidade do regime que pode estar em causa" com a sua candidatura. Eu não sei bem a que "estabilidade" e de que "regime" o professor fala. Imaginará ele, porventura, que, uma vez eleito, M. Soares seria um modelo de subserviência ao PS e ao governo? Ou que o país pode aguentar por muito mais tempo a falsa "estabilidade" que este "regime" desacreditado por, pelo menos, cinco anos de leviandades e incompetências lhe apresenta? Ou que pode sobreviver por muito mais tempo sem pôr em causa a decência do próprio sistema democrático? Infelizmente Mário Soares, ao contrário do que aconteceu da primeira vez - verdadeiramente a única - vem apenas para prolongar a agonia e redimir a "esquerda" de uma eventual humilhação. Porém, o país é muito mais do que isto. A liderança institucional do PR, sem prejuízo do respeito pelas competências específicas de cada órgão de soberania, é um facto inelutável por causa do "estado a que isto chegou.". A sua legitimidade, uma vez eleito, e sobretudo eleito nas presentes circunstâncias, é extraordinária se for bem aproveitada. Eu não quero um PR para "adormecer" ainda mais o "regime" e para "anestesiar" a cidadania com os habituais e consensuais jargões. O próximo PR deve ser um "mobilizador" e possuir uma "pulsão reformadora" derivada da sua autoridade democrática. Deve ser alguém com uma sensibilidade particular para o domínio da "crise", sem tergiversações melancólicas ou "ideológicas". Se assim não acontecer, será o "regime", cuja "estabilidade" Vital vê ameaçada pela candidatura de Cavaco, que "pode subverter impunemente a ordem constitucional" por causa da sua incontornável esquizofrenia e ortodoxia, das quais, paradoxalmente, Soares se apresenta o mais fiel guardião.

25.8.05

"DESCRÉDITO"

Do notável artigo de Maria de Fátima Bonifácio no Público (sem link): "(...) Em má hora Sócrates seguiu o exemplo de Barroso. Já nem me quero referir à "promessa" de criar 150.000 empregos. Esclareceu que não era propriamente uma promessa, mas sim um objectivo. Mas sabia, como não podia deixar de saber, que, aos ouvidos menos atentos da generalidade dos eleitores, a coisa passava por promessa. Mas se neste caso apenas podemos pôr em dúvida a boa-fé, no caso dos impostos podemos ter a certeza da má-fé. Sócrates estava farto de saber que teria de os aumentar; Campos e Cunha referiu logo essa "possibilidade" antes de tomar posse. O apuramento do défice pela comissão Constâncio apenas se destinou, como toda a gente percebeu, a justificar a mentira sobre os impostos conscientemente proferida em campanha; e serviu também para justificar cortes na despesa pública de que ninguém ouvira antes falar. Tal como as fraudes eleitorais no século XIX, estas coisas fazem mossa: cavam o descrédito do governo, diminuem-lhe a autoridade e ferem a legitimidade das medidas de austeridade nunca antes anunciadas: o eleitor tem o direito de se sentir enganado. Em quem irá agora acreditar? Veremos se as próximas presidenciais servem para travar a corrupção do regime."

O RESPEITINHO...

... é uma coisa muito bonita, mesmo para os adeptos tardios do "socialismo em liberdade". Seja dentro de um partido, seja dentro de outra coisa qualquer. Não gostaria de ver Vital Moreira, por quem tenho imenso respeito intelectual, transformado no Vasco Graça Moura do PS e do governo.

A MÃO ESQUERDA DE DEUS

De acordo com alguma imprensa, Mário Soares porá termo à farsa da "reflexão" já na próxima semana. Entre aqueles que o ajudaram a alimentá-la encontram-se - segundo o próprio - governadores civis. Como toda a gente sabe, os governadores civis são uma espécie de longa manus do governo nos distritos. No caso de possuírem alguma habilidade e um módico de subtileza política, podem igualmente servir de "cabos" eleitorais. Em suma, a natureza político-partidária da sua nomeação recomenda-os numa campanha eleitoral a disputar com cuidado. Soares não perde tempo com minudências e quer, naturalmente, uma campanha "oficiosa" como candidato do "regime". Daí os jantares e as conversas intimidatórias com as pobres criaturas. E é precisamente aqui que começa a principal diferença de Soares 2005/2006 com Soares 1985/1986. Há vinte anos, a candidatura de Soares tinha o travo da "resistência" moderada à esquerda e à direita "oficiosas", representadas respectivamente no voluntarismo "esclarecido" de Pintasilgo, no ressentimente fraticida de Zenha e na fragilidade "governamentalista" de Freitas do Amaral. Se dependesse dos dois primeiros, Soares não teria saído do Campo Grande. Quando dependeu de Freitas do Amaral e da sua "aposta" em "puxar" Soares contra Zenha para a 2ª volta, Soares ganhou. E ganhou, apesar da maioria "cavaquista" que já nessa altura se começava a desenhar. Hoje Soares parte "colado" à actual maioria partidária de governo, que está longe de corresponder à maioria "eleitoral" que deu a vitória ao PS em Fevereiro. Será também e a seu tempo, o candidato oficial das restantes "esquerdas" para esconjurar o diabo, uma contabilidade mesquinha que até inclui a eventualidade de um "Le Penzito" português para "animar". O que é que de verdadeiramente "novo" têm Soares e os seus provisórios compagnons de route (Jerónimo de Sousa e o do BE) a propôr a um país em crise e às mais jovens gerações? Soares, na realidade, não propôe nada, nem lhe interessa minimamente propôr. Limita-se a impôr a sua veneranda pessoa ao PS e às "esquerdas" em nome de um combate ideológico que dissimuladamente diz não ter lugar. Acontece que, nesse "combate" que é bom que exista, o lugar do "moderado" de 1985/1986 será ocupado por Cavaco Silva. Às vezes a "mão esquerda de Deus" escreve "direito" por linhas tortas. Caberá a Cavaco Silva a meritória tarefa de provar que a democracia não tem donos nem direitos de exclusividade. Que não lhe doa a mão e votos não lhe hão-de faltar.

NO FUNDO

Vale a pena ler este curioso exercício de "administração pública portuguesa comparada". O pretexto é o combate ao fogo, mas podíamos escolher mais. As direcções gerais ou equiparadas estiolam na sua mesquinhez de "capela" ou no gigantismo absurdo da sua burocracia. A tentação da gestão paralela das mesmas coisas, pelas vias mais imaginativas, quando existem organismos pagos pelos contribuintes para os devidos efeitos, é uma constante. Têm-lhe chamado de tudo. Fundações, "grupos de missão", "comissões", "equipas de projecto" e tretas afins. No meio, continuam os serviços públicos que, muitas vezes, prosseguem objectivos sobrepostos ou concorrentes. O que ao Estado falta em racionalidade, sobra à "política" em imaginação. Os políticos, sobretudo os políticos no governo, adoram "estudar". Para isso nomeiam um enxame de criaturas para "estudar" as maiores e inúteis extravagâncias que acabam por não ter qualquer interesse de cidadania. Quando a realidade bate à porta - e Deus sabe como ela pode "bater" da pior das maneiras, como no caso dos incêndios -, vem ao cimo toda esta esquizofrenia "de Estado" que nos paralisa enquanto nação. O episódio das florestas, visto pelo lado do dr. Sampaio e, a seguir, pelo dr. Costa, é apenas um vago sintoma dessa esquizofrenia. Há séculos que não existe em Portugal um pensamento de Estado minimamente coerente. O pouco que resta é desperdiçado nestes ridículos jogos florais e desbaratado por figuras meramente ornamentais, colocadas na linha "hierárquica". Quem julgava que, com Santana, tínhamos batido no fundo, enganou-se. Verdadeiramente já lá estávamos, muito antes da sua emergência. E é lá que melancolicamente continuaremos.

24.8.05

ESPADA NEGRO

Sobre Espada (João Carlos) - alguém que parece ter permanentemente uma "questão mal resolvida" do foro erótico com o falecido Sir Karl Popper e que ainda não percebeu que não queremos que nos "ilumine" como, no passado, "iluminou" em Belém o dr. Soares, com os magníficos resultados que estão à vista -, ler estas breves palavras do "anónimo" dos Bichos Carpinteiros.

A MANIA

Com simplicidade e eloquência, o meu amigo Rogério Alves, em declarações a um jornal, resumiu o essencial: "José Sócrates tem a mania que sabe tudo."

"SOBRE AS PRESIDENCIAIS"

Para ler no Bloguítica.

LER OS OUTROS

Filipe Rodrigues da Silva, no Diário Digital. "Portugal enterrou-se na descrença enquanto se deixava guiar pela fé. Foi-se enganando guiado pela inveja e o egoísmo. Foi fiador do maldizer da sua sorte enquanto continuava à espera de mais um outro D. Sebastião. De um Eusébio. Uma Amália. Um Variações. Ou de um totalista no euromilhões. O Portugal acomodado é tão culpado como o Portugal megalómano. E ambos merecem um valente pontapé no cu."

23.8.05

JÁ...

... está encontrado o primeiro membro da "comissão de honra" da candidatura do dr. Soares a Belém. Tem a vantagem de ter"experiência" neste género de pantomina.

UMA ENTREVISTA

Saltando da Grande Loja para Fora do Tempo e deste para aqui, cheguei a uma curiosa entrevista com Camille Paglia, efectuada recentemente por Robert Birbaum. "É preciso varrer toda esta droga pós-modernista e estruturalista que não produziu nada a não ser postos académicos, promoções e salários de sucesso. Esta ingenuidade da imprensa alternativa a respeito da academia. A ideia de que gente que balbucia trivialidades esquerdistas é de esquerda. Conheci gente dessa na universidade. São apenas materialistas grosseiros, ok?"

A OTA CONTINUA

"Uma comissão criada para avaliar todos os estudos realizados sobre as diferentes localizações para o novo aeroporto - Ota e Rio Frio - acabou por não dar certezas sobre a eventual escolha da localidade do Norte do Tejo. Além de ser criticada a "ausência de projecto" para o aeroporto, nos estudos realizados, a comissão escreveu que a Ota era apenas "a menos desfavorável" das alternativas de localização propostas e que ambas apresentavam "impactes negativos significativos", a saber: "os impactos quanto aos elementos biológicos e ecológicos são considerados "negativos, de elevada magnitude e irreversíveis"; - os 12 milhões de passageiros num aeroporto podem gerar "um tráfego em hora de ponta [na auto-estrada do Norte e outras vias] de cerca 2400 veículos/hora"; - o aeroporto poderá "contrariar as políticas municipais de desenvolvimento no que respeita ao potencial lúdico-recreativo e turístico, de preservação da paisagem rural e qualidade ambiental e de promoção de habitação de qualidade e de estabilização da população dos aglomerados rurais"; - haverá "alteração da qualidade do ar à escala local e regional, verificando-se violação de limites legais imperativos em algumas situações"; - a "geração de níveis de ruído vão ultrapassar os limites legais numa área envolvente ao aeroporto de 30 km2"; - podem surgir "impactes negativos na economia local decorrentes sobretudo das pressões sobre do nível geral de preços, em particular imobiliário, e da repulsão das actividades económicas cuja produtividade não permite acomodar o aumento do custo dos factores produtivos." Continuar a ler aqui, para quem eventualmente se tenha "esquecido" do assunto por causa do momento estival.

LER...

... na Grande Loja, "Incêndios em escalada como nunca se viu". É um retrato "realista" do incêndio em Viana do Castelo, visto por quem por lá terá passado, sem grandes sofismas terminológicos tão em uso.

22.8.05

A "COMISSÃO DE HONRA"...

... da candidatura do dr. Mário Soares já está "em marcha".

NÃO HÁ PACHORRA

O Sr. Presidente da República decidiu aparecer no meio do caos incendiário. Nem ali se desfez dos seus habituais jargões da "unidade nacional" e do "desígnio nacional". Muito bem. Da última vez que nos falou disto, "saiu" da cartola um campeonato de bola - o Euro 2004 - e o dr. Barroso, para Bruxelas. Qualquer destes dois maravilhosos "desígnios" já provaram o que tinham a provar. O combate aos fogos segue o mesmo caminho. Não há pachorra.

21.8.05

NO MEIO DAS CINZAS

Com método e zelo, o país continua a arder. Tal como o Paulo Gorjão, já não posso ouvir falar nessa bizarria dos incêndios "circunscritos" e "por circunscrever". Ou nas detalhadas informações sobre o número de "viaturas" e de bombeiros "no terreno". Ou sequer ver as imagens requentadas da aflição nas televisões. O Estado, nas pessoas do primeiro-ministro e do Chefe do dito, "desceu" ao assunto. Sócrates foi ou vai a Pampilhosa da Serra e Sampaio, como é mais dado a "dossiês" e a reuniões "esclarecedoras", visita o SNBPC. Nada disto é, em si mesmo, relevante. O mal não só já está feito, como continua a fazer-se. O Estado, na sua função preventiva e repressiva, voltou a falhar, porventura de uma maneira mais espectacular e mais humilhante. A sensação geral é de impotência perante a inevitabilidade - o calor, a seca, a ignorância -, perante a fragilidade - os meios - e perante o crime. A sua precária autoridade jaz no meio das cinzas.

O PRESERVATIVO

Por causa de uns artigos de jornal e de uns pequenos jogos florais entre blogues - e, muito provavelmente, para "alimentar" algum "vazio" estival -, voltou a discutir-se a legitimidade do anonimato nesta actividade "blogueira". A Grande Loja e o Terras do Nunca, por exemplo, andaram vagamente embrulhados e o Paulo Gorjão ou o J.Pacheco Pereira não cessam de "teorizar" em abundância sobre o assunto, assumindo galhardamente o papel do "coro" das antigas tragédias. Quando, há sensivelmente dois anos, esta aventura começou, houve logo nessa altura um pequeno "debate" sobre o tema que correu seus termos entre alguns bloguistas mais afoitos. Hoje a coisa é porventura mais animada. Seja porque a blogosfera assumiu "causas" que a trivialidade ou duplicidade de certos media não sabe ou não quer "aproveitar", seja porque a "agenda" de alguma comunicação social anda notoriamente à espreita do que ressuma da blogosfera para, sobre outra "roupagem", lhe dar "letra de forma" sem cuidar dos "direitos autorais". Quer uma situação, quer a outra, são boas para a blogosfera e para o original lance de cidadania menos adormecida que eu presumo que a mova. Quanto ao "anonimato", eu mantenho o que escrevi logo no início do "Portugal dos Pequeninos", a partir de um post do entretanto "falecido" "Guerra e Pás" que aqui recordo. O decurso do tempo e algumas peripécias mais ou menos patéticas por que passei por escrever o que escrevo e como escrevo, reforçam o teor dos "comentários" feitos há dois anos. Desde uma torpe tentativa de censura feita junto de quem tem responsabilidades "hierárquicas" sobre mim, até ao assumido custo de "oportunidades perdidas" por pensar como penso, de tudo um pouco este "cantinho" me tem dado. Porém, há uma coisa que ninguém me pode tirar: a liberdade e o gozo de dizer o que entendo, assinando em baixo. Há, realmente, um "custo de autenticidade" que o anonimato alivia. O que não quer dizer que, por ser "anónimo", não seja menos verdadeiro ou menos interessante. É, apenas, mais seguro, como um preservativo. A Grande Loja está pejada de "anónimos" e nem por isso eu deixei de aceitar em colaborar com ela. Em suma, todo este "debate" só significa uma coisa muito simples. Que isto vale a pena. Com ou sem preservativo.


O ANONIMATO

O Guerra e Pás colocou um post que levanta uma questão interessante, pelo que, com a sua licença virtual, o repito:

"O Nélson de Matos fala de uma questão que eu julgava que nos ia passar ao lado, a do anonimato. Diz ele que não gosta de blogs anónimos, e eu acho que há mais argumentos a favor da sua posição que da minha, que até mantenho um! Mas eu defendo os blogs anónimos.Tentarei explicar-me.Num blog anónimo há liberdades e libertinagens impossíveis num blog assumido – para já a imunidade parlamentar funciona e num país tão litigante ( e sei bem do que falo) e com juizes tão curiosos, nunca se sabe se não malhamos com os costaços na pildra por qualquer coisa escrita in the heat de um moment qualquer. Depois, imagine-se que um dos famosos que por aqui anda embirra com alguém que dá o nome. Num país tão pequeno e tão mesquinho, a falta de fairplay pode significar um emprego, uma carreira universitária (e sei bem do que falo). Mas estes estão longe de ser os argumentos, embora não sejam dispiciendos. O argumento é de natureza literária, ou se quiser, de natureza autoral. Em abstracto que nos interessa a identidade de um criador se a criação nos agrada? Sei que o NM é amigo e admirador (como eu) de Lobo Antunes, mas se não o conhecesse não admiria a sua obra na mesma? Não é ele um admirável escritor? Sabe muito melhor que eu que a esmagadora maioria dos criadores maiores do nosso mundo eram gente abjecta no íntimo dos seus lares. Freud nem ligava à mulher, Jung enganava a dele, dois filhos de Bing Crosby suicidaram-se, etc (não há aqui nenhum salto lógico a partir de Lobo Antunes, obviamente). Há um excesso de protagonismo autoral no mundo lá de fora – a nossa sede de ídolos e a humanização forçada de escritores, músicos, actores, distorce a nossa apreciação sobre eles - quem sabe se eu não gostaria mais de Saramago se não embirrasse com ele? Finalmente, e a questão está longe de estar esgotada, há saberes aqui na blogolândia que são partilha. E por serem partilhados anonimamente, funcionam como a pessoa de que nunca soubemos o nome que chamou a ambulância quando tivemos o acidente, ou, mais comum, que nos indica o caminho na estrada. Há partilha, não há nomes."

Comentários:
1. É pertinente a observação de que, sendo isto a "pequena caixa de fósforos" que conhecemos, em que todos roçamos mais ou menos todos uns pelos outros, a identificação pode ter o efeito perverso de conotar o autor com posições política ou outra "coisamente" incorrectas, que lhe podem causar dissabores, num País onde a inveja e o ressentimento andam quase sempre de mão dada com a falta de sentido de humor e a pura ignorância;
2. Por outro lado, é saudável, visto do lado liberal, democrático e ironista em que me coloco, dar um "nome à coisa", dar o "meu" nome à coisa escrita, sem subterfúgios, não por vontade de exibição gratuita ou de crí­tica dirigida, mas porque assim posso testar - se bem que não esteja aqui para testar o que quer que seja - a maturidade cívica e intelectual dos meus putativos interlocutores, mesmo que eu nunca venha a saber quem eles são;
3. Na perspectiva em que sempre me coloco, nesta "blogomania" podem conviver saberes partilhados com ou sem nomes, em que alguns de entre eles me ajudam a "redescrever" o meu próprio vocabulário e as minhas próprias convicções, sendo que todos representam, de alguma forma, a apoteose da contingência, no sentido que Richard Rorty atribui a estas designações;
4. Finalmente, agrada-me a ideia de poder falar aqui livremente do que me interessa ou interessou: um livro, um discurso, um poema, uma reportagem, uma opinião, uma pessoa, uma situação, para poder dizer, se me apetecer e quando me apetecer, como no magnífico e já longínquo filme de Antonioni, " A identificação de uma mulher", "tu não és a minha norma".

20.8.05

INEXPLICÁVEL

Uma rápida passagem por dois jornais - há sol e vida felizmente para além disto -, o Público e o Diário de Notícias, mostra-me uma espécie de "balanço estival" da actividade do governo e respectiva "perspectiva" para os próximos tempos. Lembrei-me instantaneamente da "teoria da explicação", advogada por Freitas do Amaral na sua já longamente esquecida entrevista de Julho - reparem que o homem, desde esse momento, desapareceu literalmente e ignoro mesmo se ainda é ministro deste governo ou se se sente lá bem - e retomada pelo "pai espiritual" do aparelho (e dessa entrevista), o dr. Soares, numa conversa televisiva desta semana. Quando alguém advoga "explicações" políticas por parte do governo, é geralmente mau sinal. Não se pode "explicar", por exemplo, coisas que não têm aparente explicação. Em princípio, o que é bom é evidente por natureza. Tal como o que é mau, é instintintivamente detectado. "Explicar", no contexto "amaralista", "coelhista" ou "soarista", quer apenas dizer "sejam um pouco mais convincentes e pantomineiros". E, no último caso, é mais "eu depois explico". Os "massagistas" que existem em toda a comunicação social, a rapaziada do frete, costumam fazer o resto. Acontece que as pessoas não são tão parvas como as gostam de pintar. Suspeito, aliás, que, apesar destes esforços "militantes", a percepção geral é razoavelmente má. E isso é terrivelmente inexplicável.

19.8.05

PARTES GAGAS

Ler, no Expresso online, A Versão de Soares, de José António Lima.

MICRO-CAUSAS (actualizado)

O primeiro-ministro vai "aparecer" numa repartição de finanças dita "modelo", em Cascais, para a revelação de pequenos "choques tecnológicos" tributários destinados a "combater" a fraude e a evasão fiscais, dois fenómenos que continuam alarvemente a rir-se de qualquer governo. Por outro lado, vai "anunciar" que o Estado conseguiu a extraordinária proeza - como se não fosse essa a sua estrita obrigação - de ter arrecadado, em Julho, cerca de 700 milhões de euros provenientes de impostos. Até agora, nada de novo. Só lamento que, em vez de escolher a segunda ou terceira maior repartição de finanças do país, Sócrates não aproveite o ensejo para levar os jornalistas até outras, mais modestas, mais surrealistas e com um volume de trabalho significativo, como as de Alvalade, em Lisboa, ou a de Odivelas. Aí, o "choque" continua a ser o mesmo. Há cerca de um ano chamei a atenção para as condições de funcionamento da primeira repartição e, há apenas uns meses, da de Odivelas que só então conheci. Não mudou nada entretanto. Só mudou o governo, já que os propósitos "modernizadores" são exactamente os mesmos, independentemente do executivo. Por isso, republico esses posts, cuja actualidade infelizmente se mantém, na esperança de que, da próxima vez que houver mais "receita" para atirar aos olhos dos mais distraídos e mais "progresso" para oferecer aos mais crédulos, se atente no elementar.


Por razões profissionais, estive numa repartição de finanças de Lisboa. A actual sofisticação terminológica de "serviço de finanças" não mudou em nada a substância do exercício. É vulgar "dizer mal" das "finanças" já que a menção lembra invariavelmente "imposto". Acontece que também é importante, de vez em quando, ver o "outro lado". Este "serviço de finanças" que visitei é o mais "pesado" de Lisboa. Situa-se em Alvalade, numa rua ironicamente chamada "do Centro Cultural". Dizem-me que se trata de um arrendamento de um edifício que pertenceu ao Montepio Geral e que custa cerca de vinte e cinco mil euros mensais aos pagadores de impostos. Visto de fora, até não parece mau. Uma vez lá dentro, percebe-se que aquilo podia ser tudo menos um local de trabalho e um serviço de atendimento ao público. Com três andares, a estrutura tem os tectos rebaixados e falsos - talvez por se pensar que o "contribuinte médio" e o "funcionário público" são mesmo médios de altura - e constitui uma perversa fornalha. Os funcionários explicaram-me que, de inverno, usam roupas de verão porque a temperatura ambiente é naturalmente quente. O ar condicionado é uma metáfora inútil enfiada nas paredes e no chão, dado que não funciona. Os aparelhos colocados junto das janelas mal dão para arrefecer a água que tem que ser consumida aos litros pelos funcionários. O ar é praticamente irrespirável. Pedi para ver o "livro das reclamações". A falta de condições é tão evidente que o "cliente"/contribuinte prefere denunciar as "condições de trabalho" primitivas dos funcionários que os atendem da maneira que podem. Só um "sentido de serviço" arrancado não sei bem a que profundezas das almas daquelas criaturas permite aguentar tamanho opróbrio. Sinceramente, é possível continuar com as bravatas demagógicas da "produtividade", da "melhoria de desempenho" e dos "indicadores" quando não se consegue instalar decentemente umas dezenas de pessoas nos respectivos postos de trabalho? Para quê continuar a acenar aos distraídos e aos ingénuos com a "reforma do Estado" se, numa coisa simples como ter um lugar equilibrado para trabalhar e atender gente, quase se sufoca todo o santo ano, ao ponto dos de fora lamentarem os de dentro? Isto é que é "modernizar a administração pública ao serviço dos cidadãos"? Ou os "cidadãos" que servem na administração pública são menos "cidadãos"? Este episódio da vida material é apenas mais um retrato da mesma miséria e da velha falácia. A única diferença é que agora lhe chamam "tempo novo".


A chamada vida material conduz-nos muitas vezes ao confronto com o absurdo. Em Setembro passado, por motivos profissionais, estive numa das mais deprimentes repartições de finanças de Lisboa, para os lados de Alvalade. Apesar dos esforços que empreendi, dentro das minhas limitadas possibilidades, presumo que os funcionários e os contribuintes continuam a ter que frequentar o mesmo local e nas mesmas condições de há nove meses. Desta vez calhou-me a repartição de Odivelas, uma "cidade afavelada" nos arredores de Lisboa. O dito "serviço público" encontra-se escondido num beco sem saída e com uma entrada que mais parece uma traseira de um armazém. Aliás, explicaram-me, ali esteve acomodada... uma fábrica de "pickles". Como se pode constatar, é, sem dúvida, o edifício mais adequado para pessoas trabalharem com papéis e com as "novas tecnologias de informação" (consegui escrever estas quatro palavras sem me rir) e para outras serem recebidas. Da acumulação de gente pelas escadas - aquilo possui dois ou três pisos - nem vale a pena falar. Das condições de atendimento e da privacidade desse atendimento, ainda menos. À semelhança do que acontecia em Alvalade, também em Odivelas o ambiente é insuportável, irrespirável e deprimente. O ar condicionado tipicamente não funciona. Nem sequer me preocupei em pedir o livro de reclamações. Não vale a pena. O Estado devia ser o primeiro a dar exemplos de cidadania. É quase sempre o último ou, quando muito, fá-lo nas piores condições. Eu há muito que desisti deste país e, por consequência, tendo a levar muito pouca coisa a sério e quase nada me impressiona. Contudo, acho lamentável que concidadãos meus, por dever de ofício, tenham que conviver diariamente com este inferno em pleno século XXI. A vida é demasiado curta para não ser vivida com qualidade. E a maior parte de nós passa grande parte dessa vida a trabalhar em circunstâncias deploráveis. Jamais estaremos perto - já não digo do norte da Europa para não ruborizar de vergonha - dos nossos parceiros comunitários. Em compensação e com exemplos destes, estamos bem mais próximos de um qualquer posto oficial do Marrocos profundo (...).


Adenda: A repartição de finanças de Queluz tem entrada por uma garagem e os contribuintes "esperam" num corredor de acesso destinado primariamente a automóveis. A da Reboleira, na Amadora, divide-se entre uma cave lúgubre e um rés-do-chão em que ambos mal dão para os funcionários circularem, quanto mais os "pagadores", com entradas distintas que obrigam a dar uma volta a, pelo menos, meio quarteirão. Acresce que, por manifesta falta de condições, o respectivo "wc" está vedado ao público. Para os funcionários, existe uma chave que dá acesso ao dito, se bem que seja necessário recorrer a um balde, que, uma vez cheio de água, substitui o autoclismo! Qualquer destas repartições, ao pé de outras da "província", deviam fazer corar de vergonha os evangelistas do "progresso". Que tal uma visitinha, eng.º Sócrates?

Adenda II: Segundo o Portugal Diário e o Diário da República, "a nova assessora de imprensa do ministro Teixeira dos Santos, Fernanda Pargana, por exemplo, vai ganhar por mês 4500 euros, como determina um despacho datado de 3 de Agosto." Sugeria-lhe, à laia de estágio no "sector", uma "reportagem" nalgumas destas repartições de finanças para levar ao conhecimento do Senhor Ministro.

O FRANCISCO JOSÉ VIEGAS...

...deixou de andar por aqui. É uma pena. Mas volte rapidamente com "outra coisa". É disso que cada vez mais precisamos, de outra coisa, seja lá isso o que for.

18.8.05

VÍTIMAS

Eu votei em Sócrates e, por isso, tenho o direito a ser exigente. Sobretudo por não pertencer à trituradora partidária que, em devido tempo, o há-de liquidar. O Rui Costa Pinto já disse o essencial. Não esperava - e muito menos depois da "teorização política" da "vítima" efectuada com o sucesso que se conhece por Santana Lopes - que José Sócrates caísse na armadilha de vir falar das suas férias. Não percebo que ele não queira perceber o alcance puramente político da peripécia. Não gostei de o ver falar dele próprio, naquele inconfundível look de "betinho" irritado, a partir de um centro operacional de gestão do combate aos incêndios e das suas devastadoras consequências. Sócrates não se podia esquecer que os principais destinatários daquela arenga eram - e são - as verdadeiras e únicas vítimas. Ele não é seguramente uma delas. Não foi por ter "aparecido" menos de 24 horas depois de ter regressado que Sócrates "apagou" os efeitos da sua ausência "política". Se os seus conselheiros ou o seu gabinete não servem para lhe explicar coisas tão elementares como estas, para que é que eles existem?

UMA FRASE

"Não há donos da República".

O "VAZIO"

Medeiros Ferreira reconhece finalmente que M. Soares está a fazer um frete partidário. E critica-o subtilmente por isso. Ao arrepio do que aquele honesto e persistente militante da recandidatura do "fundador" defende - "uma opção estratégica" de um "fortíssimo candidato progressista" -, o próprio veio esclarecer que não o move propriamente qualquer tipo de "desígnio nacional", muito menos "estratégico", mas antes o meritório propósito de tapar um buraco e de colocar o PS, e o governo, em sentido. Ele até já "ouviu" os governadores civis, o que faz lembrar as "candidaturas" da União Nacional que tanto, e bem, combateu. Enfim, e nas suas palavras, Soares vem para suprir um "vazio". A retórica do "interesse dos portugueses", invocada na SIC Notícias como determinante para avançar para Belém, não passa disso mesmo, de pura retórica. Será que os portugueses têm assim tanto "interesse" nesse passo? Tenho as maiores dúvidas e ainda não vi ninguém estremecer de comoção, salvo meia centena de bonzos da província e o inevitável dr. Vitor Ramalho. Quanto à tese de que não existe mais ninguém no "mercado" para derrotar Cavaco Silva - eis, no seu esplendor, o único "interesse" desta putativa candidatura -, é bem provável que seja verdade. Acontece que, para quem foi galhardamente eleito duas vezes Chefe de Estado, esse "interesse" é demasiado pequenino. Em democracia - em trinta anos de democracia -, já é tempo de acabar com estas patéticas exigências de "pedigree democrático". E muito menos para preencher apenas um "vazio".

UM ACTO DE RESISTÊNCIA



Depois de tantos dias, de tantas semanas e tantos meses a ouvir quase só exclusivamente idiotas nacionais e estrangeiros, é reconfortante voltar a escutar Joseph Ratzinger, na versão Bento XVI. O Papa está a partir de hoje na Alemanha para acompanhar a Jornada Mundial da Juventude que decorre em Colónia. Na "mensagem" que preparou em Agosto do ano passado para esta vigésima Jornada, João Paulo II exortou os jovens a não cederem "a falsas ilusões nem a modas efémeras, que muitas vezes deixam um trágico vazio espiritual", bem como a recusarem "as soluções do dinheiro, do consumismo e da violência dissimulada que por vezes os meios de comunicação propõem". E acrescentou que "a adoração do verdadeiro Deus constitui um acto autêntico de resistência contra qualquer forma de idolatria". "Adorai Cristo", escreveu o Papa, "ele é a Rocha sobre a qual deveis construir o vosso futuro e um mundo mais justo e solidário. Jesus é o Príncipe da paz, a fonte de perdão e de reconciliação, que pode irmanar todos os membros da família humana." Citar aqui e agora as palavras de Woytila, que as passou como testemunho ao seu mais próximo e fiel intérprete e sucessor, Bento XVI, é quase uma provocação. Aliás, toda a "justificação" para o que aconteceu em Gólgota - o "mistério" ou o "escândalo" da Cruz - é, em si mesma, uma provocação sobre a qual não devemos cessar de meditar. É por isso que, crentes ou não crentes, encontramos sempre, na palavra do Santo Padre, motivos para prosseguir. Oiçamos, pois, o que Ratzinger tem para dizer aos milhões de peregrinos que se juntam, despreocupadamente e com alegria, em Colónia. E continuemos a experimentar, onde quer que nos encontremos, e como "acto autêntico de resistência", essa extraordinária força espiritual de João Paulo II que jamais nos abandona e a que Bento XVI não só não renuncia como é dela o melhor penhor. "São tantos os nossos contemporâneos que ainda não conhecem o amor de Deus, ou procuram encher o coração com alternativas insignificantes. É urgente, por conseguinte, ser testemunhas do amor contemplado em Cristo. O convite para participar na Jornada Mundial da Juventude é também para vós, queridos amigos que não sois baptizados ou que não vos reconheceis na Igreja. Não é porventura verdade que também vós tendes sede de Absoluto e andais em busca de "algo" que dê significado à vossa existência? Dirigi-vos a Cristo e não sereis desiludidos."

17.8.05

LER...

... na Grande Loja, a quem se agradece a cooperação cívica, o artigo de Eduardo Cintra Torres a que aludi em post anterior. Há uns anos, num livro que recolhe textos seus, Pacheco Pereira perguntava - e cito de memória - "o que é que comunica a comunicação social" e falava da "mensagem/massagem". Esta reflexão sobre o papel dos media e a função jornalística - ambas não destacáveis, nem dos "interesses" do mercado, nem dos "interesses" dos governos e das máquinas partidárias que os suportam -, volta a estar em debate, depois da "crise" da frustrada "central de informação" do executivo anterior e da pulsão intervencionista, porventura mais subtil mas não menos preocupante, do actual poder socialista. Vale a pena, uma vez mais, a "blogosfera" estar atenta à evolução da saga "mensagem/massagem", não só por ela ser prometedora, mas sobretudo por poder vir a ser altamente comprometedora.

É A ECONOMIA...

SERÁ....

... que o dr. Mário Soares também acha que a comunicação social, particularmente as televisões, não deve "amplificar" a extraordinária falta de recursos técnicos denunciada diariamente pelos corpos de bombeiros que não param de dar luta à criminalidade incendiária? Eu sugeria, por exemplo à Grande Loja - cujos "meios operacionais" são mais adequados do que os meus - que reproduzisse na íntegra o artigo de Eduardo Cintra Torres, "Estamos a governar mal? Então tomamos a TVI", publicado no Público do passado dia 14 e indisponível online.

A "SUPERIORIDADE MORAL" DO DR. SOARES

Deus sabe como eu sou "soarista". Ou seja, como eu me identifico com o princípio da liberdade que regeu toda a vida política de Mário Soares, com o seu inconformismo teimoso e com a sua concepção "dessacralizada" do poder. A sua bonomia "pseudo-conciliadora" - que resultou na horrível expressão do "presidente de todos os portugueses", tirada a Eanes e, pelos vistos, destinada a rápida recuperação na próxima campanha -, não deve, no entanto, distrair-nos da natureza nuclear do homem que se apresenta a candidato presidencial em 2006. Soares está plenamente convencido da sua condição de "dono" do regime. Como tal, reputa de indiscutível a sua "superioridade moral" sobre qualquer outro, sempre considerado por ele, com gentileza, como um subproduto meramente tolerável pelo facto de "isto" ser uma democracia. O argumentário que, apesar de ainda estar na famosa fase de "reflexão", utiliza para avançar contra Cavaco, é elucidativo desta forma sobranceira e paternalista como encara o futuro que não quer que, em nenhuma circunstância, lhe fuja da mãos. Nem para Cavaco, nem, muito menos, para Sócrates. Dizer que pretende evitar um "plebiscito" ou uma passeata triunfal pela Avenida da Liberdade é, no mínimo, risível. No limite, é um cumprimento indirecto a um Cavaco Silva que pode perfeitamente ser eleito presidente, não apenas por causa desta insuportável "superioridade moral", mas sobretudo apesar dela.



Adenda: Fica mal a um "príncipe da liberdade", como é Mário Soares, a mera sugestão de que a comunicação social anda a "amplificar" o "ruído social" e as indignações "corporativas", a que Soares chama de "interesses". Parece a história dos crocodilos na defunta União Soviética. Também voavam. Baixinho, mas voavam. Os jornalistas, segundo "Soares terceira versão", também podem "voar", sem excessos. Baixinho.

16.8.05

LER...

... o Rui Costa Pinto, "Responsabilidade política".

QUANDO...

...é que, no intervalo entre fogos que não consegue dominar, o dr. António Costa trata disto?

A "REFLEXÃO"

“Eu estou evidentemente a reflectir sobre esta questão, mas ainda não tenho uma resposta para dar aos portugueses, irei dar até ao final do mês de Agosto ou princípios do mês de Setembro, portanto não demorarei muito tempo”. Com o devido respeito pela pulsão íntima e por uma "reflexão" que está mais do que realizada na sua cabeça - a única que verdadeiramente lhe interessa -, haverá ainda alguém inocentemente à espera de uma "resposta"? Quanto mais depressa terminar esta pantomina estival, melhor para todos. E sobretudo para ele.

UMA LETRA, UM DISCO



diz-me que solidão é essa
que te põe a falar sozinho
diz-me que conversa
estás a ter contigo

diz-me que desprezo é esse
que não olhas para quem quer que seja
ou pensas que não existe
ninguém que te veja

que viagem é essa
que te diriges em todos os sentidos
andas em busca dos sonhos perdidos

lá vai o maluco
lá vai o demente
lá vai ele a passar
assim te chama toda essa gente

mas tu estás sempre ausente
e não te conseguem alcançar

diz-me que loucura é essa
que te veste de fantasia
diz-me que te liberta
de vida vazia

diz-me que distância é essa
que levas no teu olhar
que ânsia e que pressa
que queres alcançar

que viagem é essa
que te diriges em todos os sentidos
andas em busca dos sonhos perdidos

lá vai o maluco
lá vai o demente
lá vai ele a passar
assim te chama toda essa gente

mas tu estás sempre ausente
e não te conseguem alcançar
mas eu estou sempre ausente
e não me conseguem alcançar


(Sempre ausente, letra de António Variações, in Anjo da Guarda)

SENTIDO DE OPORTUNIDADE

À miséria dos incêndios junta-se a miséria social e cultural. O Jornal de Notícias revela que, na "linha da frente" do combate aos fogos, também se encontram menores. Este misto de ignorância, de aventura, de voluntarismo e de irresponsabilidade é apenas mais um produto de um país profundamente dividido entre um "litoral" light, supostamente esclarecido e sobranceiro, e um "interior "que pertence inteiramente a outro "filme", mais sombrio, inevitavelmente pobre, abandonado à sua sorte e "desligado" do "progresso", comandado desde sempre a partir da "orla marítima". A "falta de meios" não deve servir de desculpa para tudo. Pelo que se vê, a horrível e criminosa "procissão" dos incêndios vai só a meio. Sócrates, "o africano", regressa amanhã de umas descansadas férias passadas bem longe da aflição e do país kitsch que lhe cabe governar. Segundo o seu gabinete, pondera-se uma "visita" a localidades afectadas, com possibilidade de recuo em virtude de se pretender não "atrapalhar" quem anda no "terreno". Ninguém explicou ao "gabinete" que, apareça onde aparecer, ou não apareça onde não aparecer, o primeiro-ministro já falhou. Este combate está politicamente perdido para este governo como esteve para os anteriores. Quando caiu a ponte de Entre-os-Rios, o piedoso Guterres também lá foi para ser sumariamente vaiado. Não desejo isso a Sócrates. Apenas espero que, sensatamente, manifeste algum sentido de oportunidade.

12.8.05

UM REGIME INCENDIADO

Não tenho culpa do que é hoje este país e o regime que o representa: militei e votei sempre em partidos que apregoavam querer outro tipo de regime e deixei de militar e de votar quando vi esses partidos tornarem-se tão legitimistas como os outros. Espero um rebate de consciência política por parte destes políticos, ou o aparecimento de outros. Faço como muitos portugueses: espero por D. Sebastião, desempenho a minha profissão o melhor que posso, e penso em emigrar.


Paulo Varela Gomes, Público de 11 de Agosto de 2005, Os Incêndios do Regime

DEMOCRACIA....

... de tipo "familiar".

INDEPENDÊNCIAS

A COISA ESTÁ PRETA

Ao vaguear pelo país de Agosto, ocorreu-me a letra de uma canção de Chico Buarque. Ele referia-se ao Brasil e “elogiava” metaforicamente – coitado – o nosso glorioso “Portugal de Abril”. “A coisa aqui está preta”, cantava Chico. Como, trinta anos passados, faz tanto sentido este verso brasileiro escutado em português! Há uma semana, Vasco Pulido Valente falava na “decadência do regime”. As coisas estão efectivamente pretas. A fragilidade de tudo começa a estar demasiado descoberta, se bem que nunca deixasse verdadeiramente de lá estar, oculta e perversa. José Sócrates, ainda o menos mau que se consegue arranjar, segundo as “sondagens”, manifestamente já não chega. Muito em breve, entram em cena, de novo, centenas de candidatos autárquicos. Um pavor. No meio deles encontram-se algumas notabilidades que se imaginam subtis e que, agora, se dizem “independentes”. São nódulos monstruosos gerados nos partidos e nas “localidades” que, com rotundas, prédios e prebendas, “ganharam” a indeclinável simpatia popular. E são a melhor imagem do que seria um país “regionalizado” por que muitos irresponsavelmente suspiram. A tragédia dos incêndios é outro monumento sagrado à inépcia dos poderes públicos e ao atavismo analfabeto do “localismo” caseiro. Quando ainda temos tanto de “terceiro-mundismo” para extirpar, vêm os ministros Pinho e Lino, com as suas tolas crenças no optimismo “obreirista”, devidamente abençoadas pelo primeiro-ministro, prometer milhões em “progresso”, pistas e “vitesse”. Finalmente, é o absolutismo caprichista da maioria que se encarrega da sua própria descredibilização. O episódio da Caixa Geral de Depósitos, as incompetências mantidas ou as “novas” que são nomeadas para cargos de direcção pública em nome da eterna concepção “familiar” de democracia e a percepção de falta “unidade de comando” disto tudo, fazem o “regime” resvalar para lado nenhum. É por isso que as eleições presidenciais se tornaram subitamente importantes. A geração que nos governa desde há, pelo menos, dez anos, é uma “geração perdida”, medíocre e cobarde. A emergência de Mário Soares e de Cavaco Silva constitui o seu melhor epitáfio. A coisa está preta.

A OTA CONTINUA! - 4

O que dirá o ministro Mário Lino destas "observações", captadas a partir do Bloguítica, logo ele que ontem bufava "falsidades, deturpações e demagogias", a propósito das advertências que têm sensatamente vindo a ser feitas relativamente ao novo aeroporto da OTA ? Ou destas?

11.8.05

A OTA CONTINUA! - 3

Mário Lino, visivelmente incomodado com as perguntas que lhe têm sido dirigidas acerca dos "estudos" sobre a OTA e o TGV, decidiu responder com um artigo no Diário Económico. Segundo Lino, a decisão de construir o novo aeroporto internacional na Ota está suportada por um estudo de impacto ambiental elaborado em 1999. Foi, então, por essa altura que "se realizaram diversas audiências públicas e sessões de trabalho, foram distribuídos milhares de folhetos informativos e enviados relatórios e informações para numerosas entidades" e que "os dados e informações estiveram à disposição para consulta na Internet do IPAMB- Instituto de Promoção Ambiental e Direcção-Geral do Ambiente, entretanto substituídos pelo Instituto do Ambiente. Terá sido "na sequência deste processo de avaliação de impacte ambiental que o XIV Governo tomou a decisão de prosseguir o desenvolvimento do processo relativo à construção do novo aeroporto". Finalmente os projectos da OTA e TGV "foram escolhidos pela sua importância, dimensão e visibilidade" e destinam-se aparentemente a combater "o clima depressivo criado no país desde 2002" e "a dúvida [criada] na sociedade portuguesa e na sua ambição e capacidade para ultrapassar as actuais dificuldades". Os responsáveis por estas aleivosias, ainda segundo o ministro, são aqueles que, com "falsidades, deturpações e demagogias", tanto têm criticado tão sublime opção. Em matéria de "demagogias", estamos conversados com Lino depois deste artigo. Vir falar num "estudo de impacto ambiental", de 1999, como o grande suporte para estas aventuras, é politicamente pobre e cai "ao lado" do essencial. Apesar desta prosa infantil e retorcida, Mário Lino não consegue explicar a indispensabilidade da construção de um novo aeroporto, quer em termos de estratégia do nosso crescimento económico, quer em termos puramente "promocionais" para o país ou mesmo em sede de "ganhos" da célebre competitividade. Não se fazem obras deste teor para resolver problemas "psicológicos" ou como "terapia de grupo" contra a "depressão nacional". Para isso já tivemos a Expo, o Euro 2004 e as Polis tão caras ao eng. Sócrates. Nenhuma dessas fantasias resolveu nada. A depressão, como a loucura, continua.

"SEXO, EMULE E BENFICA"

Este país aborrece. Esta gente aborrece. Estes poderes aborrecem. A nossa "cultura" aborrece. Veja-se esta "pérola". Olhando para dentro dos nossos pequenos vícios, a Marktest foi ver o que fazia um país aborrecido na internet, durante o primeiro semestre do ano (fonte: Expresso online). Por ordem decrescente em termos de número de "buscas" efectuadas por palavra, verifica-se que o cibernauta luso - ansioso e deprimido depois da "euforia" do Euro 2004 - introduziu 131 mil vezes o termo "sexo", 93 mil o termo "emule" -um "software" de partilha de ficheiros -, 91 mil, "Benfica", seguindo-se no "top ten" das palavras mais "procuradas", os termos "mulheres", "dgci", "messenger", "irs", "sapo", "msn" e "jogos". Já em matéria de "personalidades" portuguesas, Isabel Figueira (quem é?) é o nome que recolhe mais "buscas" e a "expressão" "porto" foi mais procurada na net do que "lisboa". Parece que, afinal, o "Deus, Pátria e Família" do dr. Salazar e do Cardeal Cerejeira, na versão do "plano tecnológico" para "ligar Portugal" no século XXI, deu em "sexo, emule e benfica", uma bem democrática e "popular" visão da "modernidade" distinguida pelos indígenas mais sofisticados. O governo quer, com credulidade e voluntarismo optimista, "mudar". Este, todos os outros que o antecederam e os mais que virão. Porém, quando se governa uma raça destas, esperam mudar o quê?

10.8.05

A OTA CONTINUA! - 2

Vital Moreira, uma inequívoca forma de vida inteligente que defende o aeroporto da Ota, informa que lá para Outubro o governo dará conta dos "estudos" que "sustentam a construção do novo aeroporto". Quanto à "cruzada paroquial de Lisboa" e ao "vale tudo" de que fala a propósito da pergunta simples que tem sido colocada em diversos blogues, uma rápida viagem pela blogosfera ensinar-lhe-á que, muitos dos que estãos empenhados na "cruzada", moram bem longe de Lisboa e provavelmente gostam tanto dela como ele. A questão de fundo não é, pois, nem paroquial nem lisboeta. É nacional e de elementar bom senso.

BOA PERGUNTA....

... no Sorumbático.

VÃO VER

Ler, no Bloguítica, "O Cobertor é Curto", a partir de uma "notícia" do Jornal de Notícias. À excepção do excitadissimo e coerente Medeiros Ferreira, a partir desse porta-voz de enorme impacto nacional que é Vitor Ramalho, a putativa candidatura presidencial de M. Soares segue aparentemente o ditame de Séneca: "sempre idem velle atque idem nolle", ou seja, "sempre querer e não querer o mesmo". Já se sabe que Soares precisa de "cercar" o "centro político" para ter sucesso. Para isso, tem que recorrer à famosa gaveta onde enfiou o (seu) "socialismo" há uns bons pares de anos, e de onde provisoriamente o tirou para, uma vez candidato presidencial nos anos 80 e 90, se proclamar retoricamente "socialista, laico e republicano". No entanto, a gaveta cresceu para um armário no qual, nos últimos anos, Soares foi arrumando as suas "novas" "convicções" e os seus "novos" amigos, exibidos com a adequada radicalidade, desde Porto Alegre à Avenida da Liberdade. São esses "cadáveres esquisitos" - que hoje rejubilam com a sua recandidatura - quem mais incomoda um Soares já interessado em "pescar" noutras águas. As "declarações" de Ramalho provam-no e a emergência do advogado de negócios - particularmente "angolanos" -, Vasco Vieira de Almeida, como "responsável" pela campanha, são os primeiros sinais de "descolagem" puramente táctica dos drs. Louçã, Rosas, Jerónimo de Sousa, Domingos Abrantes ou Boaventura Sousa Santos. Quem o conhece, sabe que, quando e onde for preciso, Soares dirá exactamente o contrário do que jurou antes, e vice-versa. As minudências "ideológicas" nunca lhe tiraram um segundo de sesta. E os seus amigos do armário engolirão em seco em nome da sagrada "unidade" contra a "direita". Ele quer apenas ganhar e eles querem apenas que o "outro" não ganhe. Neste tropismo político nada sadio e intelectualmente pouco sério, vai valer tudo. Vão ver.

9.8.05

NOS OITENTA E DOIS ANOS DELE

de profundis amamus

Ontem
às onze
fumaste
um cigarro
encontrei-te
sentado
ficámos para perder
todos os teus eléctricos
os meus
estavam perdidos
por natureza própria

Andámos
dez quilómetros
a pé
ninguém nos viu passar
excepto
claro
os porteiros
é da natureza das coisas
ser-se visto
pelos porteiros

Olha
como só tu sabes olhar
a rua os costumes

O público
o vinco das tuas calças
está cheio de frio
e há quatro mil pessoas interessadas
nisso

Não faz mal abracem-me
os teus olhos
de extremo a extremo azuis
vai ser assim durante muito tempo
decorrerão muitos séculos antes de nós
mas não te importes
não te importes
muito
nós só temos a ver
com o presente
perfeito
corsários de olhos de gato intransponível
maravilhados maravilhosos únicos
nem pretérito nem futuro tem
o estranho verbo nosso

O MESMO QUE NADA

O dr. Costa, que eu ainda tinha como um dos poucos políticos lúcidos da sua geração, está a revelar-se um perfeito logro. Depois de ter andado desaparecido enquanto o país ardia, decidiu agora mostrar-se muito e falar. Também ele, à semelhança de um vulgar burocrata, imagina que os problemas se resolvem com "relatórios". Como explicou a um jornal, está "à espera" de um para Outubro. Isto deve representar um imenso alívio para as populações e para os bombeiros. Os fogos de Agosto e, quem sabe, de Setembro, não há dúvida que se combatem com relatórios em Outubro. Parece que havia um "livro branco" - outra portuguesa maneira de não mexer em nada - sobre os fogos a que Costa não deu grande importância, à excepção da criação da famosa "autoridade nacional" do pacato e inócuo general Ferreira do Amaral. Este estrondoso fracasso das políticas de prevenção e de combate aos incêndios, comum a vários governantes, merecia que se tirassem as devidas conclusões. Em vez disso, espera-se por relatórios que ninguém lê ou cumpre, por "livros brancos" perfeitamente combustíveis e por criaturas que, apesar de não se entenderem sobre o essencial, mandam. É tudo tão cinzento e baço como o que fica depois das labaredas. E é exactamente o mesmo que nada.

TUDO EM FAMÍLIA

Uma das coisas "giras" que tem o dr. Mário Soares, é baralhar toda a gente. A começar pelos seus supostamente mais "próximos". Nesse aspecto, ele é uma permanente brisa de ar fresco ao pé destas mediocridades vaidosas que pululam na vida pública nacional, da "esquerda" à "direita". Por mais que se desminta, Manuel Maria Carrilho, citado "entre aspas" no Diário de Notícias, não aprecia a candidatura do fundador. E, sobretudo, não gostou da maneira como Sócrates tratou do assunto ou, melhor dito, da forma como Soares o "obrigou" a tratar. Carrilho, a pretexto de um falso pretexto, quis demarcar-se de um secretário-geral que não é manifestamente o seu preferido e que pressente a "afundar-se". Nada mais. Estas bizantinices não maçam Soares. Pelo contrário, devem diverti-lo imenso. Cada dia que passa, o partido está mais refém da sua gloriosa pessoa. Ele sabe que, na hora "da verdade", estarão lá todos. Eduardo Prado Coelho, que é um teórico da ubiquidade, explica já isso claramente quando, depois de "zurzir" Soares como uma "falsa boa ideia", como aliás o fez ao lado de Pintasilgo em 1985/86, se prepara para "acabar por o apoiar também". Estes episódios sucessivos de "desestabilização" na "família" são bem elucidativos do factor de perturbação que a candidatura de M. Soares veio introduzir numa maioria absoluta "à beira de um ataque de nervos" que, por acaso, é da sua "cor". O que significa que Soares, candidato, vai querer fugir disto o mais depressa possível, como o diabo da cruz. Sucede, porém, que a "sua" maioria é o governo de Portugal e, supostamente, uma coisa séria. Não invejo a tarefa dos "preparadores" dos discursos presidenciáveis de M. Soares, alguns deles meus amigos. O eleitorado que deu a maioria absoluta ao PS, fê-lo para governar bem e não para perder tempo com questões domésticas. Até mais ver, Soares é uma questão doméstica que "ameaça" todo o edifício "socialista" de ruína precoce. Eu avisei e tornei a avisar. Ele não vem pelo bem de Sócrates. Vem só e exclusivamente pelo dele.

8.8.05

LER...

... "A indústria dos incêndios", de José Gomes Ferreira. E este post do Mar Salgado, "Fogos e desnorte governamental".

CONVERSAS COM OS LEITORES

Toda esta "movimentação" da direita reaccionária seria credível, se tivessem feito o mesmo quando os governos anteriores disseram que avançariam com a OTA. Porque não o fizeram e só agora é que se lembraram? Assim, não se queixem de que ninguém acredita em vocês (Anónimo).

Comentário: Não "comento" anónimos. De qualquer forma, já ensinava o Einstein, a estupidez também é infinita.

O presidente da autoridade nacional para os incêndios florestais está à espera que a velocidade de ignição resolva o problema de uma vez por todas: com o fim das árvores, chegará o fim dos incêndios (Raquel).

Comentário: Presumo que a leitora se refere ao sr. general Ferreira do Amaral. A sua condição ornamental não lhe permite ir mais longe do que murmurar uns vagos palpites. O pior é que o ministro, mesmo de helicóptero, também lhe segue, demasiadas vezes, os passos.

E o que é que você queria que ele fizesse, num país que não tem regionalização? Sim, porque se estivessemos regionalizados, como quer a esquerda há muitos anos, isto não acontecia ou pelo menos era muito mais atenuado (Clara).

Comentário: A Clara -está no seu pleno direito - ainda acredita no Pai Natal. Acontece que a descoordenação institucional que se sente no combate às chamas não desapareceria se a coisa estivesse entregue aos vizires locais ou regionais. Qualquer deles, aliás, está há mais tempo no cargo do que qualquer ministro se aguenta no dele. Por outro lado, a "regionalização", num país do tamanho de uma caixa de fósforos e com tão maus e grunhos hábitos localistas ou regionalistas, seria sempre uma forma de incêndio. Mais suave, mas incêndio. E, deixe-me lembrá-la, nem toda a "esquerda" é "regionalista". O dr. Mário Soares, na altura do referendo, foi muito claro. Presumo que ele seja o seu candidato presidencial e faço-lhe a justiça de, pelo menos nesta matéria, ele ainda achar que se trata de uma "loucura".

Provavelmente o VJS prefere o Cavaco. É como a Roseta! Inexplicável é ele e as posições absurdas que tem (Clara).

Comentário: Em democracia, o VJS tem direito a ter tantas "posições absurdas" quanto a Clara. Estamos muito bem uns para os outros.

LER...

... a reprodução do artigo de Saldanha Sanches no Expresso-Economia, feita pela Grande Loja: "Depois de Sócrates, o quê?"

REPORTAGEM

Aborrecido, passeio
Pelas ruas da cidade.
Deixei agora o Rossio
E atravesso o Borratém.
Deu meia-noite pausada
No Carmo. Um amigo meu
Passa e tira-me o chapéu.
Paro a uma esquina. Esmoreço
Numa saudade que surge
Dentro de mim não sei como:
Uma saudade infinita,
Misto de choro e revolta.
Alguém me chama no escuro:
Volto a cabeça. A uma porta
Um vulto mexe. - Sou eu!,
Não fuja, sou eu... - Mas quem?
Retrocedo, não conheço
A mulher que me chamou.
Na verdade ninguém ouve,
Ninguém distingue o apelo
Do amor que anda perdido
No mistério de mentir:
Deixo-a ficar onde estava;
Dou-lhe um cigarro e um sorriso
Dizendo que vou dormir.
Atira-me boa-noite
Num frio olhar de ofendida.
Meto à rua do Amparo
A perguntar se esta vida
Não terá finalidade
Menos sórdida e banal?
Atafonas. Uma Igreja.
Mais acima o Hospital.
Um marinheiro propõe
A esta que atravessou
A rua do Benformoso
Irem tomar qualquer coisa
Na Leitaria da Guia.
Ela pára. É uma catraia
Que talvez não tenha ainda
Dezasseis anos. Bonita.
Devagar vou-me chegando
Xaile, uma blusa, uma saia...
E oiço a fala dos dois.
Ele parece uma onda,
Impetuoso, alagante.
Ela é um breve bandó
Num corpito provocante.
E seguem... Ele, encostado,
Muito encostado e aquecido
Lá vai como se encontrasse
Um objecto perdido
Que foi milagre encontrá-lo...
Cortaram além!... E param?
Oiço o rebate de um estalo
E um grito subtil de prece
Amedrontada na fuga...
Desço ao Marquês do Alegrete.
Um candeeiro sinistro
Numa casa que se aluga...
Vejo um polícia. Arrefece.
Um grupo de três sujeitos
Discute o vinho de Torres.
Varrem as ruas. Um gato
Bebe água numa sarjeta;
Uma carroça parou
Carregada de hortaliça
Junto à Praça da Figueira.
Corto a rua dos Fanqueiros
Já um pouco estropiado...
Acendo um cigarro. A noite
Lembra um fantasma assustado...
Chego ao Terreiro do Paço.
O arco da rua Augusta
Parece mais imponente
Na minha desolação...
Vou até ao cais. Em baixo
O rio bate sem reacção...
A maré vasa. No céu,
Vão-se apagando as estrelas.
Um guarda-fiscal dormita
Na guarita, mas de pé.
Um velhote com um cesto
E uma lata vem dizer-me
Se eu quero beber café.
Num banco de pedra. Cismo.
E ali me fico a cismar
Em coisa nenhuma... O dia
Principia a querer ser
Mais um passo na incerteza
Das nossas aspirações...
As águas do rio a escutar
Parecem adormecidas...
E o dia nasce! Vem triste,
Nublado, fosco, cinzento,
Enquanto pela cidade
A vida acorda e desata
O matinal movimento...

António Botto

A USURA DO TEMPO

Placido Domingo, um dos grandes génios musicais das últimas décadas, anunciou que se vai retirar. Como músico inteligente e homem sensível e intuitivo, Domingo apercebeu-se, como os "antigos", do efeito de usura chamado "decurso do tempo". "Quando iniciei a carreira, cantei com mulheres da idade da minha avó, depois com algumas que podiam ser minhas irmãs mais velhas, em seguida com artistas da minha idade e, actualmente, com jovens que podiam ser minhas netas", disse ele, acrescentando que "quer reflectir antes de tomar a decisão, para não se arrepender e regressar dois anos depois." Um excelente conselho que podia perfeitamente ser seguido noutras "áreas" em que os impulsos serôdios são mais fortes que a serena razão.

A OTA CONTINUA!

A partir do ABRUPTO:


"NUMA BLOGOSFERA, PERTO DE SI"


Sessenta e três blogues

Bloguítica. Blasfémias , Ciberjus , Von Freud , Grande Loja do Queijo Limiano, [ai-dia], A destreza das dúvidas , crackdown, ContraFactos & Argumentos , ' A Esquina do Rio , Almocreve das Petas, Um prego no sapato, ...bl-g- -x-st-, sorumbático, Portuense, ABnose, Portugal dos Pequeninos, Teoria da Suspiração, A Baixa do Porto, Minha Rica Casinha, Sombra ao Sol, Insustentável, Insustentável Leveza, Virtualidades , Blogdamarta, Adufe, Tela Abstracta, opinar, Abnegado, Cabo Raso, Bateria da Vitória, Foz, Tempo Suspenso, Galo Verde, Navio Negreiro, Entre Pedras, Palavras, Viver Bem na Alta de Lisboa, Faz Tudo, SEDE, Observador Cosmico, Nortadas, Piano, primadesblog, Pura Economia, Impertinencias, Nova Floresta, Acid Junk Food, Prova dos Nove, Quinta do sargaçal, O cacique, Cuidado de Si, My Guide to your Galaxy, Ideias Dispersas, Gatochy's blog, Congeminar, Verão Verde, Forum Comunitário, Ma-Schamba, Ecletico, Miniscente, o careto, iuris, 19 Meses Depois, e um jornal digital, o Portugal Diário , leram isto

"Respeito muito os signatários, mas há sociedades que valorizam mais a especulação e a análise, enquanto outras valorizam mais a busca de soluções."(Manuel Pinho, Diário Económico, 28-07-05)

e correspondendo ao apelo do senhor Ministro fizeram o pedido, exigência bem educada,

PODE O GOVERNO SFF COLOCAR EM LINHA OS ESTUDOS SOBRE O AEROPORTO DA OTA PARA QUE NA SOCIEDADE PORTUGUESA SE VALORIZE MAIS A “BUSCA DE SOLUÇÕES” EM DETRIMENTO DA “ESPECULAÇÃO”?

e receberam a resposta:

NÃO. PELO MENOS PARA JÁ, ATÉ QUE O GOVERNO FAÇA O SEU ESTUDO, VISTO QUE AINDA NÃO FEZ NENHUM, APESAR DE JÁ TER DECIDIDO TUDO.


Adenda: O José Júdice, na crónica de dia 5 de Agosto em O Independente, também pergunta pelas "dezenas de estudos encomendados pelos governos sobre o Aeroporto da OTA e o TGV" e se alguém "alguma vez lhes pôs a vista em cima".