Deus sabe como eu sou "soarista". Ou seja, como eu me identifico com o princípio da liberdade que regeu toda a vida política de Mário Soares, com o seu inconformismo teimoso e com a sua concepção "dessacralizada" do poder. A sua bonomia "pseudo-conciliadora" - que resultou na horrível expressão do "presidente de todos os portugueses", tirada a Eanes e, pelos vistos, destinada a rápida recuperação na próxima campanha -, não deve, no entanto, distrair-nos da natureza nuclear do homem que se apresenta a candidato presidencial em 2006. Soares está plenamente convencido da sua condição de "dono" do regime. Como tal, reputa de indiscutível a sua "superioridade moral" sobre qualquer outro, sempre considerado por ele, com gentileza, como um subproduto meramente tolerável pelo facto de "isto" ser uma democracia. O argumentário que, apesar de ainda estar na famosa fase de "reflexão", utiliza para avançar contra Cavaco, é elucidativo desta forma sobranceira e paternalista como encara o futuro que não quer que, em nenhuma circunstância, lhe fuja da mãos. Nem para Cavaco, nem, muito menos, para Sócrates. Dizer que pretende evitar um "plebiscito" ou uma passeata triunfal pela Avenida da Liberdade é, no mínimo, risível. No limite, é um cumprimento indirecto a um Cavaco Silva que pode perfeitamente ser eleito presidente, não apenas por causa desta insuportável "superioridade moral", mas sobretudo apesar dela.
Adenda: Fica mal a um "príncipe da liberdade", como é Mário Soares, a mera sugestão de que a comunicação social anda a "amplificar" o "ruído social" e as indignações "corporativas", a que Soares chama de "interesses". Parece a história dos crocodilos na defunta União Soviética. Também voavam. Baixinho, mas voavam. Os jornalistas, segundo "Soares terceira versão", também podem "voar", sem excessos. Baixinho.
2 comentários:
Soares, como você concerteza muito bem percebeu, não se referia aos jornalistas, na verdadeira acepção da palavra, mas a esse conjunto de pseudo-jornalistas nomeados por Morais Sarmento, que enxameiam (ainda) os nossos jornais e televisões. Uma coisa é jornalismo livre, independente e sério, outra coisa é propaganda e insinuação!
"O Louco" (1) está a ser acompanhado pela família e amigos para não se esquecer de tomar os medicamentos.
Agora e à semelhança do tempo da outra senhora, não ouve a família mas ouve os Governadores Civis!!!
Realmente ninguém nos ganha aos matraquilhos
(1) -- O próprio MS, assim se autodenominou numa entrevista à RTP
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