23.12.07

O CAMINHO DELES


Entre intervalos dos episódios do CSI, apercebi-me que o dr. Soares e a D. Ferreira Alves lá iam, na passada quinta-feira, "caminhando" à nossa custa, na RTP, pelos locais mais desvairados, com os comentários mais despropositados e com as banalidades mais requentadas. O dr. Soares é um político, não é um pensador e, muito menos, um filósofo. Aliás, a sua "filosofia" ficou imortalizada naqueles três volumes de entrevista feita por Maria João Avillez com esta pérola: "o que me interessa é levar a água ao meu moinho." E Ferreira Alves é muito pouco ou quase nada. Alberto Gonçalves, no DN, assistiu penosamente a tudo. Com a devida vénia, reproduzo. (Foto: Kaos)

«Primeira cena. Mário Soares e Clara Ferreira Alves no interior dos Jerónimos. Falam sobre religião. O dr. Soares diz que a religião "tem uma força", mas apressa-se a inventariar os seus limites. A dra. Clara, inclinada, ri-se: "Não ousa dizer que os deuses são os homens..." O dr. Soares não ousa, embora lembre que "o homem é a medida de todas as coisas" e que "o que temos descoberto nestas últimas duas décadas é extraordinário". Segunda cena. Sinagoga de Lisboa. O dr. Soares, de solidéu, acha que "a religião judaica é extremamente importante" e recorda que foi o primeiro chefe de Estado europeu a pedir desculpa aos judeus. A dra. Clara introduz na conversa Israel e o Médio Oriente e informa que viajou duas vezes com o dr. Soares a Jerusalém. Terceira cena. Mesquita e Catedral de Córdoba. O dr. Soares desfia inocentemente os mitos acerca da tolerância do "Al-Andalus" e exorta ao fim das guerras religiosas. Depois, numa análise mais profunda, revela que os terroristas são seres humanos e que o Ocidente "deve desarmá-los com a bondade" (sic). Quarta cena. Mesquita de Lisboa. A dra. Clara enverga um lenço muçulmano. O dr. Soares explica que Bush, "um flagelo", "incendiou o Médio Oriente e criou um conflito entre o Islão e o mundo cristão." Quinta cena. Sinagoga de Lisboa. O dr. Soares confessa que seguiu a filosofia grega e o direito romano. E que não foi "tocado pela fé". A dra. Clara concorda com um aceno. O dr. Soares cita Julia Kristeva (uma referência seríssima) a propósito da "necessidade de acreditar". A dra. Clara interrompe para decretar o dr. Soares "um iluminista que não foi iluminado pelo divino" e ri-se com o engenhoso trocadilho. O dr. Soares resume: "Sou filho da Revolução Francesa..." E a dra. Clara, que aqui estranhamente não ri, completa: "... e dos direitos do homem". Isto prossegue por outros vinte minutos. Isto é O Caminho Faz-se Caminhando, a série mensal do dr. Soares e da dra. Clara que a RTP transmite. O normal seria imitar a dra. Clara e acrescentar: "... e que o contribuinte paga". Não vou por aí. O Caminho... eu pago com gosto. É verdade que sem gosto também pagaria, mas esse não é o ponto.»

7 comentários:

lusitânea disse...

Ainda bem que não vi.Mas já agora que o homem anda sempre a gabar-se de pedir desculpa, lembro que talvez, antes de morrer, deveria pedir desculpa era aos Portugueses que prejudicou gravemente.
Como latifundiário absentista da democracia abrilista não há dúvida que se pode orgulhar da bela merda que pariu mas que o apascenta a ele e à família..

Aladdin Sane disse...

O programa tem muita piada! Basta que nos refastelemos no sofá, acompanhados pelo belo chocolate quente, depois de uns exercícios de relaxamento muscular, e temos risada garantida! E já estou à espera do lançamento do DVD.

Anónimo disse...

Uma desgraça.
Não volto a ver.

Anónimo disse...

Será conveniente recordar a Alberto Gonçalves que Mário Soares estava de kipa (judaica) e não de solidéu (católico). E que o "lenço muçulmano" usado por Clara Ferreira Alves, se devidamente colocado, seria um hijab. Nisto de religiões convém sempre ter alguns conhecimentos quando se escreve, mas o jornalismo já não é o que era.

Anónimo disse...

Bem, ó anónimo, o jornalismo nunca foi o que era. Apenas tem apurado: antigamente, quando eu era rapaz, para se ser jornalista bastava ser ignorante, agora também é preciso ser estúpido.
Quanto ao doutor Mário Nobre Soares, para infelicidade dele e de todos nós... ainda cá anda.

Anónimo disse...

Não costumo participar em caixas de comentários. Abro uma excepção para responder ao sr. Anónimo. O sr. Anónimo, talvez um pseudónimo, garante que o kipá não é um solidéu. Naturalmente, o sr. Anónimo não sabe o que diz, mas os comentários aos blogues já não são o que eram.

Anónimo disse...

Caro João Gonçalves

O sr. Soares é um verdadeiro filósofo do socialismo. Felizmente que nem todos têm "necessidade de acreditar" nele.
E mais não comento por ser Natal!