14.9.04

A MATERIAL GIRL



Ontem, ao fim da tarde, segui numa direcção inesperada. Arrumei o carro bem longe da zona central do Parque Expo e caminhei até às bilheteiras do Pavilhão Atlântico. À volta do Pavilhão havia filas por todo o lado e ainda faltavam mais de três horas para o concerto. A generosidade de um segurança permitiu-me alcançar as bilheteiras e dei por mim a pagar um preço exorbitante para ver a Madonna. Nunca tinha posto os pés no dito Pavilhão e, de facto, a enchente foi imponente e diversa. Apesar de estar bem acomodado e com uma bela vista sobre o palco, fui forçado a passar a maior parte do tempo em pé, a bambolear-me, à semelhança do que toda a gente estava a fazer. Pouco antes do concerto começar, Santana Lopes fez a sua entrada num camarote atrás de mim. Foi recebido com uma monumental vaia que se repetiu. Pode ser que o incidente o tivesse levado a reflectir na frase com que encerra o espectáculo: re-invent yourself. Costumava ser uma sua especialidade. Mas Santana não me interessava. A Madonna, essa, é, por assim dizer, uma "rapariga do meu tempo". Esperta como uma rata, a criatura sabe o que faz e vende muito bem aquele produto. Aquilo ali é puro espectáculo, minuciosamente preparado e desempenhado com o maior profissionalismo. Se Roland Barthes fosse vivo, podia acrescentar a rapariga às suas "Mitologias". Chamou-se a esta poderosa encenação a "re-invention world tour". É claro que, apesar das actuais tendências místicas da cantora, aliás bem presentes no espectáculo, nada de particular foi verdadeiramente "reinventado". A multidão naturalmente delirou e mostrou-se crazy por ela. Madonna devolveu bem o cumprimento e garantiu que é mesmo uma material girl. Ela tem razão. E eu estranhamente gostei.

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