12.9.04

FICÇÃO

Por falar em "moral" e "bons costumes", o mesmo Expresso que publica o antológico "cartoon" de António que reproduzo em baixo, também inclui um anúncio da editora Almedina com as últimas "novidades" jurídico-literárias. Não posso deixar de chamar a atenção para uma. Um tal presumo que "licenciado", "mestre" ou mesmo "doutor" Jorge Alberto Duarte Pinheiro escreveu um livro/tese com 828 páginas (!) e com este título extraordinário: O Núcleo Intangível da Comunhão Conjugal - os deveres conjugais sexuais. Só neste país e com esta "academia" é que alguém consegue dissertar em tantas páginas sobre um tema tão profundo e de tão relevante interesse social. Nos bairros periféricos das grandes cidades esta questão da "comunhão conjugal" e dos "deveres conjugais sexuais" tem claramente sucesso garantido. Por outro lado, visto pelo lado dos "bons", trata-se de uma bela prenda que se pode sempre oferecer a casais do "jet-set" e às imensas "tias" e "tios" que são o nosso melhor exemplo de felicidade e de fidelidade conjugais. Nem que escrevesse mil páginas, este preclaro jurista jamais atingiria o tal "núcleo intangível da comunhão conjugal". Pela simples razão de que ele não existe, da mesma forma que não existe qualquer tipo de "norma" que possa definir o que seja a "comunhão conjugal" ou sexual. As relações entre duas pessoas, sejam elas um homem e uma mulher ou "same sexers", não incluem propriamente direitos e deveres como um vulgar contrato de arrendamento. E não há coisa mais "atingível" no mundo do que uma relação, sobretudo sob a forma de "casamento". Há por aí muito casamento que não passa de uma excelente ou medíocre obra de ficção. Porque a vida "íntima" de muito boa gente também o é. E esta gorda "tese", se quisermos ser "objectivos", apenas vale como tal, como pura ficção.

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