13.9.04

DESILUSÕES E RUÍNAS

Manuel de Arriaga, 1º PR




Dentro de três dias, a Pátria, seguramente reconhecida, vai transladar o Dr. Manuel Arriaga dos Prazeres para o Panteão Nacional. A que se deve tão notável mudança? A referida notabilidade, para quem não se lembre, foi o primeiro presidente da República Portuguesa nos idos de 1911. Nasceu nos Açores, foi advogado, professor liceal, deputado e poeta. Os "republicanos", entre outras coisas, gostavam de exibir estes "vultos" supostamente dados a transportes líricos como prova da sua superioridade intelectual e política. Contudo, e segundo os "radicais", Arriaga estava demasiado conotado com os "moderados". Viam nele, mais do que o PR, um chefe de facção. Por isso, nunca podia ter sido a "salvaguarda" constitucional e institucional de um regime que era dominado essencialmente pelos "democráticos". Nem tal lhe estava na "massa do sangue". Deste modo limitava-se a tentar cumprir o seu papel ornamental, o que, aliás, nem ele nem ninguém pretendia que ultrapassasse. Quanto ao resto, a história registou o fundamental. E o fundamental é muito pouco. As palavras de Vasco Pulido Valente em O Poder e o Povo - A Revolução de 1910, resumem-no. "Em nenhum momento da sua longa vida excedera (ou haveria de exceder) uma mediocridade honesta. A seu favor contava-se apenas um passado de pioneiro, assaz diletante, e quase quatro décadas de fiel serviço ao Partido [Republicano]. Mas agora estava velho e cansado e a cada passo mostrava que não percebia nem se adaptava às duras realidades do mundo republicano. Sobrevivente de mais simples e tranquilos tempos, autor de um livro chamado Harmonias Sociais, entrou para a presidência em estado de inocência política e saiu para morrer, deixando atrás de si só desilusões e ruínas". Reconhecendo-se porventura nesta infeliz criatura, Jorge Sampaio presidirá à transladação. Com a costumada pompa e circunstância e a presença dos principais corifeus da Nação, o actual regime pretenderá, talvez por instantes, rever-se no Dr. Manuel de Arriaga e na sua patética impotência. Deve ter razão. Não é mesmo de "desilusões e ruínas" que falamos quase sempre?

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