25.3.04

A "EXCELÊNCIA"

A coligação está convencida de que vai "reformar" a administração pública numa ou eventualmente duas legislaturas. Para o efeito, tem andado a preparar um "pacote" legislativo cuja última novidade consistiu num diploma da Assembleia da República que cria uma coisa chamada "sistema integrado de avaliação do desempenho da Administração Pública". A referida lei socorre-se dos lugares-comuns e dos jargões recolhidos nos manuais de gestão de organizações e de recursos humanos, traduzidos em brasileiro, e que, desde os anos 80, inundam as prateleiras dos cursos de sociologia, economia ou gestão. Estão lá todos: a "mobilidade", a "excelência", a "qualidade", a "responsabilização", a "demonstração de competências profissionais", o "mérito", a "transparência", a "cultura da exigência" ou "as competências de liderança". Tudo visto e ponderado, registo apenas duas novidades. A primeira, a consagração da "diferenciação e reconhecimento do mérito e excelência" através de um sistema de "percentagens" ou de quotas. Trocado por miúdos, isto significa que poucos serão os escolhidos e que ainda menos serão os eleitos. Substitui-se a avaliação rotineira pela subjugação ao "encaixe" burocrático e "amiguista" nas vagas disponíveis para os "excelentes", obviamente "excelentes" aos olhos de quem os acha subtis. A segunda novidade é a que institui a avaliação dos dirigentes. A ideia não é má. Porém, como não está previsto aqui nenhum sistema de "percentagem" de "excelentes", como para a massa funcionária, não são de esperar grandes modificações ou ansiedades, desde que esses dirigentes assegurem o "respeitinho" e promovam os "excelentes" certos. Em suma, o que é que isto representa? Que se vai reforçar a "motivação" dos funcionários? Que vão ser seriamente avaliadas as competências, os comportamentos
profissionais ou as capacidades para liderar ou para gerir? Não creio. Isto apenas vai fazer disparar nos funcionários e nos dirigentes, ou em alguns deles, pelo menos, o que neles há de pior: a avidez medíocre, a pequena ambição carreirista, o oportunismo, a "facada nas costas" e a concupiscência com o "chefe" que se segue. Uma "excelência"!

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