9.2.04

O CORO

Nas grandes tragédias clássicas bem como em grande parte do repertório lírico, o coro tem por função o enquadramento do pathos do enredo e das vicissitudes por que passam os protagonistas. O coro comenta o que se passou, o que se está a passar e anuncia felicidades ou desenlaces fatais futuros. O coro do Teatro Nacional de São Carlos, não fugindo a esta tradição, decidiu não se apresentar num concerto sinfónico, aparentemente por razões corporativas. O crítico aplaudiu a ausência deste corpo artístico e só lhe faltou sugerir o pelotão de fuzilamento. Sabe-se que o coro pode não ter sido excessivamente feliz nas suas últimas prestações e que a sua direcção musical pode acusar algum desgaste perfeitamente natural. Porém, não convém nestas coisas pensar com os pés. O coro do TNSC está integrado numa organização complexa que é o São Carlos, recheada de contradições e de uma deficente estrutura interna. Se os corpos artísticos têm o "poder" que têm, designadamente de alterar por completo a "fisiologia" do restante programa dos concertos sinfónicos, foi porque alguém o concedeu. Por outro lado, e numa mesma semana de trabalho, o coro pode ter de ensaiar textos musicais completamente distintos, passando de uns para os outros, a ritmos absolutamente estonteantes. A actual direcção do teatro, como aqui já afirmei, vive muito do "faz de conta". Adora fazer de conta que está tudo no melhor dos mundos quando efectivamente não está. A sua insegurança manifesta-se nestas alturas e sempre da pior maneira. E nada se resolve com prepotências ignorantes. O coro e a Orquestra Sinfónica Portuguesa são constituídos por bons músicos, homens e mulheres que gostam da sua profissão e que a honram. Um teatro com as características do São Carlos dirige-se com eles e não contra eles. O mesmo raciocínio é aplicável aos funcionários "técnicos" e "administrativos". É que se assim não for, em última análise, quem "paga" o devaneio é o público a quem tudo se dirige e que, não esqueçamos, acaba efectivamente por pagar tudo.

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