14.2.04

O AVENTUREIRO

Não conseguindo conter-se, Pedro Santana Lopes exteriorizou pela milésima vez o desejo de ser candidato a PR. Agora foi um pouco mais longe do que o habitual, o que se entende pelo irreprimível nervosismo que lhe causa a silenciosa hipótese Cavaco, com cotações em alta. Lopes traça assim o "perfil" que supostamente é o ideal - e que é o dele - , por oposição ao de alguém que poderia "desestabilizar" o bom ambiente da coligação, leia-se Cavaco. No seu raciocínio simplista, Lopes tem por assentes dois pressupostos. O primeiro é o de que esta coligação PSD/PP está para durar. O segundo é o de que ele é o "candidato natural" que dela emerge e o único que pode garantir a estabilidade, previsivelmente eterna, da "santa aliança", uma forma retorcida de sugerir que Cavaco faz mal à saúde do Governo. A isto convém contrapôr alguma coisa e deixar uma pergunta. Não é certo que o País esteja rendido aos encantos da "coligação" e que a estime a ponto de erguer um qualquer seu neófito à chefia do Estado. E dentro dos partidos que a constituem, também não me parece que haja particular júbilo unanimista em torno da hipótese Lopes, descontando alguns novos e velhos caciques menores. Por outro lado, com a sua mitomania presidencial, Lopes esquece-se de que é presidente eleito da Câmara de Lisboa, onde praticamente nada faz. Aliás, o excessivo dom de ubiquidade emotiva de Santana Lopes, fá-lo entrar com frequência naquele "querer e não querer o mesmo" do autor clássico. Com o País em plena deriva depressiva, é seguro que a primeira preocupação dos portugueses não é a eleição presidencial, como há dias explicou Cavaco Silva. A juntar aos problemas que já tinha, Durão Barroso volta a ter Lopes precipitadamente pela frente. Deu-lhe corda, agora tem que o aturar. Nós é que dispensamos o exercício. Assim, e quando chegar a altura certa, uma pergunta deverá intimamente fazer-se: será que eu quero um aventureiro como Chefe do Estado?

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