Não vi a entrevista de Kim-Il-Sócrates. Ou melhor, o que vi mostrou alguém que passou quatro anos a humilhar pessoas e que, num acesso de pura hipocrisia, promete agora humilhá-las menos se voltasse a ganhar. E diz ele que não é cínico. Mas adiante. José Pacheco Pereira apresentou uma notável prosa em Vale de Lobos. Serve perfeitamente de resposta.
«O País está a afundar-se com muita rapidez e os maiores responsáveis são o PS e, nos últimos anos, José Sócrates. Muita gente que beneficia do poder socialista faz tudo para ocultar esta realidade, mas, desde 1995, que Portugal é governado pelo PS com excepção de pouco mais de dois anos. Ou seja, o PS moldou as políticas governativas em 12 dos últimos 14 anos. Não há nada que possa iludir esta realidade. Por muito que o PSD também tenha responsabilidades na situação actual de Portugal, e algumas terá, ninguém as pode comparar às do PS. Se o País empobreceu, se o País está cada vez mais longe da Europa, se o País não cresce, se a agricultura, a indústria, as empresas, as escolas, as universidades, a justiça, a segurança social, a economia e a sociedade, a cultura e o bem estar conhecem uma crise, a responsabilidade primeira é do PS, com uma responsabilidade acrescida por ter governado em dois momentos excepcionais, no governo Guterres com uma das conjunturas internacionais mais favoráveis, e no governo Sócrates, com uma maioria absoluta, um Presidente responsável e uma oposição enfraquecida (...) Quer num quer noutro caso, as oportunidades foram perdidas. Eu não gosto da expressão, mas, do governo Guterres, após milhões e milhões de contos (contos não euros) recebidos e que se esfumaram sem se saber como, saiu-se de “tanga”, e do governo Sócrates, pior porque a nossa dívida ultrapassa todos os limites aceitáveis. Pior ainda, com Sócrates saímos zangados uns com os outros, cansados da política, descontentes com a democracia, sem esperança, com enormes custos sociais, sem destino, confusos. O PS desbaratou todas as oportunidades, porque as suas opções governativas, a incompetência dos seus governantes, as suas concepções do Estado e do exercício do poder eram erradas e são erradas. Nas eleições que agora se vão realizar, o PS vai de novo propor as mesmas políticas e naturalmente, se ganhasse, continuaria o declínio de Portugal na mediocridade e na pobreza (...). Na verdade, os nossos socialistas são mais jacobinos do que socialistas. Os socialistas hoje são jacobinos modernos, convencidos que são donos do Estado e do País, e que são melhores, mais racionais, mais progressistas do que todos os outros. (...) Não queremos a patetice das “causas fracturantes”, uma cópia deslavada da agenda do Bloco de Esquerda, cujo único objectivo é tornar igual o que é diferente, obrigar pela lei a que a sociedade seja menos plural, e que responda a diferentes valores e a diferentes opções de vida. Por detrás de um aparente progressismo, o que há é a obsessão de por o estado a mandar em tudo com pretexto na criação de uma sociedade falsamente laica imposta aos cidadãos, onde, em nome da igualdade, se destrói a liberdade individual e a diferença. Também aqui nos daríamos bem com as liberdades que Herculano defendeu e não com a obsessão jacobina de tudo controlar em nome da racionalidade suprema do Estado. Até porque os mesmos socialistas que vivem obcecados com as “causas fracturantes” pouco se interessam pelas funções essenciais do estado. Pouco querem saber da defesa, das relações internacionais, da segurança, mesmo da justiça social, onde privilegiam políticas que assentam apenas em subsídios e gastos incontrolados a fundo perdido, que servem sempre quem não precisa, mais do que quem precisa. Que contribuem para numa mesma aldeia numa mesma cidade, duas pessoas da mesma condição e com as mesmas possibilidades, uma viva com dificuldades do seu trabalho e outra viva de subsídios do Estado, gerando um fosso de que se fala pouco, mas que muitos conhecem nas suas comunidades e sentem com enorme revolta porque é, injusto. É por isso que a obrigação de mudar não é apenas um problema de políticas, é uma obrigação patriótica, uma obrigação do dever da causa pública, de serviço ao País. Não basta protestar - hoje apenas protestar serve para manter os socialistas no poder. Hoje é preciso que o protesto seja construtivo, se associe a uma solução de governo alternativa, única forma de travar o descalabro nacional que leva quase década e meia de declínio. (...) Manuela Ferreira Leite consubstancia uma forma diferente de fazer política, o que explica o tom visceral de recusa que todos os que estão cá mais para se servir do que para servirem, têm. O seu incómodo é total porque haver um exemplo vivo de ser diferente é insuportável para quem quer continuar a ser igual. Manuela Ferreira Leite não está na política por qualquer ambição pessoal, não pretende usar a política para ter qualquer carreira, não quer ter protagonismo nem vive de aparecer nos jornais, está na política por sentido de dever à coisa pública, por sentido de obrigação cívica, porque se revolta com a situação de Portugal. Podia ter ido para o seu Vale de Lobos, mas não foi. E trouxe à vida pública um sentido de responsabilidade, de verdade, de credibilidade que incomoda e muito, incomoda mesmo muito, o PS.»
9 comentários:
...e por isso a sua amiga de repente virou solução para o País?!
Tenham dó!
"Manuela Ferreira Leite consubstancia uma forma diferente de fazer política, o que explica o tom visceral de recusa que todos os que estão cá mais para se servir do que para servirem, têm."
Mas Sócrates tem um presente e um passado e a Drª Manuela Ferreira Leite só tem presente?
Uma pessoa que criou (sim...) o PEC(Pagamento Especial por Conta) para matar (de vez) as PME's que estavam à beira da morte, agora diz que não faz sentido ter esse imposto e assim acabar com ele? Ah, viva a campanha política. É tão bom ouvir coisas destas...
Sócrates fervia por dentro na vontade de ser ele próprio, enquanto aprisionado no jogo da imagem programada, num faz-de-conta que era outra pessoa. Guiou a entrevista como se estivesse perante jornalismo a sério e não tocou num único assunto de facto relativo à nossa sobrevivência, como o défice externo, nem tal lhe foi apresentado como tema. Pôde dizer todas as barbaridades sem ser questionado. Tentou passar por uma pessoa que nunca será e fez o pleno do ridículo quando afirmou que o problema com os professores foi apenas falta de delicadeza. Ou gozava ou pensa exactamente aquilo, o que se torna ainda mais preocupante. Para além da entrevista em si ser um lixo, as citações que traz preparadas e acondicionadas de casa (e que mete à pressão para dar uma ar cultural que acaba por ser piroso), são de um ridículo que está ao nível da comédia, como todo o ensaio de peça de teatro a que se assistiu, que não foi mais do que uma papagaiada de um PM postiço a queimar tempo precioso com a intenção de distrair a carneirada que há-de pagar pela sua visão fatasiosa. Deve ser o único PM de um país mais ou menos normal que passa vida a falar do líder da oposição.
Por enquanto o voto de um pobre agricultor de Cinfães vale tanto quanto o de um qualquer ideólogo, que assim se mantenha por muitos e largos anos.
Só uma actualizaçãozinha desta manhã que ontem não ouvi por já não haver pachorra o 1º (José...):
Sai-se o Canal 1 (vergonhoso his master voice do pêésse) com esta (palavras do cujo, que denotam a obssessão, que colhe votos dos «sinaleiros» esquerda direita leia-se segundo eles «bom» e «mau» caminho):
«O PSD está mais à direita do que nunca!»
Entenda-se bem ele está mais «à esquerda» do que nunca...
Isto pra não falar no abuso que mesmo Canal faz de emigrantes em comboios para França:
«Que jeito nos dava o TGV!»
Como JPP diz, por outras palavras, isto está cada vez mais «deles sós», os controleiros de consciências em nome de suas ortodoxias, mas que não vamos a carreirinhas para Vale de Lobos disso tenham certeza. Que cada antemanhã de negrura é desafio a levantarmo-nos até à aurora verdadeira que tarda.
Minha única dúvida é se o atoleiro em nos afundam tem saída.
Leiam com olhos de ver as propostas muitas pesadas sopesadas e pensadas de Manuela Ferreira Leite em «compromisso de verdade» in
http://falarverdadeemsantarem.blogspot.com/2009/08/compromisso-de-verdade-programa.html
e depois digam-nos se conseguem separar as águas.
Ou é falta de vergonha ou é pura incompetência, mas como não acredito na distracção de quem manda no DN, aposto na primeira hipótese.
O jornal de Marcelino-Sócrates coloca hoje em título a certezza de que "não houve pressões no caso Freeport".
Todos nós ligamos automaticamente as pressões ao Mota, mas o título refere-se apenas às garantias de que o PGR não exigiu que o caso fosse encerrado em função do período eleitoral.
É preciso explicar mais? A isto, no mínimo, se chama pequena criminalidade, que, como se sabe, é aquela que fica no degrau que antecede a grande criminalidade. Ou se apanha esta gente enquanto são pequenos criminosos ou nunca mais, porque, é sabido, em Portugal a grande criminalidade nunca é tocada pela cegueira da justiça!!!
Mas alguém acaba com esta m... ou é preciso, de facto, a malta sair para a rua e queimar carros e partir montras????!!!
Rita
Ao que me diz respeito acho que a senhora nunca devia ter saído de Vale de Lobos. Os seus contributos à causa pública são muito bem retratados neste post de um tal Mentecaptosempre!!!, encontrado numa das minhas deambulações no universo blog. O blog é http://aviscosidades.blogspot.com/ Apenas reproduzo a parte que interessa ao caso pois a citação inserida relembra-nos alguns factos;
"Não resisto a plasmar aqui um artigo de opinião de Manuel António Pina, publicado pelo JN com o título de Tempo de autocrítica."
"É impossível não ver no programa eleitoral do PSD ontem apresentado, e no anúncio pela dra. Ferreira Leite de políticas de firme combate a medidas da dra. Ferreira Leite, a mão maoista (ou o que resta dela) de Pacheco Pereira, a da autocrítica.
Assim, se chegar ao Governo, a dra. Ferreira Leite extinguirá o pagamento especial por conta que a dra. Ferreira Leite criou em 2001; a primeira-ministra dra. Ferreira Leite alterará o regime do IVA, que a ministra das Finanças dra. Ferreira Leite, em 2002, aumentou de 17 para 19% ; promoverá a motivação e valorização dos funcionários públicos cujos salários a dra. Ferreira Leite congelou em 2003; consolidará efectiva, e não apenas aparentemente, o défice que a dra. Ferreira Leite maquilhou com receitas extraordinárias em 2002, 2003 e 2004; e levará a paz às escolas, onde o desagrado dos alunos com a ministra da Educação dra. Ferreira Leite chegou, em 1994, ao ponto de lhe exibirem os traseiros. No dia anterior, o delfim Paulo Rangel já tinha preparado os portugueses para o que aí vinha: "A política é autónoma da ética e a ética é autónoma da política"."
Eis um tipo que fala a direito, com coragem e saber. Não é por acaso que a cambada de imbecis e de interesses disfarçados que nos governam, os meninos do PP e os boys do PS o odeiam. Só que ele vai ficar na história e eles não. Lendo blogs não se percebe como há muita gente que admira o Pacheco Pereira e com discursos destes ele bem o merece.
João Gonçalves:
O que mais confrange na análise política que «comentadores» fazem em seu e outros muitos (ou poucos) blogues que frequento é que denota em geral uma característica «judaica» ( judeus nunca perdoaram a Arafat havido haver-se com terrorismo...) nossa: Termos «memória de elefante» como escrevia o Lobo Antunes. Se se fala da da justiça e corrupção Morgado é porque foi como Pacheco Pereira terá sido maoista, se se fala de Manuela Ferreira Leite é porque foi Ministra de Educação e Ministra de Finanças, se se fala Pina ou de Magalhães ou de Vital ou de Soares é porque porque no passado deram esta ou aquela argolada. Mas não sabemos nós ler os «sinais» do HOJE «do tempo» como indicava o bom Papa João... Caímos uma vez e logo não teremos nem haveremos regeneração possível. Cunhal, Salazar, esses sim coerentes... na asneira. Isto é imbuste que vicia de animosidade quase toda a classe política por parte do comesinho cidadão. Olhassem em volta cada dia sempre novo e viveriam com liberdade a alegria de filhos de Deus que também são estes meus tristes e azedos compatriotas. Memória selectiva nos falta e é apanágio de decrepitude fixar-se em longínquos passados com total cegueira para o agora. E mais : as pessoas não poderão errar e aprender de seus erro? Não poderão perdoar-se pecadilhos nenhuns a passados de A B C D ? Grandes balofos juízes somos: tivemos sempre uma mulher um partido uma religião ou uma capela chamada esquerda ou direita e quem não é como nós é um a zurzir e a banir sempre pela mesma pecha que o estigmatiza! Grande Herculano que fugiu a sete pés destes doutores de lei que querem que outros carreguem fardo para o qual não mexem nem mindinho.
Vale!
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