15.8.09

NÃO É PRECISO DIZER MAIS NADA


«Alguns bloggers do "31 da Armada" resolveram hastear a bandeira da Monarquia na varanda da Câmara Municipal de Lisboa, de onde em 5 de Outubro de 1910 foi proclamada a República. Anteontem, dois deles - Henrique Burnay e Nuno Miguel Guedes, que por acaso conheço de O Independente - entregaram a bandeira de Lisboa (que na altura tinham removido) à PSP. Nada a objectar. Portugal precisa de imaginação. O pior é quando se levam a sério, como certa gente levou, esta espécie de "provocações". Porque, evidentemente, a ideia do "31 da Armada" não faz sentido, excepto como protesto cómico contra o actual regime, que se parece cada vez mais com o regime impotente e corrupto do "rotativismo" e do patético D. Manuel II. O "31 da Armada" não pensou com certeza que a bandeira azul e branca, que pendurou na câmara, não representava a Monarquia. Representava a Monarquia da Carta e, com ela, o défice do Estado, a dívida externa (proporcionalmente a maior da Europa) e dois partidos sem legitimidade ou função (o Regenerador e o Progressista), que Portugal inteiro desprezava. Como o "31 da Armada" com certeza também não sabe que repetiu uma cerimónia por excelência revolucionária e republicana. Da Câmara de Paris (do Hôtel de Ville) é que desde 1789 se anunciaram à França (e ao mundo) os "triunfos", que se destinavam a inaugurar uma sociedade perfeita e a salvar o Homem com maiúscula. O radicalismo português copiou isto (era, de resto, todo ele uma cópia) e a farsa do "31 da Armada" copiou a farsa do radicalismo. De qualquer maneira, para meu espanto, houve quem gravemente se perguntasse se o "5 de Outubro" não passava afinal de uma insurreição lisboeta e mesmo, ressuscitando uma velha e absurda tese, se a República não devia ser plebiscitada. O que não anuncia coisa boa para as comemorações do centenário, que se aproxima. A República de hoje não é a República Democrática (e terrorista) de Afonso Costa, interrompida durante meio século pela ditadura de Salazar e Marcelo Caetano. Confundir uma com a outra (como desconfio que vai acontecer) ou glorificar a primeira em putativo benefício da segunda só mostra ignorância (ou má-fé) e a falta do mais preliminar sentido histórico. Quanto à Monarquia, embora isso custe ao "31 da Armada" e ao meu amigo MEC, não dispensa um rei e um rei plausível (incluindo D. Manuel) é exactamente o que ela nunca teve. Ou tem.»
Vasco Pulido Valente, Público

7 comentários:

Unknown disse...

Vi há pouco umas declarações do Allain Touraine chamando a atenção para o fenómeno do aparecimento de "monarquias republicanas" e de "repúblicas monárquicas". O que é Monarquia, afinal? Para já, haveria que saber distinguir a questão de fundo da questão de forma. Etimologicamente, é o governo de um só e isso tanto pode existir nas repúblicas como nas chamadas monarquias. A maioria dos PMinistros europeus são, substancialmente, monarcas, incluindo o Zapatero que é muito mais "monárquico" que o próprio Juan Carlos. A questão da hereditariedade é um mero apontamento que não é essencial ao exercício de um poder "monárquico". De um ponto de vista substancial, a maioria dos reis actuais pouco ou nada têm de monárquicos.

MINA disse...

A propósito do comentário do Francisco, e sem entrar em lucubrações mais profundas, que muito tempo e espaço aqui e agora ocupariam, direi que o Santo Império Romano Germânico foi uma monarquia electiva até Carlos Quinto. E que a Santa Sé é também uma monarquia electiva. Embora ambas vitalícias.

Por outro lado, a República Síria tornou-se hereditária, e o mesmo se espera venha a acontecer com a República Árabe Egípcia e com a Grande Jamahiria Árabe Líbia Popular Socialista.

Enfim, uma matéria interessante para ser oportunamente abordada.

radical livre disse...

a guerra das bandeirolas parece uma homenagem à do Solnado.

os únicos trapos que suporto são os que agitam os árbritos da bola para anunciar "fora de jogo".

ainda existe alguém disponível para morrer pela decrépita república?

Nuno Castelo-Branco disse...

Excelente. A coisa doeu mesmo e vindo do VPV - habitualmente dado a desfechar uma no cravo e outra na ferradura -, parece que surtiu mesmo o efeito que se pretendia. Sem censura.

Mani Pulite disse...

Para fazer o 5 de Outubro foi preciso umas dezenas de tipos armados de espingardas,facas e pistolas concentrados em Lisboa na Rotunda.Para fazer o 28 de Maio foi preciso um desfile das tropas em parada em Braga.Para fazer o 25 de Abril foi preciso uns quantos tanques e chaimites passearem-se pelas ruas de Lisboa.Para derrubar a III República irão ser necessários uma centena de escadotes e 10 Comunicados de Imprensa do Comando Metropolitano da PSP.

Anónimo disse...

De vez em quando o VPV disparata,e não pouco. Então a Monarquia nunca teve um "Rei plausível"? Mesmo que se quisesse limitar à constitucional(o que não diz) tínhamos D.Carlos que tudo tentou para reformar o País,inclusive com a experiência João Franco(que bem precisa de ser estudada a sério,para alem dos apontamentos de Rui Ramos). E exactamente porque plausivelmente estava no bom caminho,foi assassinado,o que não lhe retira "plausibilidade". D. Luis,noutro estilo,deixou o Fontes trabalhar e quando morreu,o país estava bem mais pacificado e avançado. Plausivel,pouco interventivo,mas aceitável. D.Pedro V pouco tempo teve para "corrigir" a terrinha,mas tinha boas intenções e era extremamente popular. Porque não plausivel? E estamos só a falar dos constitucionais. Como VPV não restringe o objecto da sua ironia,há que perguntar-lhe porque é que D.Diniz não foi "plausivel",assim como D.JoãoI,D.JoãoII,D.Manuel,etc. Para a acerada bitola do VPV,todos implausíveis! A suficiência confortável do grande comentador tem destas coisas... Talvez ele se lembre do seu próprio(e excelente) "O Poder e o Povo",em que reconhece que o país em 1910 era quase totalmente monárquico. Sempre com Reis "implausiveis"?

O Encoberto disse...

A mim parece-me que é inquestionável o valor da acção dos 31 da Armada, sendo certo que este 31 foi bem armado. Talvez o Sr. VPV pela sua provecta idade desconheça que o "Darth Vader", personagem que acabou sendo o símbolo deste acontecimento, está do "lado negro" da força...Mas o episódio seguinte será o "Regresso de Jedi", isto é o regresso á normalidade em que o trono português não se herda, transmite-se por aclamação!
O Sr VPV está a cometer o mais básico dos erros, está a resumir a Monarquia ao Rei e numa pessoa como ele não é plausível cometer este erro!
Que a força esteja convosco
Se triunfarmos não perecemos!
AL Mofadinha