2.11.08

OUTRA LISBOA

Esta prosa de Tomás Vasques sobre o Porto de Lisboa, à Rocha do Conde de Óbidos, apesar de passar ao largo da Liscont/Mota-Engil, vale a pena ser lida nem que seja porque está muito bem escrita e, sobretudo, "vivida". Não é todos os dias que se lêem "postas" assim.«Era um tempo em que eu, com 18 anos, de fato-macaco, palmilhava a zona, à hora de almoço, à procura da refeição mais barata. E por lá nunca encontrei as outras «pessoas», aquelas que , hoje, não querem que os contentores lhes ofusquem as vistas . E, muitos deles, têm a minha idade. Os cais, os guindastes, as gaivotas, as tascas, o rio e o cheiro a maresia eram só «nossos». Naquele tempo, aquelas «pessoas», que hoje querem contemplar as vistas, não se queriam misturar com operários a cheirar a nafta e estivadores a cheirar a suor. Mas, hoje, Lisboa já é das «pessoas», como é de bom tom e democraticamente aceite.»

5 comentários:

Carlos Medina Ribeiro disse...

Há, em todo o texto referido, um snobismo de sinal inverso ao que pretende criticar.

Anónimo disse...

Muito bem escrita, sem dúvida. Mas, queira-se ou não, os tempos são outros. Preocupações ecológicas, paisagísticas, urbanísticas, dessa coisa chamada "qualidade de vida"; preocupações dessas há quarenta anos? Hoje já as há. Muito mal consideradas ainda - ou porque as desprezam, ou porque demagogicamente as elevam a píncaros impraticáveis -, mas existem.

E nem só de heróicos operários e estivadores é composta a humanidade digna desse nome. Os que se levantam mais tarde e têm trabalhos que lhes não sujam as mãos nem os fazem cheirar a suor não são, por isso e necessariamente, um bando de frívolos inúteis.

Há um certo travo a realismo socialista nesse texto. Com todos os seus tiques. Do imobilismo temporal até à desconsideração apriorística de quem pense de forma diversa. Nem só a direita é (alegadamente) reaccionária.

Como aliás é, hoje, facto plenamente conhecido.

Costa

Anónimo disse...

Expliquem-me!
O porto de Lisboa é útil ou não?
É necessária aquela infraestrutura para o país ou não?
É ou não um dos melhores portos naturais da Europa?
Deve ou não ser aproveitada toda a sua potencialidade?
O que querem fazer irá ser pior do que aquilo que já existe?
É possível rentabilizar toda aquela potencialidade que a natureza nos deu sem tapar as vistas sobre o edificado arruinado e abandonado de Alcântara?
Alguém se preocupa com toda aquela zona abandonada e degradada de Santa Apolónia até à rotunda com a homenagem ao 25 de Abril, onde se podiam colocar milhares de habitantes, subindo assim, com vantagem para todos, a população do centro de Lisboa?
Será que vale a pena ter a cidade mais bonita da Europa completamente degradada e sem qualquer sustentabilidade?
Em suma! Exisitirá alguma possibilidade de se manter sustentável o porto de Lisboa sem aquele muro de contentores?
Xico

Luísa A. disse...

Gosto da prosa. Como argumento, lembra-me o daqueles camionistas que param em segunda fila para descarregar mercadoria e que, aos protestos da bicha de pessoal a caminho dos empregos que se forma atrás deles, berram que estão a trabalhar. O pessoal da bicha, se lesse esse texto, não deixaria, decerto, de calar as buzinas e amochar, subitamente consciente de que uma coisa é o trabalho e outra são oito horas de mera actividade pensante.

Anónimo disse...

Custava-me muito ver o terminal de contentores com a dimensão projectada naquele local central de Lisboa, com tudo o que ele implica de movimento rodoviário, barulho, poluição. O estuário do tejo tem ainda muitos locais passíveis de acostagem, desde que submetido a algumas dragagens e seria esse o caminho se este Governo soubesse definir prioridades. Mas há outro problema que é a renovação do contrato de exploração antes de ter terminado o vigente, sem concurso público, rapidamente, como que numa tentativa de facto consumado, acautelando mal, muito mal, os interesses do País. E isto tudo não cheira bem.