«O secretário de Estado adjunto da ministra lembrou-se de comparar o que parecia incomparável, explicando que, assim como o aumento dos impostos não pode ser negociado com os cidadãos que os pagam, também as medidas avançadas pelo Governo na área da educação não podem ser negociadas com as partes envolvidas no processo. Esta inovadora tese, que sobrepõe os altos desígnios do Governo aos interesses mesquinhos que guiam os governados, abre as portas a um novo mundo socialista onde o diálogo se transforma numa inutilidade e o consenso é, antes e mais, um sinal de fraqueza que se deve a todo o custo evitar. Entre as habilidades do Orçamento, a abertura às pequenas e médias empresas, o cuidado com os pobres e a atenção aos funcionários públicos, a avaliação dos professores teve o condão de fazer vir ao de cima o verdadeiro Governo do eng. Sócrates e de reacender a sua luta contra os inúmeros privilegiados que se passeiam pelo país. A crise internacional, como se sabe, tem dias: tanto leva à nacionalização do BPN, como se encolhe perante uma classe empedernida que, de acordo com o discurso oficial, anda por aí a protestar na rua porque não quer ser avaliada - ou, pior ainda, porque não está para perder tempo com duas ou três folhas de papel. Como diria o outro, uma classe assim, que não se deixa modernizar, acabará inexoravelmente por ser "triturada". Pelo menos, é o que garante um tal Castilho dos Santos, secretário de Estado da Administração Pública, com preocupante à vontade: "Trabalhadores, serviços e dirigentes que não estejam com a reforma (da administração pública) serão trucidados." Bem pode o eng. Sócrates andar por aí a pregar contra o "capitalismo de casino", tentando heroicamente aproximar-se da esquerda: a verdadeira natureza do seu Governo surge, límpida e cristalina, através destes seus dois secretários de Estado. Um anuncia, de forma descontraída, que os trabalhadores que não estão com a sua reforma vão ser inexoravelmente "trucidados". O outro garante, cheio de si, que qualquer reforma conta, à partida, com a oposição dos que não se querem deixar reformar. Concluindo, não vale a pena negociar com todos aqueles que, por motivos mesquinhos, estão contra as reformas que os afectam, até porque, em última análise, se estes se mantiverem firmes nas suas nefastas posições, acabarão por ser higienicamente "trucidados". Nos tempos do Estado Novo dizia-se que quem não estava com o poder estava inevitavelmente contra o país. O eng. Sócrates e o seu Governo conseguiram ir ainda mais longe: agora, quem não está com o poder está a um passo de ser "trucidado". É obra!»
Constança Cunha e Sá, Público
6 comentários:
A Constança não tem nenhuma razão e a comparação do secretário de estado não é assim tão esquisita, dado que este modelo de avaliação é uma lei da República promulgada pelo PR, depois de aprovada na AR. Portanto, é para cumprir. Quanto ao diálogo, este modelo foi discutido com os sindicatos, que reprentam os professores, durante 2 anos!!! Quer mais diálogo do que isto?
Eu acrescento mais uma coisa: o Governo actual só porque que faz uma "reforma", ela é BOA (mesmo que seja má), só porque é o governo que a faz. Tudo o que vem da alçada central é tudo bom,e todos os que não a entendem assim, são todos maus. O dom da verdade agora é adquirido por decreto.
Tá visto, meu caro João, que o grande perigo para Sócrates, mais que os vazios da Manela ou as estratégias malucas da badalhouca, vem dos cortesãos fala barato lá de casa.
Isso é tudo malta que na juventude sonhava com os "amanhãs que cantam", com as "revoluções culturais", com "o povo é que mais ordena" e com a "sociedade sem classes". Qualquer indivíduo, qualquer grupo, qualquer classe que levantasse objecções, dúvidas ou discordâncias em relação ao Caminho a percorrer, era logo etiquetado de contra-revolucionário, egoísta e mesquinho inimigo do povo e do progresso ... O supremo interesse em defender a revolução, o povo e a felicidade humana desses seus abjectos inimigos, justificava tudo.
Malta dessa, absolutamente certa do seu "iluminismo" e de que são os detentores da Verdade Absoluta e Inquestionável, sempre houve. Por exemplo, são iguais nas motivações e nas consequências das suas certezas, aos que na Idade Média apontavam, perseguiam e lançavam as bruxas para a fogueira.
Hoje, essa malta, mais velha e perante o desastre da aplicação prática dos modelos político-sociais que louvavam, mantêm no entanto toda a arrogância e "narcisismo espiritual", absolutamente convictos que a sua é única e Suprema Verdade.
Quem discorda tem que ser trucidado. No minímo!
Vejam lá se o Ché não deu de frosques de Cuba quando começou a perceber que ele e o camarada Fidel não estavam assim tão sintonizados!
Só os ignorantes não têm dúvidas. Sendo assim, quem esperaria outra atitude deste governo?
Surpreende-me a admiração de certas pessoas. Então o paspalho do socialista de merda que asilou na Mota-Engil já não afirmou em tempos que quem se metesse com o PS levava?
O que me surpreende é que, perante tal afirmação, não tivesse aparecido um maluco que lhe tivesse metido logo o focinho dentro.
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