23.11.08

HOMENS EM TEMPOS SOMBRIOS*

«Uma pessoa abre o jornal ou liga a televisão e revê, pasmado, a velha propaganda antidemocrática de 1930. Umas vezes, subtil; outras vezes, muito taxativa e franca. Umas vezes, melancólica, outras vezes, quase triunfante. A miséria geral e perspectiva de uma miséria maior, a fraqueza do regime e uma irritação crescente anunciam o caos. Manifestamente, a bota deixou de rimar com a perdigota.»

Vasco Pulido Valente, Público


«Em tempos de crise, mais do que nunca é preciso não desistir de olhar as coisas com um olhar crítico, até porque proliferam nesta altura as piores das "soluções", os piores dos aproveitamentos, e cresce a mediocridade. E nós estamos a ser governados tão mediocremente que todo o pessimismo é pouco. Os tempos estão difíceis, mas os que nos vêm outra vez com o Marx deles, e com o Estado e com o "diálogo", estão-nos a vender produtos tão tóxicos como o subprime. Parece uma Alemanha de Weimar cansada e ainda mais triste.»

José Pacheco Pereira, idem

*Título de um livro de Hannah Arendt traduzido na Relógio D'Água
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5 comentários:

VANGUARDISTA disse...

Ainda bem que já alguem percebeu que, passámos os "loucos anos 20" (8o/90), caímos na recessão (igual à de 1929) estamos novamente nos duros "anos 30", à beira dum silêncioso conflito mundial provocado pelo pavor, egoismo e as carências das bancas rotas que se vão espalhar como cogumelos.
Por cá, já não somos independentes politica, económica e militarmente, nem temos quem nos chefie, una e dê alma e moral, para sós ultrapassarmos , pelo menos , uma década de crise (sim , "o mundo" vai afundar-se e só começa a recuperar daqui a, pelo menos, 10 anos !).
Portugal já nem surgirá "à tona" com esse nome!

Anónimo disse...

de Hannah tem o maior interesse o seu livro sobre o julgamento de Eichmann.
no olho por olho alguém acaba sempre só com aquele que Aristófanes (A Paz) diz estar virado para a Lua.
esta paz podre é a dos cemitérios, o único local de igualdade: estão todos mortos, nos jazigos ou na vala comum.

radical livre

Carlos disse...

Um belo livro de Arendt, poucas vezes referido. Gosto particularmente do retrato que traça de João XXIII.

Anónimo disse...

Ler Hannah Arendt é fundamental para compreender os paradigmas da modernidade, não apenas os tempos mais sombrios. A diluição do eu, singular e irredutível, real e palpável, na ideia de colectivo, anónimo e abstracto, decorre da rejeição sistemática da realidade "real" em nome duma ideia de realidade ideologicamente decretada. Num tal cenário a democracia é um acidente de percurso na marcha inexorável para o totalitarismo (qualquer um) e a "banalidade do mal" que Eichmann encarna é, afinal, um elemento irrelevante, porquanto necessário, do processo.
Ana Gonçalves

Anónimo disse...

Ou então: Tempos de homens sombrios.

O Tempo É. Os homens é que parecem estar a desistir de ser Homens, relegando a sua Humanidade (aquilo que destingue o Homem do boneco de plasticina) apenas para discursos de ocasião.