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Mário Crespo prometeu para o seu Jornal das 9, na SIC Notícias, a presença do ministro da Cultura, José António Pinto Ribeiro. Há muita coisa a perguntar a este génio anunciado. Desde logo, é forçoso saber se Pinto Ribeiro concorda com a existência do "seu" ministério ou se se bastava com uma secretaria de Estado ou, no limite, com nada. Depois, Pinto Ribeiro - presumindo-se que concorda com o ministério e com a respectiva burocracia - deve justificar a existência das "direcções regionais" (cinco ou seis) do MC, da OPART, do D. Maria (de Fragateiro & Castanheira), de uma Companhia Nacional de Bailado caduca, de um São Carlos enquistado e nulo, ainda "cativo" da estratégia pessoal e académica de Mário Vieira de Carvalho, a degradação dos deveres de preservação do património, a suicidária sobrevivência dos museus e a manutenção do Tutankamon da Cinemateca, o honorável Benard da Costa, para além de todos os prazos e limites de idade para o exercício de um cargo de director-geral. Pinto Ribeiro, "advogado de artistas mil", na cativante expressão de Fernanda Câncio, responde perante os contribuintes e não perante os "criadores", seja lá isto o que for. Tinha obrigação, dados os seus afazeres profissionais, de libertar a bolsa daqueles e promover o mecenato empresarial ou outro, partindo do princípio que parte da sociedade dita "civil" está interessada na cultura e não apenas em realizar mais-valias simples. Suspeito, no entanto, que Ribeiro já percebeu que está "atado". Até agora limitou-se a acariciar o visível regimental: indicou Pedro Mexia para secundar Benard na Cinemateca e nomeou uma vetusta comissão para preparar, lá para Dezembro, os 100 anos de Manoel de Oliveira. Só isto garante, mais dia menos dia, outro elogio amigo nas páginas de um jornal. Para seu bem político, Ribeiro precisa ultrapassar este pequenino patamar cúmplice e cortesão que forjou a sua imagem antes dela se convolar numa realidade. É disso, no fundo, que se trata. Saber se Pinto Ribeiro é mesmo ministro ou se não passa de mera produção fictícia.
Adenda: Pinto Ribeiro teve o mérito de não surgir baralhado, como a sua antecessora. Não tem dinheiro, mas pareceu-me ter algumas ideias razoavelmente arrumadas sobre, por exemplo, a cultura representar qualidade de vida em todos os sectores de um governo, o disparate da OPART, a preservação e o acesso generalizado aos chamados "bens culturais" e o concurso de outros meios e fundos para estes fins, "descolando" do Estado. A obsessão com os "conteúdos" da RTP, partilhada em conversinhas com o dr. Santos Silva, ou a omissão quanto à hipótese de "desmantelar" a burocracia do ministério que tutela, revelaram a habitual impotência dos inquilinos da Ajuda dentro dos respectivos executivos. Como se costuma dizer, menos mal.