Giorgio Agamben esteve em Serralves. É um excelente exemplo de como pode existir "mais vida" na vida de um licenciado em direito, designadamente, a felicidade de ter sido aluno/ouvinte do derradeiro Martin Heidegger. Quando era para vir, não veio e agora não pude ir ao Porto. Li, no entanto, uma pequena e esquecível entrevista sua no Público. Agamben, nos livros - nos que li - é bastante melhor do que naquelas linhas reducionistas e anti-americanas a que a entrevistadora o conduziu. Talvez outro jornal tivesse podido pegar no homem como devia ser, apesar do registo genericamente "esquerdino". Ignoro. Já quando Sloterdijk passou por lá, em Maio, também não me apercebi de nenhum interesse especial de quem quer que fosse em o ouvir. Voltando aos livros de Agamben, há, na Cotovia, uma coisa sua encantadora - Ideia da Prosa - e outra, traduzida mais recentemente, Profanações, que pode ser visto como um bom "sumário" do pensamento deste italiano original. Pode ser que, entretanto, surja a tradução de Il tempo che resta-un commento alla Lettera ai Romani, o resumo de uma série de seminários do autor em torno das dez primeiras palavras da "Epístola aos Romanos". Da dita entrevista, ficaram-me estas frases, muito a propósito do que por aí se passa e a que só meia dúzia de lunáticos presta a devida atenção. "Uma das coisas mais difíceis que existe é ser contemporâneo. Para estar em contacto com o presente - ou tentar estar - é preciso remover uma série de camadas opacas. É muito mais fácil compreender por que é que temos um primeiro-ministro seguido de uma série de ministros quando vejo a organização dos anjos na burocracia divina. Quer isto dizer que o estado a que chamamos laico tem as suas raízes na teologia. As coisas moveram-se, a ideia de glorificação ficou nas mãos dos media. Mas a função da glória está lá, nos telejornais e nas revistas, quando nomeamos os líderes. Ser nomeado nos media é hoje o estado de glória."
3 comentários:
A nomeação de líderes, por vezes, é presidida por outras lógicas
Pois talvez os blogues sejam a nova moção para que a glória regresse ao cidadão por ser do cidadão e para o cidadão.
Isto há-de tornar-se, no bom sentido, um mundo Lava-pés quanto ao poder, às hierarquias e respectiva glorificação: o exemplo do que deverá ser o poder está dado.
«a ideia de glorificação ficou nas mãos dos media. Mas a função da glória está lá, nos telejornais e nas revistas»
Durão Barroso - um indivíduo com as mãos sujas de sangue
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