25.7.07

DOS LIVROS - 6


George Steiner, como todos os bons professores e ensaístas, é um grande escritor. Nem a "fixação" judaica, presente em todos os seus escritos, diminui - antes pelo contrário - a extraordinária capacidade que possui de nos pôr a pensar. O Silêncio dos Livros* é uma curtíssima reflexão sobre o papel do livro hoje. Retoma - em Steiner a persistência temática é a melhor evidência da sua coerência intelectual e da sua aristocracia de espírito, ambas qualidades em vias de extinção no mundo em que as elites se movem - coisas postas em letra de forma num livro bem mais antigo e, nem por isso, mais "desactualizado", No castelo do Barba Azul - algumas notas para a redefinição de cultura, traduzido na Relógio D'Água: "os livros bem-amados são a sociedade necessária e suficiente do indivíduo que lê a sós". Este Silêncio fala do essencial que nos anda a escapar por causa das "competências" (essa palavra hedionda do calão "eduquês") e do facilitismo. "A educação moderna cada vez se assemelha mais a uma amnésia institucionalizada. Deixa o espírito da criança vazio do peso das referências vividas. Substitui o saber de cor, que é também uma saber do cor(ação), pelo caleidoscópio transitório dos saberes efémeros. Reduz o tempo aos instante e vai instilando em nós, até enquanto sonhamos, uma amálgama de heterogeneidade e de preguiça." E quando se "cede aos valores veiculados pelos mass media ou ao matraquear da publicidade, como acontece hoje em dia na Europa ocidental, assistimos ao triunfo da mediocridade."

*seguido de Esse vício ainda impune, de Michel Crépu (Gradiva, 2007)

4 comentários:

VANGUARDISTA disse...

Uma mediocridade convencida de sapiência e dai que sempre urgente em usufruir materialmente aquilo que não é capaz de produzir.

Enfim uma sociedade sem valores e sem princípios, onde aos direitos não correspondem os respectivos deveres (sociais, familiares, etc.).

A propósito , uma historia engraçada:
O meu amigo Vasco ofereceu-se para, gratuitamente, dar aulas de informática num bairro degradado, através de uma instituição religiosa que ali dá apoio social, isto senão quando, ao ajustar os termos do seu voluntariado se apercebeu que os “alunos” iriam receber uma determinada quantia por cada aula recebida.
O Vasco, sexagenário experiente e de princípios, com uma saudável e sempre irreverente “loucura”, que sendo um "bem nascido" comeu, ingloriamente, "o pão que o diabo amassou" na Guerra do Ultramar, que aos 50 e poucos anos sofreu o desemprego quando a multinacional “ se pirou”, "pôs os pés à parede" e em ultimato exigiu que só fazia o voluntariado se os beneficiários usufruíssem apenas o que aprendiam e não fossem “remunerados” por fazerem o favor de aprender. E, lá conseguiu impor os seus princípios.

Moral da historia:
1.
A corrupção de princípios conduz á mediocridade;
2.
É preciso pormos os “pés à parede” face à corrupção de princípios.
3.
A prática da corrupção de princípios pode estar, até ingenuamente, onde menos se espera.

jcd disse...

Gostava de ter sido eu a escrever este texto.

Anónimo disse...

O problema de Steiner é que nunca conseguiu explicar quando é que o mundo foi um sítio melhor, menos medíocre. Quando foi? Quando havia só dois ou três literatos?

Anónimo disse...

Pois é, não há CONHECIMENTO...apenas informação!

E, se formos aos "princípios"...às "referências" não vemos nada, só encontramos publicidade, marketing, virtualidades........

Estou muito feliz com os meus 50! Adoro ter aprendido quando se ENSINAVA! Adoro ter sido educada quando nos transmitiam VALORES!!!