Sobre o "novo partido", apenas duas ou três vulgaridades. Em primeiro lugar, sempre que alguém saiu de um partido do regime para criar outro partido do regime, gerou puras inutilidades anãs. O PS "deu", logo em 74, uma coisinha chamada "frente-não-sei-quê" do Manuel Serra, e os camaradas Carmelinda Pereira e Aires Rodrigues que costumam aparecer em todas as eleições. Depois, "deu" o "movimento reformador" do António Barreto e do Medeiros Ferreira, a que pertenci, sem pretensões partidárias, a pensar na evolução do próprio regime, reforçando a componente presidencial, nas instituições políticas, e a flexibilização do mercado, na componente económica. Estávamos - é preciso recordá-lo num momento em que pululam liberais por todos os lados que nessa altura eram das "extremas- esquerdas"- em 1979, a menos de cinco anos da "revolução". Depois ainda "deu" a UEDS, do generoso Lopes Cardoso e da D. Constância, o eterno Vitorino. Em 1980 "fingiram" uma "frente republicana e socialista" com a ASDI, a grande dissidência do PPD/PSD - o grupo parlamentar que fugiu quase todo de Sá Carneiro - que acabou estatelada aos pés do mencionado Sá Carneiro, na repetição da maioria absoluta da AD. O PPD entretanto já tinha "dado" um sinal em Aveiro, contra a alegada "ditadura" do antigo deputado da "ala liberal", com Graça Moura, Mota Pinto, Sá Borges e outros a abandonarem o partido logo em 75. Do CDS, aquando do "transformismo" em PP, saiu muita gente e, finalmente, do próprio PP, Manuel Monteiro que anda para aí lamentavelmente a falar sozinho. Os que deixaram o PC, integraram o PS com o sucesso que se conhece, e só Zita Seabra levou o famoso "desvio de direita" às últimas consequências. Os "extremas", ou fundiram-se sob o chapéu de abas largas do BE, ou ficaram no irrelevante MRPP do burguês dr. Pereira. Em segundo lugar, a direita, porque é bronca e fisiologicamente governamentalista como dizia o Cunha Rego em 82, não sabe respeitar-se ou dar-se ao respeito. E respeitar-se e dar-se ao respeito é não promover mediocridades como salsichas de talho e dar tempo ao tempo. Mário Soares, que foi o que quis neste regime, apenas segurou a cadeira de chefe de governo entre 1976 e 1978 (dois anos) e 1983 e 1985 (outros dois). Fora isso, e contando com os anos de chumbo, Soares esteve no "contra", à vontade, quase a vida toda. Foi eleito PR aos cinquenta e oito anos e Mitterrand, depois de três ou quatro tentativas falhadas, aos sessenta e cinco. Isto é, e em terceiro e último lugar, enquanto a direita estiver entretida com os seus bonecos insufláveis e com os seus dirigentes instantâneos, sem estofo nem biografia, não vai a lado algum. Mais. Foi por causa desta mediocridade carreirista e analfabeta que outro subproduto instantâneo - Sócrates - chegou onde chegou, "elogiado" agora por antigos epígonos oportunistas das direitas. A direita não precisa de mais labregos. Precisa de paciência e de um módico de seriedade. Até por isso, Marques Mendes deve deixar concorrer o maior número possível de "desejados" ao seu lugar para que o país se aperceba da cãzoada de inúteis que prolifera nas secções do PSD, de norte a sul do país. A vaidade pessoal ou um bom plasma na sala para nos revermos narcisicamente nunca deram "novos partidos". Deram vaidades pessoais e uma televisão na sala. Até porque um "novo partido", construído a partir do ranço dos "velhos", não se recomenda.
8 comentários:
De facto, "A direita não precisa de mais labregos", é suficiente uma personagem como o Sócrates estar actualmente à frente do PS
Concordo com tudo, excepto com o facto de você chamar a Sócrates "sub-produto instantâneo". Por acaso conhece Sócrates? Já alguma vez falou com ele? Suponho que não. Garanto-lhe que ,se o fizer, mudará de opinião.
Abrupto:
«Na sua identidade genética (dada por Sá Carneiro), e no seu "programa não escrito", a sua história, o PSD é outra coisa no sistema político português e a sua força, não a sua fraqueza, vem daí. Sempre que o acantonam à "direita" perde, o que se verificou mais uma vez nos anos recentes de governo PSD-PP, o período que tem mais interesse analisar para se perceber a crise actual.»
Disseram exactamente o mesmo quando Sarkozy decidiu assumir a UMP como de direita e jogar a fundo no combate aos valores da esquerda.
Caro João!
Não podia estar mais de acordo consigo!
O seu péssimismo, por vezes, deixa-me algo "deprimido" mas ele é cruelmente real.
E no que toca aos partidos, a coisa para mim vai tão desalentada que deixei de votar. Marco presença em silêncio, contra a vozearia acéfala reinante.
Cumprimentos.
A direita é o governo.
Qualquer governo que o pretenda ser durante mais de dois anos é de direita. Um governo de esquerda depois de um ano de bodo aos pobres ou cai de bôrco ou o atiram pela porta fora.
Não precisamos de partido de direita. Já temos. Está a governar Portugal. Isto deveria o Senhor J.G, que lê Kant, Friedrich Nietzsche, Arthur Shopenhauer, e outras inúteis mentes brilhantes produtoras de coisa nenhuma, saber
Um novo partido ou não dá em nada, como a ASDI, o manecas das intentas e outros, ou se mostrar com capacidade para entrar para o parlamento será tomado de assalto pelos "deserdados do tacho", como foi o PRD.
O PRD, que foi o partido, saído mais ou menos do nada, que mais votos e implantação conseguiu, foi criado a partir da convicção que o general Eanes poderia e devia continuar a servir o país após o final da sua Presidência em 1985. Curiosamente durou (em força) nem uma legislatura. O incómodo que este (Eanes) demonstrou na campanha seguinte serve para demonstrar que, efectivamente, estas iniciativas servem apenas fugazmente para aquilo que J.G. demonstra no seu post. A partidocracia Portuguesa já não vai lá. Esperam-se outras formas de poder e representação popular, talvez já experimentadas, mas sempre passíveis de renovação e adaptação ao século XXI. Porque não reler Oliveira Martins? Ou então "A Tertúlia Ocidental" de António José Saraiva, sobre os encantos e desencantos dos finais do século XIX?
Nenhum partido tem hipótese porque o que a malta gosta é de ganhar. Preferem ganhar mal do que perder bem.
No principio ainda se cria a ilusão dos 8% que se transformam em 15% e depois em 35% mas rapidamente vem ao de cima a falta de persistência e o "balanço individual de perdas". Quem dá a cara poderia estar a beneficiar em lugares chave no governo em vez de se meter numa alhada que, "se calhar nunca vai dar em nada".
O eleitor dirá que já votou nas últimas eleições e não serviu de nada...
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