8.7.07

DOS LIVROS - 2


O solitário e o exílio interior*

"O solitário sobe e desce pelo tempo a seu bel-prazer. Fala o menos possível. Entrou na abstinência sexual e só de longe em longe se permite «esgaramantear uma laustríbia», como dizia, sem étimos aparentes, o Mário Ramiro. O solitário está nas suas sete quintas, quer dizer, nos sete dias da sua semana, dias que entram pelas noites, que lividamente se confundem com os dias. (...) O exílio interior pressupõe um corte total com os meandros por onde se movimentam os chamados carreiristas, sempre prontos à transigência. (...) O exílio interior pede uma grande força de ânimo (e um nojo não menor), a alimentação constante de um ideal, um amor sem limites à verdade, o afrontar corajoso de uma envolvente solidão, um elevado espírito de sacrifício. O exílio interior tem algo parecido com a atitude mental dos místicos: o abandono dos pactos com este mundo mundanal para a preservação de um único: o pacto com Deus. O exílio interior (...) é o comportamento coerente que se oferece a quem, rodeado pela adversidade, teima em preservar o pequeno núcleo que faz, fará com que um dia possamos - nós, os pactuantes - dizer aquela pessoa."

*excertos de duas crónicas de Alexandre O'Neill no livrinho Uma Coisa em Forma de Assim, da Assírio& Alvim, uma excelente leitura ou releitura de cabeceira nestes tempos de chumbo, individual e colectivo, de um "novo" Portugal "amordaçado".

3 comentários:

Anónimo disse...

«Um novo Portugal amordaçado», muito exactamente.
O percurso é de pasmar ...

Anónimo disse...

o seu chumbo individual e muitissimo mais questionavel que o colectivo.

Anónimo disse...

Ainda bem que aqui trouxe o O`Neil, pois ele saberia retratar a noite que está a envolver a vida dos portugueses.

Há pouco li uma biografia sobre ele, mas achei muito fraquinha - muito superficial e com poucas coisas novas.

Espero que se lembrem dele mais vezes aqui, porque faz falta avisar a malta.

Digo eu...

Saloio