2.8.05

O MEDO

Hoje, pelas três da tarde, o Chefe do Estado recebe, a seu pedido, Mário Soares. Por causa de um programa de televisão que o tratou mal, Pedro Santana Lopes também foi recebido por Jorge Sampaio e "ameaçou" abandonar a "política". Presumo que os motivos que levam o ilustre antecessor de Sampaio a Belém sejam exactamente os contrários que motivaram Lopes. Soares quer emprestar gravidade e um "cunho nacional-unanimista" ao seu projecto faccioso. Quem, pois, melhor do que Jorge Sampaio, que se presta a praticamente tudo, para o efeito? E que não se importa, pelos vistos, de aparecer como actor secundário desta pequena farsa a que Soares chamou de "reflexão"? A comunicação social dá uma ajuda ao incluir este "passo" no "processo reflexivo" de Soares. E há formas de vida inteligente que fingem que acreditam. Acontece que Jorge Sampaio não faz parte da "sociedade civil", não é "independente" e não está ao serviço de qualquer corporação ou partido. É, por muito que lhe custe nesta fase terminal de mandato, o "presidente de todos os portugueses". Não é uma mera caução ambulante da "dinastia Ming" socialista que quer, a qualquer preço, manter Belém "em família". Este episódio recambolesco merece atenção. Eu já esperava manifestações de temor reverencial e contorcionismos de origem variada perante a putativa candidatura de Soares. Não podia, no entanto, imaginar que eles começassem logo pelo topo da hierarquia do pobre Estado português. Sampaio encerra o mandato como começou. Com medo de Soares.

1 comentário:

Anónimo disse...

Se os PSD querem, a todo o custo, enfiar o Cavaco em Belém, porque raio é que o PS e a esquerda toda não podem querer lá o Soares? Será que só a direita é que tem "direitos" neste país?