A GUERRA
O Sr. Scolari, que é um assalariado da notabilidade Madaíl, informou o mundo que, afinal, o jogo da selecção que ele treina, com a Espanha, não é um "jogo": é uma guerra. Este senhor, cujos verdadeiros méritos ainda estão por apurar, excitou da melhor maneira as já excessivamente excitadas bases lusas, recorrendo a este preciosismo linguístico-histórico. Do outro lado, o Sr. Camacho, a quem também já foi proporcionado conhecer a lusa valia, veio dizer que "os portugueses não funcionam bem sob pressão". Neste Euro, depois da humilhação grega, por causa da "pressão" e das vedetas cansadas, era no mínimo esperável a derrota dos encalorados e pouco animados russos. Deu, pelo menos, para três dias de júbilo nacional e para os jogadores manterem alguma "grace under pressure". Em matéria de "guerra" com a Espanha, porém, os antecedentes históricos recomendam alguma prudência. Suspeito que a "pressão" e a "guerra" inventada pelo Sr. Scolari irão produzir um mau resultado, como aconteceu no passado, e não estou a pensar só no futebol. Tudo isto podia, no entanto, ter sido evitado. Bastava não ter havido um 1 º de Dezembro, há quase quatrocentos anos atrás. Como escrevi na "comemoração" do ano passado, olhando ao País que somos e ao que a Espanha é, o episódio do 1º de Dezembro e respectivas sequelas bem podem ter representado um passo atrás. Da mesma forma que me considero federalista, já fui mais céptico quanto a ser "iberista". Entre outras vantagens, teríamos sido poupados a esta discussão idiota acerca de uma desnecessária revisão constitucional e poderíamos ter construído um sólido corpo de elites em diversas áreas, cuja falta se sente cada vez mais, desde as universidades a S. Bento, passando pela administração pública e pela "sociedade civil". O desastre de Alcácer Quibir levou-nos as poucas que possuíamos. E daí em diante é o que se sabe. Assim como estamos agora, julgamo-nos independentes, contentinhos e "europeus". Não estará porventura no momento de voltar a atirar alguém, de novo, pela janela?
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