5.9.03

UMA ESTAÇÃO NO INFERNO

As primeiras criaturas da GNR já estão a caminho do Iraque para experimentar os 50 graus à sombra. Vão dois ou três graduados, e depois segue a soldadesca. Eu, na linha de François Mitterrand, até acredito na força simbólica dos grandes gestos. Acontece que este gesto de mandar a GNR, e eventualmente mais tarde, a própria tropa para o Iraque, para um composto multinacional, nem é grande nem é simbólico. No actual "estado da arte" no Iraque, onde nem sequer reina a pax americana, nem a da ONU, praticamente tudo o que vem de fora é para abater, e no sentido literal do termo. Sejam xiitas, sejam sunitas, sejam saddamistas, ou sejam lá o que forem, os iraquianos olham com a maior (e bem armada) desconfiança e desprezo, o Outro. Ninguém- a começar pelos americanos e pelos ingleses - estava ou está minimamente preparado para o que se ia seguir à remoção do ditador. Os primeiros já acusam mais baixas nesta fase, no que na guerra propriamente dita. Falar de "administração do Iraque" nesta altura do campeonato, seria risível, se não fosse trágico. É, pois, neste contexto "paradisíaco" que uma centena e meia de portugueses vai aterrar. Espera-os uma estação no Inferno.

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