19.9.03

UM PONTO FINAL

Vamos lá tentar concluir o raciocínio do post de ontem sobre o Teatro de São Carlos. De caminho, pode servir para outros, designadamente o D. Maria. O ministério da Cultura dispunha, desde 1997/1998, de um corpo legislativo razoavelmente harmónico, de um conjunto de diplomas orgânicos razoavelmente bem feitos e adequados aos propósitos dos organismos. Depois, havia uma base também razoável de sustentação orçamental para aquilo tudo. E, finalmente, dado nada dispiciendo, havia o ministro, Manuel Maria Carrilho. Os governantes têm, quase todos, a irreprimível tendência para deixar a sua marca, e o caminho mais fácil, num país de "jurisabundância", é fazer mais leis. Para os teatros, as tutelas, em vez de se preocuparem com o problema orçamental, só pensam em alterar os respectivos estatutos. O resultado está à vista: um túmulo no Rossio, uma trapalhada no Chiado. Do que se sabe, pretende-se que sejam geridos por conselhos de administração chorudamente pagos, deixando fora destes as direcções artísticas, como os treinadores nas famosas "sad's". Presume-se que o director artístico também venha a ser bem pago, como é já o caso do Teatro São Carlos, cuja lei orgânica foi alterada exclusivamente para permitir a entrada do actual titular. Acho isto tudo um razoável disparate. Não só não vejo necessidade, depois do péssimo exemplo da defunta Fundação São Carlos, e no actual contexto orçamental, de presumíveis prebendas despropositadas para gerir os teatros, como entendo que os directores artísticos, sem prejuízo de poderem integrar o órgão de gestão, não devem ser os presidentes ou directores dos teatros. O que vi e conheci no São Carlos bastou-me para, se tinha quaisquer dúvidas, ficar sem elas, nesta matéria. O D. Maria repousa, para já, num quase eterno descanso. O São Carlos vive um frenesim vazio, virado para dentro, e sem que nada de verdadeiramente estimulante lá se passe, como vimos ontem. Como tudo isto custa dinheiro aos contribuintes e paciência aos trabalhadores, conviria pôr-lhe um digno ponto final.

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