A MERDA E O ESTADO
Nos idos de 75, a expressão "merda", na versão "bardamerda", foi introduzida no léxico do Estado pelo então primeiro-ministro Pinheiro de Azevedo. Alguns grupos folclóricos da época, acusavam-no de "fascista" e ele, no seu estilo desbragado e sincero, mandou-os "à parte". Naquela altura, era só mais um fait divers. Em 2003, na comemoração dos cento e muitos anos da veneranda instituição que dá pelo nome de Supremo Tribunal de Justiça, onde têm assento umas obscuras e subtis figuras que, em última análise, podem decidir radicalmente as nossas vidas, o termo foi inesperadamente recuperado. Andava a pobre da Sofia Pinto Coelho, da SIC, a saltitar de magistrado em magistrado para saber se era jubilado, conselheiro ou outra coisa qualquer de suma importância, quando passou por ela o presidente do Tribunal da Relação de Lisboa. Sofia tentou perguntar-lhe qualquer coisa, mas a criatura atalhou "que não queria dizer nada". E, virando-se para a câmara, foi dizendo, ameaçando, que "ainda partia aquela merda toda". Eu ouvi e está no video da reportagem. Este cavalheiro é um magistrado judicial, presidente de um tribunal superior e um órgão de soberania do Estado português. Não é um vulgar acosssado, daqueles que enchem os noticiários das televisões, a quem se quer, a todo o custo, arrancar uma declaração. Convinha, por consequência, que cuidasse da língua. E que não fosse tão lesto a confundir o Estado com a merda, apesar de tudo.
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