13.9.03

RETRATO DO TURISTA ENQUANTO CÃO

Estive uns dias dias de férias num país dito do terceiro mundo. Juro que não fui "para fora cá dentro"! O que maça nestas deslocações é a vaga sensação de não se ter saído verdadeiramente disto. Via televisão-cabo, de aqui só me chegaram imagens sobre a pedofilia e a RTP, e dos regressados fogos. Entretanto pairam uma névoa e um cheiro a queimado no ar que incomodam, em Lisboa. Eu costumo viajar sozinho. Das poucas vezes em que me ocorreu a sublime ideia de ir acompanhado, percebi que estava, dessas vezes, completamente só, apesar da presença de uma criatura conhecida por perto. Nessas alturas, descobrimos que, afinal, a criatura nunca foi assim tão conhecida. Só que já é tarde... Assim, viajo eu, levando na bagagem os meus pesadelos e os meus fantasmas. É uma ilusão pensar que estes ficaram em casa, de férias. Lá surgem a meio de um dia, ou numa insónia inesperada, disfarçada com uma leitura noite adentro. Por isso, consumo daqueles "pacotes" que me obrigam a partilhar viagens com famílias, casais, amigos e amigas que, sem se conhecerem de lado nenhum, passada uma hora, julga-se que andaram todos na escola uns com os outros. Movem-se nos aviões, de conversata parva em conversata parva, numa obscena intimidade de uma semana feita. Trazem autênticos carregamentos de inutilidades e de futilidades. Normalmente não perceberam nada, nem procuraram perceber nada da vida do "outro" que visitaram. Movem-se como tribo autista, sem abdicaram da língua pátria, quase sempre mal falada e sem abdicarem uns dos outros. É o Portugal dos Pequeninos "on the road"...

Sem comentários: