29.9.03

ANTIGOS

Depois da apólice de seguro que o Dr. Barroso ofereceu ao Dr. Portas, sem aparente prazo de validade, nada como buscar o conforto nos mais modernos, os antigos. Bem anda Pacheco Pereira que nos induz ao convívio com Píndaro, por exemplo. Um homem dos tempos em que o gozo da competição era apenas isso, um puro gozo. E em que a "vitória" era apenas celebrada simbolicamente com uns ramos na cabeça, sem compensações materiais, como mera "honra". A glória daquele desaparecido mundo pagão residia nessa felicidade arrancada ao quotidiano, partilhada por homens esbeltos e de forte alma, eternizados nus em estátuas conhecidas. Tem razão a Professora Maria Helena da Rocha Pereira a quem pertence a tradução dos versos que se seguem. É bem melhor viver com os antigos.

Uma só é raça dos homens e dos deuses.
Ambas respiramos, vindas da mesma mãe.
Porém, um poder bem distinto nos separa.
Uma nada é: e o brônzeo céu, esse permanece
sempre seguro.
No entanto, algo nos aproxima dos imortais,
ou o espírito sublime
ou o corpo, apesar de não sabermos que caminho,
de dia ou de noite,
o destino traçou para nós percorrermos.


Referência: Sete Odes de Píndaro, selecção, apresentação, tradução do grego e notas de Maria Helena da Rocha Pereira, Porto Editora, 2003.

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