3.9.03

DA FRANÇA E DA ALEMANHA

Poucos dias antes de morrer, a 6 de Janeiro de 1996, François Mitterrand, no seu leito da Rua Frederic LePlay, em Paris, escrevia afanosamente e à mão o seu "testamento político", que viria a ser o livro, não terminado, "Da França e da Alemanha" (Ed. Círculo de Leitores). Mitterrand defendia uma União Europeia assente no "eixo" franco-alemão. Nada de extraordinário, já que a illha do Sr. Blair nunca pesou excessivamente nas contas dos então líderes do "eixo" que, relembremos, se davam muito bem com a Sra. Thatcher. Nas recentes peripécias iraquianas, o "eixo" honrou a memória de Mitterrand e não foi tomar o pequeno almoço com o Sr. Bush. Vem isto a propósito de um post do JPP. Ele queixa-se de que nós, pobres coitados, andamos neste aperto para cumprir o famigerado Pacto de Estabilidade e Crescimento - destinado, consta, a peneirar ainda mais os países do sul da União -, enquanto que a França e a Alemanha passam incólumes por sobre a meta fixada do déficit público, com a aparente tolerância de Bruxelas. JPP fala em humilhação se não tomarmos uma atitude de firmeza. Eu respeito imenso e quase sempre as posições de JPP, nestas e noutras matérias. Mas ele, bem melhor do que eu, sabe o que é que nós verdadeiramente pesamos nas contabilidades de Bruxelas e da União Europeia. Para bem ou para mal, a França e a Alemanha são grandes países e, como tal, têm desígnios e ambições que nos escapam por inteiro. Ou seja, mandam. A nossa indigência periférica não estará nunca à sua altura e jamais se ultrapassará por sermos muito certinhos nas contas, muito obedientes ao Pacto ou por nos mostrarmos "firmes e hirtos" nas reacções. Ninguém nos vai dar mais importância por isso.

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