HOMENAGEM
Sérgio Vieira de Mello vai ficar sepultado, em Genebra, muito perto de Jorge Luis Borges. Numa tradução livre de um seu poema, lembro os dois. Ter-se-ão certamente por boa companhia. Eram dois homens bons, cada qual na sua livre maneira de interpretar a palavra esperança.
Já somos o esquecimento que seremos.
A poeira elementar que nos ignora
e que foi o ruivo Adão e que é agora
todos os homens e que não veremos.
Já somos na tumba as duas datas,
do princípio e do fim, o esquife,
a obscena corrupção e a mortalha,
os ritos da morte e as elegias.
Não sou o insensato que se agarra
ao mágico som do teu nome:
penso com esperança naquele homem
que não saberá que estive sobre a Terra.
Por debaixo do indiferente azul do céu,
esta meditação é um consolo.
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