4.8.03

CALAMIDADE

Chegam-me pelas reportagens, sobretudo na televisão pública, imagens do País a arder. Neste momento, apenas três distritos parecem escapar às labaredas. Os bombeiros, poucos e exaustos, fazem o que podem. As suas viaturas, as que resistem, assemelham-se a carrinhos de brinquedo ao pé da ameaça do fogo, e as mangueiras, os baldes e outros utensílios de combate às chamas seriam risíveis se a situação não fosse de absoluta tragédia. Os nossos compatriotas que estão a sofrer directamente, nas suas casas e bens, o efeito devastador dos incêndios, são a imagem cruel da frustração e do desespero de quem, neste momento-limite, se sente profundamente só. Visto de cima, do Poder em helicópteros, julgo que tem sido o Presidente da República quem melhor tem estado à altura da situação, solidário e atento. Vem aí uma reunião com uma tardia declaração de "calamidade pública", depois de um ou dois pronunciamentos inconsequentes e completamente infelizes. Entende-se que estava praticamente quase tudo por fazer. Pode ser que me engane, mas este inferno poderá vir a tornar-se num incómodo "buzinão" silencioso para quem não soube intuir a tempo a "calamidade".

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