5.11.11

A "AGENDA IDEOLÓGICA"



Alguns escrevinhadores e outros tantos pensadores de televisão andam muito preocupados com a "agenda ideológica" do Governo. Segundo esta gente atormentada, o Governo possui uma perigosa "agenda liberal" ou "neoliberal", quando não "conservadora" ou "neoconservadora", destinada a acabar com o extraordinário "estado" a que isto tudo chegou. Não nego que o Governo tem forçosamente de fazer qualquer coisa de profundo e duradouro no Estado de maneira a que, nas suas funções essenciais, não soçobre de vez. E por Estado quero dizer o propriamente dito, central, local e regional, o seu aberrante sector empresarial e as participações ruinosas nas gloriosas PPP's que comprometem gerações inteiras. Mas a "agenda ideológica", em si mesma, não interessa nada a não ser a académicos com pouca relação com a chamada vida material ou a pessoas que precisam de encher colunas em jornais. Quando assinei e ajudei a divulgar o Manifesto Reformador de 1979, com dezoito anos, praticamente defini a minha "agenda ideológica" para o resto da vida. Estava lá o essencial: evolução do regime político, flexibilização do sistema económico e exercício da cidadania para além dos partidos. Não sou "liberal" nem "conservador" ou "neo" isto ou aquilo. Prefiro a toda essa tralha (e à contra-tralha das esquerdas apoquentadas) o pragmatismo do insuspeito Mário Soares numa entrevista de 1984. «Nunca dei uma excessiva importância aos debates ideológicos e sempre condicionei muito mais a minha acção pelas relações políticas e tácticas no terreno, por forma a, pragmaticamente, levar a água ao meu moinho.»

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