21.9.10

A "CARREIRA" E A "POSIÇÃO NACIONAL"


Um leitor, comentando outro leitor ("Apesar do inegável brilho intelectual de MMC, um embaixador em funções não se pode dar ao luxo de ter estados de alma públicos que comprometam a posição nacional"), comentou assim: "Pois não. Mas depois correm todos a inaugurar ruas e praças com o nome de Aristides de Sousa Mendes, porque o outro, o das botas, é que era mau!» Tem razão. Quando a "posição nacional" é idiota, quem a representa tem o dever de protestar a idiotice e de poder delegar num inferior hierárquico a assunção pública da idiotice. Que não deixa de ser uma idiotice por ser "nacional" (se calhar até é mais idiota precisamente por isso: porque despreza o contexto internacional em que era preciso tomar a posição). O embotamento "nacionalista" de Pedro Santana Lopes releva do mesmo equívoco. Como ensina história diplomática de Portugal, devia saber que "a carreira" nunca se distinguiu pela subtileza. As constantes da dita história (bem como a sua complexidade) surpreendem apenas decisões políticas, umas acertadas, outras menos a que "a carreira" se limitou a aquiescer sem jamais pensar nelas. Não pertencendo à "carreira", Carrilho, nomeado pela política, tomou, no caso do director-geral da UNESCO, uma posição política. Que, como se viu, nada teve de idiota.

Adenda: O MNE Amado - um dos sessenta e nove candidatos a candidato à sucessão do querido líder - "desmentiu" Carrilho, quer dizer, informa que o informou em Abril de que, na "rotação de Outono" dos senhores embaixadores, o "rodava" para casa. Isto tudo foi "informado" pela chefe de gabinete de Amado, cujo nome não retive, e suscita esta notícia online subscrita por um jornalista e pela directora do jornal. A directora do jornal não terá mais nada para fazer ou uma chefe de gabinete impressiona? Por que é que não seguem, antes, o trilho dessa "rotação"? Será que ela só foi decidida na passada segunda-feira, coincidentemente com a saída do livro ali à direita (e de uma entrevista), ou os senhores embaixadores que "rodaram" já sabiam para onde iam e de "papel passado"? E por que é que Amado só "reagiria" ao episódio "director-geral da UNESCO" em Abril deste ano quando ele ocorreu em Setembro do ano passado? Vá lá, senhora directora e Luciano Alvarez, é só mais um esforço.

9 comentários:

Anónimo disse...

"A única atitude intelectual digna de uma criatura superior é a de uma calma e fria compaixão por tudo quanto não é ele próprio. Não que essa atitude tenha o mínimo cunho de justa e verdadeira; mas é tão invejável que é preciso tê-la."
-- Fernando Pessoa

E, depois
O M.M.Carrilho desistiu do lugar na CML por não conseguir conciliar com o seu assento na AR
ah,ah,ah
para a Unesco já não se importou de abdicar do seu lugarzinho como deputado.
E, depois
só perdeu
um tacho invejável


ass.:a invejosa

Anónimo disse...

1- A comparação entre a salvação de milhares pessoas da prisão ou da morte a um voto imbecil num organismo internacional não é comparável.
2-Quem exerce cargos diplomáticos não pode tomar posições públicas sobre política interna. Quando fez algo semelhante, Pacheco Pereira renunciou à embaixada para que estava apontado.
3- De igual modo, o representante, em caso de «objecção de consciência», deve tomar todas as medidas para que essa sua atitude não seja conhecida do público - sem embargo de tomar as providências necessárias para salvaguarda do registo da sua discordância.
Tudo isto deriva de princípios que deviam ser entendíveis por todos já que norteiam o comportamento dos diplomatas de qualquer país civilizado.
4- O cumprimento do dever - ou a sua falta, mesmo que habitual ou até generalizada não é desculpa aceite por gente de bem.
Saber da exoneração pelos jornais é um hábito que terá ficado do tempo do Prof. Salazar, mas é uma grosseria impraticável.

Alves Pimenta disse...

Anónimo das 5:28

"A comparação (...) não é comparável". Boa!
O dr. Salazar mandava um cartãozinho, não demitia através da ANI ou de qualquer jornal. Falar do que não se sabe dá nisso.

Alves Pimenta disse...

Anónimo das 5:28

"A comparação (...) não é comparável". Boa!
O dr. Salazar mandava um cartãozinho, não demitia através da ANI ou de qualquer jornal. Falar do que não se sabe dá nisso.

Anónimo disse...

Hoje, qualquer chefe de missão, embaixador, diplomatas em geral, têm que dispor de coluna maleável. Se a querem usar direita, não se filiam no grupo, ou, filiados, recusam aqueles cargos. Afinal, o homem apenas enunciou verdades do domínio público! A intolerância é o que se sabe há muito e a consequência, previsível: é assim neste Estado europeu à beira-mar quase afundado.

Jorge Diniz disse...

Dizem os estudos científicos que as "vozes divergentes" são as mais amigas das organizações.
Na verdade, preocupam-se. Por isso divergem e, sobretudo, assumem a divergência, conquanto querem corrigir erros.
Essa divergência, infelizmente, só pelo decurso do tempo é, em geral, reconhecida como a "posição certa" (há tantos exemplos na História).
Mas, para os "videirinhos" presentes (QUE MANDAM - têm o PODER), o MAIS FÁCIL é "calar" essas vozes através de exemplos como este.
Não que Manuel Carrilho o vá "sentir no corpo" (disso está salvaguardado). No entanto, este "exemplo" mata qualquer veleidade ao nascimento de novas "vozes divergentes" (O QUE ESTÁ A DAR É SER "CARNEIRADA").

Por isso, o Estado chegou ao nível que se conhece!!!

E mais não digo, porque o nojo é muito.

insurrecto disse...

E nessa tal de rotação, o sobrinho Barroso do tio Soares não larga o tacho de Pequim onde há anos se viu conselheiro cultural sem qualificações e por uns favorzinhos bem Orientados? Homens com mérito, se abrem boca.... rua! É mais que tempo de se perceberem essas nomeações pagas a peso de ouro com os nossos impostos!

Anónimo disse...

Esta porca questão, tornada porca pela vingança norte-coreana do governo-pinto-de-sousa, deixará de ter relevo muito em breve. E depois, questões de ética, obediência, lealdade, princípios, valores que o Estado devia ter salvaguardado e não o fez, o valor de Carrilho; tudo isto se esfumará aos olhos vermelhos e ramelosos da "opinião pública" (aquela que vota). Pinto-de-sousa (e Amado...) sabem bem estas coisas. Para Manuel-Maria é mais uma "lição" (como se ele não adivinhasse já estas patifarias e não soubesse da coisa...). A parte que lhe cabe de responsabilidade foi ter-se deixado associar a estes criminosos. Acordou mijado.
Quanto a José Medeiros Ferreira, nem sequer sei se é militante do PS. Se é devia desvincular-se já (ele e poucos outros).

Ass.: Besta Imunda

Anónimo disse...

Então e o Ferro Rodrigues, que está colocado há 5 anos num lugar equivalente, não é rodado?