28.4.09

DO "JORNALISMO"


«O jornalismo institucionalizou-se. Os jornalistas arranjam empregos com os políticos, comem à mesa dos banqueiros, frequentam as mesmas lojas, realizam-se com ascensões sociais estranhas à profissão. Muitos jornalistas começaram a fazer parte daquela entidade a que o povo chama "eles". Ao mesmo tempo, os factos foram substituídos por uma sofisticada retórica de "objectividade" e "equilíbrio" - totalitária - e por um processo de intenções ao menor desvio. As notícias já não são julgadas por serem verdadeiras ou falsas, mas por serem "a favor" ou "contra". A realidade foi disciplinada como a classe: não investigarás, dirás o que eu te digo; quando, por azar, não tiver sido eu a dizer-te, escreverás "alegadamente". Não contem comigo para essa merda. Eu faço notícias e olho as pessoas do meu bairro nos olhos.»

Carlos Enes (jornalista da TVI), Fragmentos do Apocalipse

16 comentários:

Mani Pulite disse...

Grande texto.Bravo Enes!É uma honra ser processado pelo Sócrates.Todos os portugueses de bem estão contigo.

Alvaro Soares disse...

DONOS DE ABRIL in http://maquinadelavax.blogspot.com

Tino disse...

Trafulhices?

Do nosso querido engenheiro?

É certamente mais uma campanha para denegrir o nosso Salvador!

:)))

vasco disse...

Muito bem. Eu, que sou do Povo, agradeço.

Anónimo disse...

a respeito da falta de carácter do lixo humano dizia-me o meu avô materno na cada dia mais miserável aldeia alentejana onde nasci
«quem tem pouco, depressa o entorna»

radical livre

observador disse...

Podiam sugerir ao Ministro das Finanças que, à semelhança do enriquecimento ilícito, se puderia também taxar a 60% o "jornalismo ilícito".

joshua disse...

Admirável Enes! Pois devemos todos dizer como e com ele: não contem connosco para essa merda. Não contem connosco nos blogues, nas conversas ocasionais, na vida do dia a dia. Não contem doa a quem doer.

caozito disse...

É, simplesmente, o virus da gripe dos "porcos" que ataca quem discorda, melhor, quem não concorda.

O carácter de "alguma gente" é caca, é esterco.

Preocupante, é o actual/moderno feudalismo ser mais tenebroso, nogento e repugnante do que o da idade média.

António L-M disse...

Carlos Enes é jornalista há muito tempo e já pode dizer estas coisas. Está cheio de sorte. Provavelmente, em 2009, há quem tenha de esperar um bocadinho menos para mudar de profissão se não quiser ser da corte. E a corte, aqui, não é só a dos políticos e dos banqueiros nem dos jornalistas que a adornam. Alguns destes, mesmo os que possam trabalhar nas empresas mais imunes à merda, funcionam, como na Índia, por casta e alimentam-se nela. Alguns destes jornalistas que não compõem a regra (e ainda bem), também trabalham, embora não se note e por isso não saia descredibilizado, ao telemóvel, em grupinho e no "diz-que-disse". De resto, quando eu próprio saí da TVI, uma das primeiras perguntas que ouvi de outro jornalista da TVI foi "então, quem vai para o teu lugar?" (como se eu tivesse um lugar) O nível é este. Nem todos têm o azar de ter 20 anos e, "par delicatesse", não ficar bem dizer o que se tem a dizer.

Anónimo disse...

E eu, que há muito deixei de olhar para os manifestos da "verdade" com a puerilidade e bondade de outros tempos, prefiro perceber como o povo pensa. E o povo está-se a cagar para a forma e o formato dos jornalismos de hoje. O jornalismo é um salão de baile cujo ambiente depende mais de quem entra do que do conjunto que está a tocar.
É por isso que frases como está: "e deitaste por baixo de mim uma vez?", que se pode ouvir aqui - http://www.youtube.com/watch?v=UetaBk9j9io&feature=related - dizem mais sobre a forma como o Santos Silva actua, mesmo que não como "pensa", do que o manifesto "revolucionário" do Enes. Este país está fodido e quem se esgadanha por nele mandar fala mais para o "tio" desta conversa no you tube que para todos aqueles que se vêem ao espelho na conversa do Enes. O resto, meus caros, é apenas entulho. Depende das necessidades do momento: "É proibido vazar entulho" ou, no dia seguinte, "Aceita-se entulho". Eu, por mim, se um dia vejo uma placa a aceitar entulho, descarrego sempre a camioneta, porque isto de andar ao sabor dos alicerces desta marrafada é uma merda.
RIBO

Karocha disse...

Os meus parabéns Carlos enes.

Carlos Enes disse...

Caro Anónimo Ribo:

V. produziu o comentário mais interessante ao meu texto. Chamou-lhe "manifesto revolucionário".

Por "manifesto" só consigo ver nele, quando muito, um "manifesto em defesa das notícias". Não pensei que isso já pudesse confundir-se com uma "revolução".

joshua disse...

«... prefiro perceber como o povo pensa. E o povo está-se a cagar para a forma e o formato dos jornalismos de hoje.» RIBO

O Povo, na boca do PCP, por exemplo, é uma entidade importantíssima antes da Revolução e desprezível depois: números, estatísticas, índices, abstractas irrelevâncias abstraídas.

'Perceber' o Povo é uma velha presunção do PCP e de certos sociólogos/psicólogos behavioristas. O Povo está-se a cagar para quem o julgue perceber. As notícias, como os indivíduos, têm Direitos. Os Direitos Humanos e os Direitos das Notícias coincidem demasiado e, quanto a isso, não há Manifesto nem Revolução que cheguem.

«Não contem comigo para essa merda!»

Essa merda de formatar as notícias aos interesses enclavinhados. Essa merda de rasurar a dignidade e valor da pessoa humana. Essa merda de rasurar a igualdade de direitos entre homens e mulheres, de nações, grandes e pequenas. Essa merda de boicotar o progresso social e melhores condições de vida numa maior liberdade para todos. Essa merda de reduzir a cinzas um mundo de tolerância, de paz, de solidariedade entre as nações e seres humanos, que faça avançar o progresso social e económico por todo o planeta.

Não compreendo que ingenuidade pode haver em proclamar que não devem contar connosco para essa merda!

Obviamente demito-o disse...

O Carlos Enes é um grande jornalista, de vértebra, qualidade que falta à generalidade do jornaleirismo em Portugal actualmente. É de outra geração. Continue com o bom trabalho que desenvolve na TVI que nós que queremos informação independente continuaremos a segui-lo. Cumprimentos.

Anónimo disse...

Caro jornalista Enes, acredite, quando lhe chamo manifesto revolucionário é mesmo um elogio.

Mas, olhe, sugiro mesmo que vá ouvir aquela conversa no you tube que tem o endereço no comentário.

Caro Joshua, quando digo preferir saber como o povo pensa, não estou, cruzes, credo-canhoto, sintonizado no formato histórico que o PCP tem seguido para entender as "massas".

Estou mais interessado em perceber para que gente, se assim preferir, fala hoje o Governo do PS e os seus estrategas. Ou o PSD, vai dar ao mesmo...
RIBO

joshua disse...

Ok, RIBO. Abraço.