18.6.07

I AM NOT MY OWN SUBJECT


Por falar em autofagia, só agora me ocorreu que este Portugal dos Pequeninos - que, verdadeiramente, data do tempo em que o rei fundador deu pancada na mãe e a encarcerou, no que foi um irremediável belo começo - cumpriu há uma semana o seu quarto aniversário. De lá para cá, mudou muita coisa na vida colectiva e alguma coisa na vida privada do autor. No fundamental, Portugal agravou-se em matéria de frequência, de má frequência. O país está mal frequentado um pouco por todo o lado. Os autoctónes não se respeitam nem se sabem dar ao respeito. Respeito por eles mesmos, e não respeitinho, o dos sempre vergados a quem manda, mandem onde mandarem. Má frequência, ainda, pela ausência de elites. O lumpen - o real, o intelectual e o ético - ascendeu a todas as cadeiras. Somos dirigidos por pequenos mestres da suspeita, para recorrer a uma figura simultaneamente da filosofia e de porteira. A sociedade e o país declinam e precipitam-se para qualquer coisa de profundamente mau. A "maioria silenciosa" vai de férias mas não consegue expulsar nas águas e nas montanhas o horror inconsciente de si mesma. A democracia, essa, há muito que está de férias sob o olhar atento e ambíguo de um nadador-salvador que não sabe nadar: Sócrates. "Estou" anti-democrata e sozinho porque não me consinto o gesto de comungar com pulhas. A minha qualidade de vida passa pela distância e por ser impiedoso para com esta vasta sacristia de democratas saídos, como brindes, da farinha Amparo. Por isso este blogue mudou e eu nele. Sei que não foi para meu bem porque a canzoada aprecia a certeza, a sobriedade e a ordem. Eu aprecio isso no direito, que estudei e aplico, mas gosto de resfolegar na não normatividade no resto. Em um ano, só me apareceu um maldito que valesse a pena, e desgraçadamente é francês, apesar de mandar um pouco no mundo. Nós também precisamos de um maldito a sério porque há que expulsar os bandidos que nos crucificam e martirizam. Sempre entendi que não podemos viver sem símbolos. Salazar "regressou" simbolicamente ao arrepio de um canal de televisão controlado de alto a baixo. Talvez para se "redimir", a senhora que organizou o programa acabou na comissão de honra de um candidato à CML que representa - não o homem, mas o político - a nomenclatura contra quem Salazar se bateu uma vida inteira. E não, isto não é um elogio a essa candidatura. É melancolicamente um lamento. Continuamos com a energia dos malditos contra as osgas e o tempo. I am not my own subject.

15 comentários:

Anónimo disse...

Não está sózinho.
Há mais. Muitos mais.
Da minha parte - porque sou o únicio "suject" que conheço um pouco melhor, para além do sofrimento existencial que é nadar nas água que descreve, acrescento a dor e o pânico que provocam as agressões de que somos alvo.
Podemos estar mal e "passar entre os pingos da chuva". Estar mal, mas ter uma casa alta (emprego ou estatuto mais ou menos intocável)em que sendo obrigados a suportar o fedor, ainda não estamos banhados na porcaria.
Mas o pior é quando a nossa condição nos deixa mergulhados nisto, sofrendo tudo o que descreve e vivemos e nos temos ded comportar como os músicos do campo de Aushwitz (?).
Doi muito mais e acaba por matar aquilo que chegámos a vislumbrar ser.

João Melo disse...

força João . parabéns ao P dos P. Carry on

Anónimo disse...

CARO AMIGO

NÃO ÉS O ÚNICO ANTI-DEMOCRATA, TAMBEM O SOU, E " ORGULHOSAMENTE SÓ" MAS ENGANAMO-MOS INFELISMENTE SOMOS MUITOS,MUITOS, SÓ QUE A COMUNICAÇÃO SOCIAL QUER FAZER-NOS CRER QUE ESTE PAIS É DEMOCRATA, COM PERSEGUIÇÕES DIARIAMENTE, VER O DR CHARRUA E O BLOG PORTUIGAL PROFUNDO...EU GOSTAVA DE VIVER EM DEMOCRACIA...MAS NÃO SEI COMO É ESTE DITO REGIME...

UM ABRAÇO

"SEM PALAVRAS"

Anónimo disse...

Bom retrato do País actual.
Também acho que não está sozinho nessa revolta;cada vez mais se vêem pessoas que se sentem enganadas.E,pior,sem perspectivar mudança,sem que nada possam fazer.

Anónimo disse...

Parece o fadinho que pede ao tempo para voltar para trás.
Há sempre saudosos de tudo e mais alguma coisa, mas saudosos da ditadura só conheço os que perderam privilégios, os que são masoquistas e os que estão internados.

Anónimo disse...

parabéns ao blogue e aos seus escritores!

Anónimo disse...

È com prazer que vejo igualdade na maneira de ver o País...
Infelizmente, o que em 74 inventaram, ou melhor copiaram do "estrangeiro", nada de novo conseguiu para este Pais. Nacionalizou-se para mais tarde se privatizar em função do amigo alheio. O resultado e o caminho de todo o Pais é visivel nas cidades como Quarteira...ou Albufeira...essas sim são as cidades filhas do planeamento dominado pela relação da construção e seu financiamento ao meio politico.
E que culpa tenho eu, quando me pedem que siga um regime em que votar pelo "menos mau" é o voto a voto do cidadão?
Chega de pensarmos que a Abstenção se deve apenas á falta de interesse das pessoas no Pais...ela deve-se á falta de identificação que temos com a democracia que uma dada geração escolheu.
Devemos acreditar, que a exma Srª Fátima Felgueiras deve ser o bode espiatório de uma Geração de Abril? Ou será que apenas ouvimos o nome desta senhora pq um dado vereador não satisfeito com a situação monetária proposta decidiu deslocar-se á policia judiciária e denunciar o grande saco azul que Felgueiras tinha? Deve ser concertesa e sem desrespeito a Felgueiras a coisa que mais a trouxe ao mapa....
Será pedir demais que a nossa televisão, paga por todos nós, não seja patrocinada por empresas sub-bancárias de crédito facil tipo 3ºMundo? Ou será que tenho de levar com o Gordo da Credibom, entre o telejornal? Ja que pago....
Aqui está outro belo exemplo em que nos bastava seguir o que se fez na Grecia no ano 300....seguiamos o Sólon e proibiamos o Crédito facil...para que as pessoas não pagassem pela falta de oportunidades e estudos que o Pais lhe criou, para favorecer a banca com penhoras a imoveis faceis....
E por aqui continuaria a criticar a geração que tudo fez e faz...

Anónimo disse...

A maioria dos portugueses tem hoje muito medo! Mais nao seja de existir em Portugal!
Com esta "versao" de democracia eu e muitos "nao ESTAMOS democratas".
Quem pode fazer o "restart"? Nao sei. So sei que quem e democrata quer hoje demacar-se ...deste agrupamento sem nome.
Somos muitos acredite...

Anónimo disse...

De menino do coro a "impiedoso para com esta vasta sacristia de democratas saídos, como brindes, da farinha Amparo"

A vida dá muitas voltas, lá isso...

Anónimo disse...

Amigo João:

O seu blogue representa a consciência de muita gente que neste triste país ainda tem alguma lucidez. E não exagero quando digo muita gente, pois basta consultar as estatísticas de visitadores para constatar esta verdade, uma verdade que, já se sabe, e o João sabe-o bem, é muito amarga para os que não gostam de si. Por isso, não consigo descortinar as razões de certos desencantos que transpiram da sua prosa - aliás belíssima - quando se refere às zézinhas, aos portinhas e aos costinhas da política que por cá se faz, e que lá fora também não é muito diferente. O «lumpen» a que se refere é normal que exista, mas, ao contrário de si, penso que não está para durar. Aliás, a sua própria existência e consequentes desmandos afiguram-se-me como o sinal mais evidente da queda que a curto prazo vão dar. Olhe a França e veja, não a vitória do Sarkozy, que isso já passou, mas sim o comportamento do casal derrotado. Como é que uma sociedade sã pode sobreviver com gente que se separa só por ter perdido umas eleições, e que faz uma peixeirada daquelas só porque não pode ocupar, a dois, o mesmo palco? Que monstros são aqueles que arrastam na sua bulimia pelo poder a família, os amigos, as crenças e sei lá que mais, só porque o vil metal os chama e é preciso ir cada um à sua vidinha, porque ela é curta e só se cá anda uma vez? Acha que uma sociedade constituída por gente deste calibre se vai aguentar? Não! E olhe que nem sequer vai ser preciso dar-lhes aquele empurrãozito piedoso para os ajudar a cair. O espectáculo de autofagia que oferecem é de tal maneira grande, que só de o ver é um deleite. Deleite-se, pois, realçando e continuando a realçar neste blogue as deformidades dessa estirpe doentia, mas faça-o sem melancolias, porque esse é um dos humores que mais pode estragar a festa do brilhante aniversário que consigo hoje comemoramos pela existência do «Portugal dos Pequeninos». Parabéns e que o Moet & Chandon não falte na sua mesa. Quanto mais não seja, porque é um produto da bela, imprevisível e sempre reconfortante França. Bem-haja.

Anónimo disse...

O sentimento de insatisfação é geral apesar de camuflado pela comunicação social e diluido em novelas políticas e não politicas que vão distraindo o povo.
As questões que me inquietam são:
O que é possível fazer para mudar?
Será a democracia um modelo esgotado?

Cumprimentos
LPC

Anónimo disse...

Parabéns João pelo aniversário do teu “Portugal dos Pequeninos” e pela qualidade dos textos e contundência das tuas opiniões.
É um agradável espaço aberto de discussão e troca de ideias e sentimentos por este nosso pequeno Portugal, que um dia voltará a ser grande.
Estão também de parabéns os comentadores que contribuem com contundência, sarcasmo e irreverência para a qualidade geral do blogge.
Continua, anti-democrata, até porque a democracia é hoje um mero conceito abstracto sujeito a manipulações mais ou menos capciosas.
Os liberais, criaram-na como contraposição ao absolutismo, não para que o povo se liberta-se, mas como engodo para que o povo os pusesse no poder.
Manipuladores como sempre, depressa viram a necessidade de manipular a democracia para assim dominarem os governados e, para se eternizarem no poder adquiriram a peçonha das osgas que lhes permite um lugar ao sol nas mais acrobáticas posições .
O contra poder é agora, necessariamente, anti-democratico, anti-liberal e nacionalista.
Um abraço,
R.A.I.

Anónimo disse...

... certamente, os meus parabens ñ lhe interessam ...
... mas fica bem!... PARABENS

MJMatos disse...

Parabéns, JG. Que tenha a paciência de aguentar este barcopor mais akguns anos, é o que lhe desejo.

Pedro Correia disse...

Parabéns, João. Venham mais quatro! Um abraço.