29.3.06

ISTO

Paris "arde". Aqui nunca "arde" nada. Somos uns songamongas. Fomos poupados a todas as guerras, a todo o sangue, a todo o suor. Até o 25/4 foi feito com... flores. Existimos pela graça da nossa etérea bovinidade. Não sabemos dizer "não" a nada, nem que seja só pelo prazer de o dizer. A "massa" só se dá a conhecer nos jogos da bola. Antes assim. Nada pior que matilhas tresmalhadas ou carneiros perdidos pela ruas. Um país de salazarentos, mais do que de Salazar propriamente dito, é uma herança civilizacional pesada na qual não se conhece a força do contraditório e do conflito. Somos apenas isto.

5 comentários:

Anónimo disse...

A "massa" francesa, pelo que se tem visto, também não é coisa de que se deva ter muito orgulho. Por muito justa que seja a causa em causa (e isso dava pano para mangas!), eu não gostaria de ver o meu automóvel, legalmente estacionado, ser metodicamente desfeito e queimado, sob a legitimidade do protesto estudantil! Diga-se o mesmo da minha loja, do meu restaurante, etc..

E a defender esses meus bens, o que teria eu? Uma força policial com ordens para se conter!!

Qual será, em número de carros desfeitos, montras partidas ou lojas esventradas, o limite para o levantamento dessa contenção? Até onde é a selvajaria legítima?

Mais um relevantíssimo valor civilizacional que, humilde e obedientemente, poderemos tentar colher junto da tão iluminada - consta - França!

Por cá... bem, por cá temos a D. Margarida e as suas pretensões que, ao que parece, merecem acolhimento pela Justiça.

Por cá, de nós, está tudo dito!

Anónimo disse...

normalmente não comento comentários...mas o costa merece um esclarecimento:
o estado francês paga os danos causados a propriedade destruida durante as manifestações...pode ficar sossegado!
e, não confunda a luta contra uma lei criminosa com as atitudes de vândalos, mais ou menos instrumentalizados....interrogue-se sobre quantos dos detidos, quantos dos "identificados" eram realmente estudantes , quantos foram presentes a tribunal e quantos foram condenados...
como já disse, fique sossegado...
nesta choldra a bovinidade é a regra!

Anónimo disse...

Meu caro, a forma enfática como me assegura que posso ficar sossegado, comove-me.

Os factos contudo subsistem: uma turba selvagem partiu tudo à sua frente; a polícia "conteve-se" (!), conforme ordens superiores; os bens foram perdidos; a indemnização (ainda bem que existe) há-de vir. Resta saber porque valor - quem o calcula e sob que pressupostos -, quanto tempo demora e que incómodos irá causar, até ser obtida, a quem levava ordeiramente a sua vida (espero que o Estado francês seja aí bem mais expedito do que o nosso).

Quanto à lei em si e ao "crime" que encerra, é a sua opinião. Muito pragmaticamente, o mundo, goste-se ou não, está a mudar e o emprego para a vida, como direito virtualmente absoluto, vai ser uma coisa do passado. A menos que, entre outras coisas, nos encerremos numa "fortaleza Europa".

Entre um primeiro emprego sujeito afinal a um "período experimental" alargado a dois anos, ou emprego nenhum...

Aqueles que agora combatem aquela lei, bem podem ter uma vitória de Pirro à sua frente: tem a lei que querem (ou impedem a que não querem), mas não têm um primeiro emprego!

A menos que se obrigue, à baioneta se necessário, os abomináveis capitalistas a admitir uma quota de "jovens", de tanto em tanto tempo, nem que seja para nada fazer. Seria uma solução para fomentar a entrada no mercado de trabalho...

Paulo Alves disse...

E deixe-me ter orgulho (pelo menos no contexto em que coloca as coisas) em sermos «apenas isto».
Preferiria que citasse Erwan Lecoeur, sociólogo francês, ao Público: «É necessários libertar o mercado de trabalho em França, mas não desta maneira».

Anónimo disse...

Eu só quero saber o que quer dizer BOVINIDADE. Obrigado