24.3.06

A ALMA DO ESTADO

Esta semana falou-se mais de função pública e do Estado do que o costume. Desde logo porque parece que está pronto um relatório de uma comissão qualquer que ingenuamente pretende extinguir e fundir serviços públicos e, imagine-se, acabar com uma série de chefias, como se elas se deixassem “morrer” assim, friamente. Depois, num outro estudo, ficou a perceber-se “em teoria” o que já se sabia “na prática”: que os funcionários públicos portugueses foram os que mais poder de compra perderam na zona “euro” quando comparados com os congéneres próximos. Finalmente houve a percepção de que triplicaram os “pensionistas” do Estado com reformas superiores a quatro mil e muitos euros, destacando-se os provenientes da área da Justiça. Passa-se isto tudo no mesmo país das OPA’s e das contra-OPA’S multimilionárias que fazem o ministro que tutela a administração pública rejubilar de “confiança” na economia. Se, afinal, a “reforma” do Estado ficar vagamente pelo caminho, imolando as suas pequenas vítimas mais desprotegidas e menos reivindicativas, e as OPA’s, com a consequente especulação bolsista de resultados sempre duvidosos, também se perderem na bruma dos gabinetes dos banqueiros, então terá havido demasiado ruído por nada. Todavia o governo tem sempre uma consolação, o fantástico “cartão único” do dr. Costa. De uma assentada, o Estado apropria-se da nossa identidade como se se tratasse de um shampoo multiusos. Quatro ou cinco documentos de identificação pessoal são dissolvidos num “chip” que imediatamente nos pôe a nu perante a “autoridade”, qualquer autoridade. Num país de tradição intimidatória e inquisitorial, pouco dado a liberalismos, o democrático “cartão único” não podia vir mais a propósito. Se passar no Parlamento - já que ninguém, a não ser meia dúzia de lunáticos, parece incomodar-se com a sua emergência – tal significa que os nossos deputados não estão muito preocupados em se erguerem das cadeiras por causa das suas e das nossas liberdades. As “reformas” anunciadas no Estado, as contradições na administração pública. os namoros bancários e o cartãozinho mágico, são árvores que não deixam ver a floresta de enganos em que vivemos. Não é por muito se “imaginar” que a economia medra. E, às vezes, é por demasiada “criação” que a liberdade diminui. Venha o Diabo e escolha.

(publicado no Independente)

1 comentário:

Anónimo disse...

Ah, mas vêm 400 (quatrocentas) medidas de... de... coiso... não me lembro, que nos vão deixar todos embatucados.