22.3.06

ALEGRIA NO TRABALHO

De acordo com o Diário de Notícias, o ministério das Finanças, por e-mail, convidou e depois "desconvidou" os respectivos funcionários a participarem na meia e mini-maratonas de Lisboa do próximo domingo. Aparentemente a coisa não passaria de mero folclore se não se atentasse no teor do "convite" e na "oferta" que o acompanhava. Começa-se por aqueles elogios triviais às virtudes de uma vida saudável, algo que supostamente se adquire pela prática do desporto e que corresponde - repare-se na extrema piroseira terminológica - à "demonstração de vontade de vencer o sedentarismo, de amor à vida e de solidário companheirismo com os milhares de participantes que abraçaram estes mesmos ideais". Encerrada a parte propriamente desportiva da mensagem, o convite passa a tratar da política orçamental do governo ("na política orçamental - "consolidar agora para um futuro melhor" foi o lema que inscrevemos no Orçamento do Estado para 2006 - o esforço de consolidação que estamos a prosseguir é absolutamente necessário para assegurar a boa saúde das nossas finanças públicas no longo prazo") e termina de forma sublime apelando a que os funcionários participem "na 16.ª meia-maratona (ou minimaratona) de Lisboa no dia 26 de Março" exibindo "uma camisola com o dístico "Consolidar agora para um futuro melhor" gentilmente fornecida pelo ministério. Num acesso de bom senso, alguém deve ter reparado que esta "iniciativa" avivava as melhores tradições da ex- FNAT do dr. Salazar, para os mais velhinhos, e da falecida Mocidade Portuguesa, para os mais novos, e acabou com ela. Só no PREC é que ao voluntarioso Vasco Gonçalves ocorreu o "dia de trabalho para a nação", em nome da "revolução". A "alegria no trabalho", associada à propaganda de um regime ou de uma política de um regime, não é própria dos costumes alegadamente democráticos. O recurso ao expediente das camisolas e das corridas para efeitos propagandísticos nada subliminares, não lembra ao careca, como diria o prof. Marcelo. As "campanhas" disto e daquilo, aprendidas nas melhores escolas estalinistas ou maoistas, não resultam em democracia onde os homens não se "mudam" contra a sua vontade, nem por artes mais ou menos circenses. Em democracia, para o bem e para o mal, as coisas são mesmo o que elas são. Não adianta mascarar.

2 comentários:

Anónimo disse...

... que "magnífico" sería se de entre "os" que leem os seus "artigos", uma parte substancial não somente "passasse os olhos" mas "retivesse e apreendesse, na sua essência o conteúdo" dos mesmos
... mais um "brilhante" artigo

Anónimo disse...

... e,

"Uma enorme multidão, poucas pessoas"

do Livro de Baltasar Gracián - Espelho de Bolso p/Heróis"