31.1.06

UM OUTRO MESMO DIA


Meio mundo, nosso e próximo, prostrou-se embotado perante o patrão da Microsoft, o sr. Bill Gates. Nem à pindérica Ordem do Infante D. Henrique a criatura foi poupada. Gates parece que veio dar um empurrão financeiro ao "plano tecnológico" e simultaneamente exercer filantropia. De caminho, parou para ensinar ao governo, aos "altos quadros da administração pública e local" e a outras luminárias dispensáveis a "técnica" da "boa governança" e da boa "gestão" de acordo com o seu cânone. Este comovente interesse por Bill Gates - com direito à parola exibição televisiva das "medidas de segurança" que envolvem o acontecimento - apresenta contornos do foro erótico. Muita gente se terá espremido para estar presente, mesmo que de longe, e "tocar" o homem. O pior da coisa não é Gates, alguém a quem, naturalmente, muito devem os tempos correntes. A assistência é que me preocupa. O que é que tanta "elite" democrática e burocrática pode "beber" da cartilha Gates? O que é que, tudo somado a final, nos conforta e "moderniza"? Escuso-me de lembrar as tentativas, desde as sérias às puramente grotescas, feitas ao longo da nossa história em prol da "modernização" e de um "novo homem", português e mais recentemente cibernético. Suspeito que Bill Gates não imagina com quem é que se veio meter, nem isso lhe deve interessar para o efeito. Daqui parte para outra, designadamente para a Europa a sério, e não se fala mais nisso. As "elites" e os burocratas regressam a casa mais contentes. Afinal, amanhã é um outro mesmo dia.

6 comentários:

Anónimo disse...

Enfim, é "quase" comparável ao VPV na blogosfera portuguesa!...

Anónimo disse...

Boa!
VPV tão pindérico como a ordem Infante D. Henrique e JG...

A.Teixeira disse...

Aquela assistência embevecida tem o mesmo cariz ridículo que por aqui se nota na atitude dedicada ao acolhimento da chegada de VPV à blogosfera.

"Ninguém vê o argueiro no seu olho, nem que ele seja como uma tranca"

João Gonçalves disse...

Eu frequentei um quartel, durante o "s.m.o", cujo lema era "morte ou glória". Quer isso dizer que estou habituado a gostar ou a detestar, sem muito espaço para as meias-tintas. E eu gosto, de facto, do VPV. Do que ele escreve. E do que disse Gore Vidal numa entrevista quando lhe perguntaram se levava a sério o que alguns pensavam dele. Vidal respondeu que, para ele, importante era o que ele pensava deles.

Anónimo disse...

Eu também vou acompanhando os escritos de VPM. E não desgosto nada. O meu ponto é um certo ar de "ai jesus" que corre pela blogosfera pelo entrada em cena de tão ilustre actor!

Rui Castro disse...

Só faltava mesmo terem declarado dia feriado!